Polícia Federal expulsa trabalhadores da Cipla e Interfibra e ameaça a Flaskô
Cerca de 150 homens da Polícia Federal invadiram a Cipla em Joinville/SC ontem (31 de junho) e colocaram os trabalhadores para fora. Com ordens judiciais e mandatos de prisão contra os dirigentes da fábrica que está sob controle operário, a decisão é passar a administração para um interventor a mando dos antigos patrões, os irmãos Anselmo e Luís Batschauer, que respondem por inúmeros crimes cíveis, tributários e trabalhistas, devido a dívidas e corrupção. Até o momento, o interventor já demitiu 50 trabalhadores, a começar por todos os membros do Conselho de Fábrica eleitos em assembléia. Além disso, a PF confiscou todos os bens que estavam na empresa, incluindo os de uso pessoal dos trabalhadores. Também cancelaram os telefones e os e-mails corporativos, na tentativa de impedir e vigiar a comunicação. Imediatamente, uma campanha de moções se iniciou pelo país e mundo afora (ver embaixo) e dois atos públicos se realizam neste momento. Um em frente à portaria da Cipla, com funcionários da empresa (que se recusam a aceitar a intervenção) mais os apoiadores de todo o Brasil. Outro na fábrica ocupada Flaskô (Sumaré/SP) que ainda não está tomada pela PF, apesar de pertencer ao mesmo grupo econômico.
Entenda o caso Há quase cinco anos, os trabalhadores da Cipla e Interfibra (de Joinville/SC) e da Flaskô (Sumaré/SP) ocuparam as empresas e as colocaram para funcionar, em resposta às ameaças de fechamento das fábricas e ao não pagamento de salários e direitos atrasados. Dessa forma, os trabalhadores mantêm os empregos, a produção e os salários, enquanto levantam uma campanha nacional e internacional de solidariedade. A cobrança é para o governo Lula reconhecer o parecer técnico do BNDES/BADESC que afirma a viabilidade das empresas, caso o passivo seja transformado em ativo, mediante a encampação pelos entes públicos. O documento faz jus à reivindicação dos trabalhadores de nacionalização das companhias, tal qual ocorre na Venezuela e na Bolívia.
Afinal, cerca de 80% da milionária dívida que pesa sobre as empresas são com os cofres públicos e com os direitos dos trabalhadores, como FGTS e INSS recolhidos e não depositados. Tais valores nunca foram cobrados dos antigos donos, mas agora que as fábricas foram recuperadas pelos próprios trabalhadores, inúmeras ameaças jogam contra a determinação dos operários em manter seus postos de trabalho e o sustento de suas famílias. Leilões de bens, máquinas e equipamentos, ações de penhora de faturamento e ameaça de prisão dos dirigentes se tornaram rotina, apesar das mobilizações em direção ao governo federal e dos acordos feitos com órgãos públicos. No entanto, a decisão judicial favorável a uma ação do INSS, executada no dia 31 de junho por forte aparato policial, ameaça passar a administração a um interventor a mando dos irmãos Batschauer, da mesma maneira como ocorreu com outra fábrica do grupo, a Profiplast (SC) - cujos trabalhadores sofrem com quatro meses de atraso nos salários e com direitos não-pagos. Os trabalhadores não aceitam essa intervenção, resistem na frente da empresa e mantém a disposição de lutar até o fim em defesa dos 1200 postos de trabalho.