Em um raro momento de sinceridade, o presidente interino da Ucrânia Turchynov admitiu que suas forças eram “impotentes” para sufocar a revolta no Leste da Ucrânia, enquanto a insurgência pró-russa se encontra em ascensão. Além disso, ele admitiu que as forças de segurança ucranianas não são confiáveis e que “algumas dessas unidades ou ajudam ou cooperam com grupos terroristas”. Agora, o objetivo seria evitar que a insurgência pró-russa se espalhe para as regiões de Kharkov e Odessa. Isto equivale a uma declaração de derrota.
Sequer duas semanas se passaram desde o “histórico” acordo de Genebra de 17 de abril entre o governo ucraniano, a Rússia, a União Europeia e os EUA. Este acordo foi recebido pela mídia Ocidental com um suspiro coletivo de alívio e aclamado como um avanço na desmontagem da crise ucraniana. Na realidade, muito além desta barragem de propaganda e de falso otimismo, não se pode deixar de perceber o nervosismo dos funcionários dos EUA e o sorriso mordaz de sua contraparte russa. De fato, não houve nenhum acordo, a não ser os EUA abandonar quaisquer reivindicações sobre a anexação da Criméia pela Rússia, que agora é um fato indiscutível.
Os inflamados discursos de Mr. Kerry de que “haverá consequências!” apenas agitaram o ar circundante. Manobreiro consumado, Putin está movendo suas peças no tabuleiro de xadrez diplomático com a habilidade de um Grande Mestre. Os pontos conquistados pela diplomacia russa no jogo de poder em torno da Ucrânia estão desafiando a paciência dos imperialistas EUA, mas estes últimos somente tiveram êxito em se colocar em uma posição insustentável. Suas ameaças vazias não dissuadem a Rússia porque não podem ser respaldadas por ações sérias.
Parece incrível que os americanos pudessem imaginar que podiam se sentar em torno de uma mesa em Genebra, trocar sorrisos e conversas afáveis com o outro lado, e conquistar por meios diplomáticos o que não puderam conquistar no terreno. Esta tola ilusão subestimou seriamente tanto a determinação de Moscou quanto o equilíbrio real de forças na Ucrânia. No final, o acordo ficou reduzido a papel rasgado antes que a tinta secasse.
O acordo negociado em Genebra proclamava ruidosamente que todos os prédios governamentais ocupados por insurgentes pró-russos no Leste da Ucrânia deviam ser evacuados e que os grupos armados deviam entregar suas armas. Esta conversa ruidosa foi o verdadeiro combate! Contudo, não havia nenhuma menção nas entrelinhas de quem supostamente iria fazer cumprir esta decisão na prática, e nada do combinado aconteceu.
Poucas horas após o anúncio ser feito, Denis Pushilin, chefe da autoproclamada República Popular do Donetsk, encolheu os ombros e rejeitou o acordo, brandindo o argumento de que o governo ucraniano era ilegal, e agregou, com uma forte dose de ironia, que ficariam encantados em cumprir o acordo se o governo evacuasse os prédios ilegalmente ocupados em Kiev. A mesma atitude desafiante ressoou nos postos avançados dos rebeldes através de toda a área de Donetsk, encorajados pelas vitórias conquistadas no terreno.
Derrota humilhante do exército ucraniano
O que o circo em Genebra estava tentando encobrir era o embaraçoso fracasso do governo ucraniano em 16 de abril de recuperar o controle dos postos avançados dos rebeldes em Sloviansk e Kramatorsk. O ataque veio após dias de ultimatos que nunca foram aplicados. Uma massiva campanha de propaganda governamental para demonstrar que as “milícias terroristas” e o envolvimento direto da Rússia estavam por trás da insurgência no Leste claramente saiu pela culatra. Isto pode ter produzido o efeito de estimular um clima de beligerância histérica entre a vociferante opinião pública da minoria de nacionalistas ucranianos. Mas esta rapidamente desinflou e se transformou em raiva e frustração ante o evidente fracasso do governo de fazer acompanhar seus duros discursos com ações igualmente duras.
Por outro lado, as mensagens ameaçadoras emitidas de Kiev tiveram um efeito eletrizante sobre a população do sudeste da Ucrânia. As pessoas das regiões predominantemente russo-falantes se sentiram alarmadas com a ameaça implícita de um ataque de um exército sob as ordens de um governo que a maioria delas considera ilegítimo. Mas os dias se passavam e os rugidos beligerantes vindos de Kiev não se acompanhavam de nenhuma ação. Claramente, o governo não estava confiante de que suas próprias tropas pudessem ser utilizadas para fazer o seu trabalho sujo no sudeste. Eventos subsequentes demonstraram que esta sua apreensão era bem fundamentada.
As tropas e veículos blindados ucranianos finalmente tentaram entrar em duas cidades no início da manhã, em 16 de abril. Mas esta pretendida demonstração de força imediatamente se transformou em demonstração de fraqueza. Os veículos blindados foram cercados pela população irada, que lançava desafios e insultos aos soldados ucranianos confusos e desalentados.
Um comandante de tanque foi visto fazendo chamadas telefônicas desesperadas ao seu oficial de comando: “Estou cercado por um grande número de pessoas. O que devo fazer?” A resposta do oficial de comando não é conhecida, mas nenhum tiro foi dado e no final os carros blindados foram abandonados à multidão eufórica. Um soldado ucraniano gritou do alto de um tanque: “Sou contra tudo isto”, em seguida pulou de seu veículo e se juntou aos manifestantes. Seus companheiros logo seguiram seu exemplo e em questão de minutos a demonstração de força chegou ao fim.
Resta ver se as forças armadas ucranianas podem estar preparadas para confrontar uma invasão russa, mas os soldados comuns ucranianos certamente não estão preparados para abrir fogo sobre seu próprio povo. Durante toda a manhã, reportagens e vídeos estiveram circulando pela mão de jornalistas independentes ou pela mídia social mostrando os desmoralizados soldados ucranianos abandonando seus taques e armas, marchando de cabeças baixas na frente de centenas de irados residentes locais comuns e de alguns mal armados milicianos rebeldes (ver: Ukraine’s Attempt To Retake The East Fails Miserably).
As forças armadas ucranianas foram enviadas sem qualquer preparação séria. Muitos dos soldados que foram enviados contra os insurgentes eram de uma região vizinha e alguns deles se queixavam de que não recebiam alimentação há semanas. As consequências desta humilhação, que se tornarão mais evidentes no próximo período, produzirão efeitos duradouros. A autoridade do governo sobre os oficiais e as tropas, que nunca foi particularmente forte, agora atingiu novos mínimos aos olhos das fileiras dos soldados e mesmo entre os oficiais de nível mais alto.
A hipocrisia do Ocidente
A campanha na mídia Ocidental que tenta culpar à Rússia por tudo exala hipocrisia. Os porta-voz da Casa Branca se referem solenemente aos princípios da lei internacional que proíbem a intervenção de nações nos assuntos de outras nações, para condenar as ações de Moscou na Criméia, e de alguma forma conseguem fazer isto com a cara séria. Como o estupro brutal do Iraque e do Afeganistão pôde ser realizado conforme estes mesmos princípios, é coisa que permanece misteriosa. Por outro lado, sempre foi negócio da diplomacia enquadrar o círculo; assegurar que preto é branco; e fazer os pronunciamentos mais ultrajantes sem se ruborizar.
Por mais de duas décadas, o imperialismo americano vem enlouquecendo o mundo, invadindo países, derrubando governos, intimidando Estados soberanos e espionando seus aliados, bombardeando, matando, torturando e geralmente lançando toda sua força disponível. Tudo isto naturalmente em plena conformidade com os princípios da lei internacional. Mas que ninguém tente transgredi-la: Washington imediatamente lançará um tremendo alarido. Comporta-se como um valentão de escola que se acostumou a abrir seu próprio caminho, mas que, quando leva um murro no nariz, vai correndo para o professor reclamando de que foi vítima de um ataque inesperado.
Os estadunidenses são culpados de flagrante dois pesos, duas medidas. Apoiaram ativamente a derrubada do governo de Yanukovych, que apresentaram (como sempre, nesses casos) como um movimento pela democracia, apesar do fato de elementos abertamente fascistas desempenharem um papel chave nele. Agora, quando o povo do sudeste da Ucrânia assumiu o controle do governo local e expulsaram os representantes de Kiev pelos mesmos meios, estão insistindo que é um ato ilegal e obra de agentes russos.
Os trabalhadores do sudeste da Ucrânia não tinham nenhuma ilusão com Yanukovych, mas são fortemente hostis ao novo governo em Kiev, cuja primeira ação foi revogar a lei que dava à língua russa status de língua oficial em nível regional. Isto foi como um pano vermelho na frente de um touro para os ucranianos russo-falantes. A revolta foi tamanha que o presidente interino Turchynov foi obrigado a declarar que iria vetar o projeto de lei revogando a lei dos idiomas.
Para piorar a situação, o nível de vida se reduziu e os preços subiram, particularmente o do combustível. Adicionando insulto à injúria, os oligarcas ligados à nova camarilha no poder em Kiev foram rapidamente nomeados governadores nas regiões do Sul e do Leste. Dessa forma, o terceiro homem mais rico do país, Kolomoisky, foi nomeado como governador de Dnipropetrovsk, enquanto Serhiy Taruta, o 16o homem mais rico do país, foi nomeado governador de Donetsk. Em consequência, há um fervilhante descontentamento. Toda a região se tornou um barril de pólvora somente à espera de uma fagulha para explodir. Não foi o Kremlin que acendeu o barril de pólvora, e sim as ações da camarilha governante de Kiev e seus amos imperialistas.
Durante muitos meses a mídia Ocidental tentou pintar o chamado movimento Maidan de cores róseas, como um movimento pela “democracia”. A mídia Ocidental, sem nenhuma vergonha, ocultou o papel dirigente desempenhado por organizações abertamente fascistas e nazistas na derrubada de Yanukovych. Elementos fascistas estão presentes no governo de Kiev e ditam muitas de suas políticas, inclusive a tentativa de banir o idioma russo. Eles começaram a reescrever a história apresentando os Banderistas, que colaboraram com os nazistas e perpetraram atrocidades contra russos, poloneses e judeus durante a Segunda Guerra Mundial, como heróis nacionalistas. Os reacionários em Kiev assinalam quem não concorda com eles como “escravos” ou lacaios dos russos. A deputada de Lviv, na Ucrânia Ocidental, Iryna Farion, gosta de se referir aos russo-falantes como “criaturas”.
Nenhum político ocidental escaparia impune com este linguajar. Contudo, as pessoas no Ocidente, que confiam nos informes de imprensa dos meios de comunicação, não podem ter a menor ideia de como a reação foi longe na Ucrânia. Portanto, quando veem informes de homens armados cercando prédios governamentais no sudeste do país, a única explicação que lhes é dada é que tudo é obra de forças sinistras enviadas por Moscou.
Kiev, Lviv e outras cidades do Oeste Ucraniano estão nas garras do Terror Branco. Os comunistas são espancados e seus escritórios saqueados e incendiados pelas gangs fascistas. Por exemplo, os escritórios do Partido Comunista (KPU), em Kiev, foram saqueados por bandidos de extrema-direita do neonazista Setor Direito e das “Autodefesas” de Maidan, em nove de abril e mais tarde naquela noite sofreram ataques incendiários. Escritórios do KPU também foram atacados em Lviv e outras cidades. Membros do Parlamento do partido de extrema-direita Svoboda (que faz parte do novo governo) espancaram o diretor da estação estatal de TV e o forçaram a se demitir. Os mesmos parlamentares do Svoboda espancaram o líder do KPU, Symonenko, quando ele discursava na Rada criticando os nacionalistas de direita. Oleg Tsarev, um candidato à presidência que diz representar as regiões Sul e Leste, foi espancado por bandidos de extrema-direita depois de uma aparição na TV e, em seguida, mais uma vez, quando visitava Mikolaviv.
Em 27 de abril, uma marcha em Lviv marcou o aniversário de fundação da divisão SS Galícia de voluntários ucranianos, responsáveis pela realização de assassinatos em massa de judeus e outros. A marcha foi organizada pelo Svoboda, que é o primeiro partido na região e, como dissemos antes, faz parte da coalizão de governo em Kiev.
De tudo isto, nem uma simples palavra é publicada na imprensa Ocidental. Esta ultrajante conspiração de silêncio sobre o reino de terror na Ucrânia Ocidental contrasta com os informes descaradamente distorcidos e unilaterais sobre “terrorismo”, “agentes russos” e “separatistas” no Sudeste.
Não somente o partido de extrema-direita Svoboda faz parte da coalizão dominante, como também um de seus membros, Oleh Makhnitskiy, ostenta o cargo de Procurador-Geral. Andriy Parubiy, fundador do neonazista Partido Nacionalista-Social, então respeitável político burguês de direita e “comandante das Autodefesas de Maidan”, é agora o Secretário de Segurança Nacional e do Conselho de Defesa.
Os fanáticos nacionalistas pequeno-burgueses da Ucrânia Ocidental são guiados por um ódio cego por tudo que é russo. Mas não oferecem nenhuma solução para os incandescentes problemas do povo ucraniano. O sonho de que a Ucrânia poderia resolver seus problemas se aproximando do Ocidente foi imediatamente exposto como uma ilusão sem esperança. A ajuda prometida pelo Ocidente para apoiar seus fantoches em Kiev (em todo caso, uma quantia miserável) chegou sob condições. Estão exigindo “reformas”, o que significa reduções cruéis no nível de vida e nos serviços sociais. O ministro das finanças Oleksandr Shlapak já prometeu uma “reforma estrutural” e “reduzir o déficit orçamentário” – e não há necessidade de se falar grego para se saber em detalhes o que é um Memorando do FMI-UE!
Tudo isto afasta ainda mais os homens e mulheres trabalhadores de Donetsk, Lugansk ou Kharkov, que agora olham com inveja os salários mais altos e as melhores condições de seus homólogos na Federação Russa. Portanto, os chamados patriotas ucranianos conseguiram interpor uma sólida cunha entre o Oeste e o Leste da Ucrânia, que pode ameaçar a própria existência da Ucrânia como nação.
A situação se deteriorou a este ponto, e a população do sudeste está tão irritada e descontente que qualquer tentativa do governo de Kiev de recorrer à violência contra ela resultaria em uma guerra civil muito sangrenta. Até agora, todas as tentativas do governo ucraniano para afirmar sua autoridade no sudeste têm terminado em farsa.
Insurreição no Sudeste
Aqueles que pensam que é a Rússia que está puxando os cordões no Sudeste da Ucrânia são vítimas de um grave desconhecimento das complexidades da região, de sua composição nacional e social e de suas relações históricas com a Rússia. A região do Donbass compreende 10% da população da Ucrânia, mas produz 25% das exportações ucranianas. Seus habitantes, na maioria pessoas de fala russa, são em sua maioria proletários em sua composição, trabalhando em minas, nas aciarias, nas plantas químicas e nas fábricas de maquinarias. Eles estão profundamente desconfiados dos movimentos para tirar a Ucrânia da esfera de influência russa e colocá-la sob o controle do imperialismo Ocidental. De um ponto de vista econômico, a integração da Ucrânia na União Europeia significaria a ruína de suas indústrias, que dependem pesadamente das exportações ao mercado russo.
Os trabalhadores em Donetsk não necessitam de Vladimir Putin para lhes dizer que suas indústrias serão fechadas se a Ucrânia se juntar à UE. Eles podem ver o que aconteceu em países como a Hungria, a Romênia ou os Estados Bálticos, que se juntaram à UE. Por outro lado, a integração da Rússia na economia capitalista mundial levou-a à exportação de recursos naturais, com o resultante fechamento de milhares de fábricas. O problema aqui não é um problema nacional, mas um problema do próprio sistema capitalista. A ruína econômica, o desemprego em massa e o alto custo de vida afetam a todos: os ucranianos, russos, armênios ou húngaros étnicos – todos são vítimas da crise do capitalismo e do governo dos oligarcas.
Aos problemas econômicos devemos adicionar a questão da opressão nacional ou linguística. Do ponto de vista dos russo-falantes, a dominação dos nacionalistas ucranianos baseados na parte ocidental do país representa uma ameaça potencial ao status do idioma russo, e a probabilidade de que as pessoas no sudeste se tornem uma minoria nacional oprimida e cidadãos de segunda classe em seu próprio país. Portanto, é realmente surpreendente que elas tomem medidas para se defenderem?
É isto uma repetição da Criméia?
Washington afirma que a tomada de prédios governamentais foi realizada por soldados profissionais bem armados. Mas a evidência não apoia estas alegações. Embora não seja impossível que agentes russos tenham estado ativos na região (de fato, seria surpreendente se não fosse assim – assim como seria surpreendente que a CIA não estivesse ativa em Kiev), os informes provenientes da cobertura da televisão e da imprensa indicam que estas ações são obra do povo local e dos grupos locais de milicianos. O fato de que eles estão “bem armados” dificilmente pode surpreender diante do fato de que as bases do exército e as estações policiais foram invadidas e suas armas apreendidas. De fato, em muitos casos a polícia local se passou para o lado dos rebeldes, levando suas armas com ela.
Tampouco está claro que Putin tenha realmente a intenção de enviar suas tropas além da fronteira. A revista Time cita Vyacheslav Ponomariov, um fabricante de sabão que assumiu o título de “prefeito do povo” depois de tomar o poder em Sloviansk: “Precisamos de armas, você entende? Estamos ficando sem tudo, só nos resta o espírito”; ele se declarou pela ajuda da Rússia, mas aparentemente tem sido ignorado. Times comenta:
“Sua força miliciana, como ele admite, é composta parcialmente de voluntários que vieram da Rússia, da Bielo-Rússia, do Cazaquistão e de outras partes da antiga União Soviética. Mas os protestos de Kiev sobre uma insurgência separatista alimentada com dinheiro, armas e tropas do governo russo estão fora de sintonia com a realidade em Sloviansk.
“Lutadores bem armados como Mozhaev compõem uma pequena minoria das forças de Ponomariov, talvez umas poucas centenas de homens no máximo, com uma parte equitativa de cossacos entre eles. Conhecidos como “os homens verdes”, por causa do uniforme de camuflagem que usam, esses milicianos não são tão adestrados e equipados como as tropas russas que ocuparam a Criméia no mês passado. Se há presença militar russa atualmente em Sloviansk, ela se mantém fora da vista do público”. (Exclusive: Meet the Pro-Russian Separatists of Eastern Ukraine, Time, April 23)
Os elementos ativos na tomada dos prédios do governo local representam um número relativamente pequeno – talvez alguns milhares ao todo. Contudo, esta não é a questão decisiva. O elemento mais importante na equação é a atitude da maioria da população. Mesmo que eles não tenham uma participação ativa na insurreição, está claro que a maioria do povo olha para as ações dos insurgentes de forma favorável. Não existe nenhum informe de grandes manifestações de apoio ao governo de Kiev ou qualquer movimento sério para expulsar os rebeldes dos prédios ocupados. E no caso de um ataque das forças enviadas de Kiev, esta simpatia passiva se transformaria muito rapidamente em raiva e apoio à intervenção militar russa.
Uma pesquisa de opinião conduzida no início de abril pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev em oito regiões do Sul e do Leste da Ucrânia, deu uma visão muito interessante do sentimento das massas. Como um todo, nas oito regiões, 69% das pessoas consideram o presidente Yanukovych como ilegal; 49,6% consideram o governo de Yatsenyuk como ilegítimo (e outros 13%, como parcialmente ilegítimo), com este índice passando a 72% em Donetsk e 70% em Lugansk. Em relação à forma de Estado que preferem para a Ucrânia, 45% estão a favor da descentralização do poder com adicionais 24,8% a favor da federalização, e mais de 86% apoiando o princípio da eleição de governos regionais (em oposição às nomeações de Kiev). Quanto às relações com a Rússia e com a União Europeia, 42% apoiam aderir a uma união aduaneira com a Rússia (aumentando para 72% em Donetsk e para 64% em Lugansk), em oposição aos 24% que apoiam a adesão à União Europeia.
Talvez a questão mais interessante, que mostra o potencial para uma alternativa com base de classe, é a relativa aos bens dos oligarcas. Em todas as oito regiões, 41% dizem que os bens adquiridos ilegalmente pelos oligarcas devem ser nacionalizados, mas adicionais 24% dizem que todos os seus bens devem ser nacionalizados, com somente 4% respondendo que a propriedade privada deve ser respeitada.
Em 19 de abril, a revista Time publicou o seguinte, o que dá uma ideia do estado de espírito da maioria passiva:
“Deduk, a advogado local, não tinha tanta certeza. Sentado em um banco com seu filho Stepan à margem da manifestação, ela disse que a maioria das pessoas que conhece se contenta em ficar sentada, e que se a Rússia chegar e conquistar a região com fez com a Crimeia no mês passado, eles provavelmente encolheriam os ombros e aceitariam isto como seu destino. ‘As pessoas se esquecem de todos os horrores que enfrentamos sob Moscou durante a União Soviética’, disse ela. ‘O que todos eles se lembram é que os salários eram pagos e o serviço médico, grátis’”. (Donetsk Greets the Ukraine Crisis With a Shrug, Time, April 19)
O que quer Putin?
A turbulência no Leste da Ucrânia aumentou os temores no Ocidente de que a Rússia pode repetir sua tomada da Crimeia. A presença de 40 mil soldados russos na fronteira proporciona peso considerável a estes temores, e à esta presença o Ocidente não tem nenhuma resposta possível. Sua impotência foi revelada de forma burlesca quando a OTAN recentemente despachou uma massiva força de não menos de 600 soldados estadunidenses – aos Estados Bálticos! Em primeiro lugar, não há em absoluto nenhuma indicação de que a Rússia tem qualquer intenção de invadir os Estados Bálticos, e, se houvesse, é um pouco duvidoso que a presença de 600 marines, mesmo que todos fossem iguais a Rambo, pudesse fazer a menor diferença. Este é um exemplo de quanto é elevada a idiotia diplomática e militar.
Em todo caso, parece provável que os objetivos de Putin são mais limitados e mais sutis que isto. De fato, as ações da Rússia não são ofensivas, mas de caráter defensivo. Desde a queda da URSS, o imperialismo EUA vem dando prosseguimento a uma estratégia de longo prazo de separar uma ex-república soviética após outra da esfera de influência da Rússia. Mas, agora, no caso da Ucrânia, Moscou resolveu dar uma encarada. A Rússia está dizendo ao Ocidente: “Alto, nem mais um passo!”. Está determinada a impedir que a Ucrânia escape da órbita econômica e militar da Rússia.
Os americanos e a União Europeia querem obter o controle da Ucrânia, enquanto os russos desejam mantê-la em sua esfera de influência. O objetivo do Ocidente é mais difícil de ser realizado, enquanto que o da Rússia é de longe mais fácil. Eles não têm que invadir a Ucrânia, uma vez que têm muitas outras armas em seu arsenal, especialmente as econômicas. Com a finalidade de apresentar suas políticas de forma razoável, o Kremlin apresentou uma demanda que parece ser muito moderada: a adoção de um sistema federal de governo dando muito mais poder aos governadores por toda a Ucrânia.
Essa estrutura iria enfraquecer o governo central em Kiev, e garantir que a Ucrânia não será anti-Russa. Na prática, isto equivaleria a uma Filandização da Ucrânia. Qual seja o governo que chegue ao poder em Kiev, não poderia fazer nada sem levar em conta a opinião de Moscou. E não haverá absolutamente nenhuma dúvida de a Ucrânia nunca se unirá a OTAN ou à União Europeia. Contudo, por mais intragável que isto possa ser para Washington e Bruxelas, é agora o melhor que eles podem esperar.
E agora?
O que vai acontecer nas próximas semanas é impossível de se prever com certeza. A única coisa certa é que o imperialismo já sofreu uma derrota e não vai ser capaz de se recuperar.
Há uma série de diferentes opções – nenhuma delas muito apetitosa para o Ocidente. A primeira possibilidade depende dos resultados das próximas eleições presidenciais. A Rússia já conseguiu desestabilizar essas eleições em grande extensão lançando dúvidas sobre a legitimidade de quem for eleito. O novo regime será fraco e estará sob pesada pressão de Moscou. Se a Rússia não pode ganhar um candidato do seu agrado, seguirá adiante pressionando com sua demanda por uma constituição federal que pode lhe permitir exercer o poder de veto sobre política externa, econômica e militar.
Até agora, nenhum candidato é publicamente aliado de Moscou. Mikhail Dobkin, o candidato do Partido das Regiões (o partido de Yanukovych) seria o favorito de Moscou, mas tem poucas chances de ganhar. Por outro lado, há Yulia V. Tymoshenko, que era um dos líderes da chamada Revolução Laranja, mas que convenientemente forjou uma relação próxima de trabalho com Vladimir Putin quando era primeira-ministra. Até agora ela tem se mantido nos bastidores, mas pode ser que no futuro seja colocada a frente como candidata de “compromisso”.
De qualquer forma, nenhum líder ucraniano se atreverá a desafiar Putin, que tem suas mãos no suprimento de petróleo e gás e 40 mil soldados na fronteira, e uma influência dominante sobre uma grande parte da população ucraniana. Ademais, as economias da Rússia e da Ucrânia estão integradas inseparavelmente: um terço das exportações da Ucrânia vai para a Rússia.
A segunda possibilidade é ainda pior para o Ocidente. Se o governo de Kiev é incapaz de reconquistar o controle de suas regiões orientais, isto poderia acabar em uma situação similar a que ocorreu na Crimeia. Se o povo do Leste e do Sul celebrassem um referendo sobre a conveniência de se juntarem à Rússia, o resultado seria quase certamente a maioria pela secessão. A Ucrânia como a conhecemos deixaria portanto de existir.
Manifestantes em Donetsk já anunciaram que iriam celebrar um referendo em 11 de maio. Contudo, é notável que Moscou não tenha endossado imediatamente a proposta. Putin está se comportando cautelosamente, mantendo todas as opções em aberto. Se pode alcançar seus principais objetivos sem o pesado custo de uma ação militar ou tomando o controle de uma economia ucraniana em bancarrota e pagando as contas, ele obviamente preferiria isto. Contudo, a inerente instabilidade da situação significa que ele não é totalmente livre para decidir.
Isto nos leva à terceira possibilidade: uma invasão em grande escala. É isto provável? Durante meses, a mídia Ocidental esteve gerando uma campanha de propaganda histérica sobre a suposta agressão militar russa na Ucrânia. Contudo, tal agressão militar até agora não se materializou. As tropas congregadas no lado russo da fronteira foram postas em cena com uma série de manobras nas proximidades da fronteira ucraniana, mas só isto.
As últimas declarações dos estadunidenses e dos russos parecem sugerir que por trás do cenário estão tratando de chegar a um compromisso. Ontem Putin declarou que a Rússia não tinha nenhuma intenção de invadir a Ucrânia. É possível que isto seja um farol. Antes de cada guerra os dirigentes dos estados contendentes sempre fazem declarações similares antes de lançar um ataque. Contudo, neste caso não há nenhuma razão para se duvidar da sinceridade das intenções de Putin.
Neste momento, Putin não tem necessidade de invadir a Ucrânia, visto que já logrou seu principal objetivo. Quem quer que se encontre à cabeça do governo de Kiev agora deve entender muito claramente que não pode fazer nada sem a permissão de Moscou e que todas as declarações altissonantes de solidariedade da parte de Washington e de Bruxelas não valem praticamente nada quando se trata de enfrentar a Rússia.
No entanto, como explicamos em artigos anteriores, o desenlace da crise da Ucrânia tem uma lógica própria, e que não pode ser facilmente controlada por Kiev, Moscou ou Washington. Quanto mais débil o governo de Kiev, mais inclinado estará em recorrer a medidas desesperadas. Enfrentado à desintegração potencial do exército ucraniano, o governo de Kiev começou a reunir uma força armada alternativa. A Guarda Nacional já aumentou seu número mediante a incorporação das Autodefesas de Maidan e de outros grupos paramilitares armados. Se isto não fosse suficiente, o Ministério do Interior anunciou a criação de unidades territoriais ou batalhões de autodefesa, compostos pela escória da sociedade ucraniana: fascistas, ultranacionalistas, lúmpens, delinquentes e todo tipo de aventureiros dispostos a assumir as ações mais extremas e brutais que os soldados rasos se negariam a realizar. Os nazistas do Setor Direito já anunciaram que se unirão ao Batalhão Donbass a fim de “lutar contra os separatistas”.
Esta medida é a expressão do desespero que nasce da impotência. Não é difícil imaginar o que uma milícia armada como esta poderia fazer se fosse enviada ao Sudeste da Ucrânia. O espectro da Iugoslávia levanta sua feia cabeça: massacres e limpeza étnica, uma vaga de refugiados para o Leste e para o Oeste e todas as consequências inevitáveis da guerra civil. Nestas condições, quaisquer que sejam as intenções de Vladimir Putin, uma intervenção russa seria inevitável.
As consequências para a Rússia
Uma invasão pela Rússia seria um assunto muito arriscado para Vladimir Putin. Sua popularidade se elevou a mais de 70% depois da anexação da Crimeia. Mas isso se logrou sem violência e sem a perda de um único soldado russo. Os habitantes da Crimeia deram as boas-vindas ao exército russo como libertadores e esta foi a impressão que se oferece à grande maioria do povo russo. Depois de décadas de humilhação nacional, o povo russo exalou um suspiro de alívio coletivo. Vladimir Putin pôde desfrutar do brilho do sol da aprovação da opinião pública russa – pelo menos por enquanto.
Muitos da esquerda na Rússia se encontram em um estado de ânimo de depressão profunda. Veem o surgimento do sentimento nacionalista no seio da classe trabalhadora e entram em desespero. Mas a esquerda russa, no geral, está completamente divorciada da classe trabalhadora e não pode encontrar uma linguagem comum com ela. Não é verdade que os operários russos se tenham convertido em reacionários porque expressem simpatia por seus irmãos e irmãs oprimidos da Ucrânia e sua hostilidade em relação ao fascismo ucraniano.
Por outro lado, o estado de ânimo da sociedade pode mudar rapidamente. Em 1914, o estado de ânimo patriótico da sociedade russa era muito mais pronunciado do que é hoje, e, no entanto, somente três anos depois, os mesmos trabalhadores que levantavam a bandeira czarista agitavam a bandeira vermelha e lutavam pelo poder soviético.
Embora o exército russo, sem dúvida, infligiria uma dura derrota ao exército ucraniano em uma guerra, a vitória não lhe sairia barata como na Crimeia. Haveria muitas baixas russas e muita coisa pior estaria por acontecer. A amargura e o ódio nacional gerados em um conflito deste tipo duraria por gerações e produziria frutos venenosos na forma de atos terroristas e atrocidades. A experiência da Chechênia mostra que uma vitória militar pode ser mais custosa que uma derrota.
As consequências econômicas, não somente para a Rússia e Ucrânia, mas para todo o mundo, seriam incalculáveis. A suposta recuperação da economia mundial é anêmica e frágil. O auge febril nos mercados de valores é reflexo da especulação financeira desenfreada, e não de um crescimento econômico sólido. A bolha especulativa pode explodir a qualquer momento, mergulhando a economia mundial em uma profunda recessão. Os mercados odeiam a instabilidade de qualquer tipo e uma invasão russa da Ucrânia seria, sem dúvida, o sinal para uma corrida desenfreada nos mercados financeiros. A mais afetada seria a própria Rússia.
Putin pode se permitir o luxo de rir das lastimáveis “sanções” ameaçadas covardemente pela União Europeia, mas ele deve estar seriamente alarmado com a saída de capitais dos mercados russos (60 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2014) e com a queda do rublo. A economia russa já se encontra em recessão (depois de haver caído 0,3% no primeiro trimestre de 2014). O custo financeiro de uma invasão e uma queda severa da economia russa poderiam reverter rapidamente seu nível de aprovação favorável – um tema muito próximo ao seu coração. O herói da Crimeia rapidamente se transformaria no homem que causou a ruína da Rússia. Uma crise econômica teria um efeito moderador sobre a classe operária russa e abalaria e dissiparia rapidamente os vapores da intoxicação patriótica. O terreno estaria preparado para um novo auge da luta de classe na Rússia. Esta é a explicação da repentina e surpreendente conversão de Putin ao “pacifismo”.
Nós condenados as ações reacionárias e hipócritas dos imperialistas ocidentais no que se refere à Ucrânia. Estão ditadas unicamente pelos interesses egoístas dos imperialistas estadunidenses e de seus títeres em Bruxelas e Berlim. Não têm nenhum interesse no destino do povo da Ucrânia que um mero peão em seus cálculos cínicos.
Mas seria um grave erro ter ilusões nas intenções de Putin e da camarilha do Kremlin. Estão utilizando o desejo natural da população russo-falante do sudeste da Ucrânia com o fim de exercer pressão sobre o governo de Kiev. Também buscam controlar a Ucrânia e proteger “os interesses da Rússia”; ou seja, os interesses dos grandes oligarcas capitalistas que saquearam a Rússia, da mesma forma que os oligarcas ucranianos (tanto os de fala ucraniana quanto russa) saquearam a Ucrânia. A classe trabalhadora não pode dar nenhum tipo de apoio a ninguém, e sim deve manter a todo momento uma posição de classe independente.
Nacionalismo ou luta de classes?
Nas últimas semanas, inclusive a imprensa ocidental se viu obrigada a admitir que, enquanto o Movimento Maidan estava composto predominantemente por elementos de classe média e da pequena burguesia, o movimento no sudeste do país tem uma sólida composição operária. As recentes greves dos mineiros da região do Donbass são uma indicação das possibilidades de uma ação de classe independente.
No entanto, a questão nacional ameaça cortar pela metade a luta de classes, o que leva à possibilidade de que o movimento de massas no sudeste do país seja manipulado por elementos sem escrúpulos e pelos oligarcas de fala russa que vão jogar a carta nacional para a defesa de seus próprios interesses egoístas. Ainda pior, a ameaça dos nacionalistas ucranianos extremos, incluindo nazistas e fascistas descarados, pode favorecer o desenvolvimento das tendência ultranacionalista russas e dos elementos fascistas das Centúrias Negras, de caráter igualmente sinistro. Nem precisamos dizer que estas tendências são inimigas da classe operária, já marchem sob a bandeira ucraniana ou russa, e há que se opor a elas por todos os meios.
A situação continua sendo extremamente instável e volátil. O resultado final é incerto. A retórica violenta das publicações ucranianas nacionalistas está em total contradição com os discursos tranquilizadores dos diplomatas e o acordo de Genebra. A formação de uma milícia ucraniana fascista é uma ameaça direta à classe trabalhadora. As forças que foram desatadas não podem ser controladas facilmente.
Apoiamos plenamente o movimento dos trabalhadores da região do sudeste da Ucrânia para armar e organizar sua defesa contra o governo reacionário de Kiev e contra as gangs fascistas que estão organizando pogroms sob sua proteção. Apoiamos o movimento de ocupações de prédios governamentais para se encarregar da administração local e expulsar os governantes corruptos e reacionários.
Contudo, os trabalhadores devem ficar vigilantes para se assegurar que suas ações valentes não sejam usurpadas por elementos burgueses sem princípio e vorazes que se vestem com a bandeira russa a fim de assumir o poder para seus próprios fins corruptos. Nossa palavra de ordem deve ser: “Abaixo os oligarcas burgueses!”. É indiferente se eles falam russo ou ucraniano.
O movimento revolucionário dos trabalhadores do sudeste da Ucrânia somente pode ter êxito se se espalhar aos trabalhadores do restante da Ucrânia. Isso nunca pode acontecer se se limitar a um programa nacionalista puramente russo.
Da mesma forma que a visão das bandeiras fascistas e Banderistas em Maidan foi repelida pelo povo da Crimeia e do sudeste do país, a presença de ultranacionalistas russos, de cossacos e de elementos das Centúrias Negras nas manifestações com as bandeiras monárquicas russas alarmam e são repelidas pelas pessoas de outras locais da Ucrânia. Nossa bandeira não é a bandeira da Ucrânia nem a bandeira da contrarrevolução capitalista na Rússia, e sim a bandeira vermelha de Lênin, a bandeira de Outubro, a bandeira do internacionalismo proletário revolucionário.
Por esta razão, seria um grave erro pedir a intervenção militar russa. Nada poderia estar mais calculado para separar os trabalhadores e camponeses da fala ucraniana e empurrá-los nos braços da reação. A divisão do corpo vivo da Ucrânia não serviria aos interesses dos trabalhadores do Donbass nem aos de Kiev e Lviv. Tal medida seria devastadora para todos os envolvidos e teria consequências de longo alcance, nacional e internacionalmente.
A classe operária do sudeste da Ucrânia pode falar em russo, mas não têm nenhum interesse na divisão da Ucrânia, o que seria um desastre para todos, exceto para um punhado de ricos e mafiosos oligarcas.
É necessário unir a todos os trabalhadores da Ucrânia em um programa que combine as demandas democráticas revolucionárias com as demandas de expropriação dos oligarcas. Somente uma política de classe pode cortar pela metade a loucura nacionalista unir a classe trabalhadora na luta revolucionária comum.
· Nem guerra entre os povos, nem paz entre as classes!
· Expropriação dos oligarcas ladrões sob o controle democrático dos trabalhadores!
· Por uma Ucrânia socialista, unida e independente!
Portuguese translation of Kiev loses control of Donbas - What next in Ukraine crisis? Source: Esquerda Marxista