Um estudo recente da consultoria Economática demonstrou que no ano de 2008 entre os cinco bancos que tiveram os maiores lucros do continente americano, três foram bancos brasileiros.
Muito tem sido dito sobre a “força” dos bancos e do sistema financeiro brasileiro. Argumenta-se que aqui diferentemente dos EUA e de outros países, o sistema financeiro estaria efetivamente “blindado”. E isso que explicaria os altos lucros do Banco do Brasil, Itaú e Bradesco que só perderam em lucros no ano passado para os gigantes JP Morgan e Bank of America.
Logo no início da crise Lula disse que aqui a coisa é diferente porque os bancos brasileiros “não especulam”. E o ministro da Fazenda Guido Mantega em reunião do FMI em Abril foi enfático em dizer que não haveria quebradeira no sistema financeiro porque no Brasil “a regulação é muito rigorosa”. Será isso mesmo?
Para que se arriscar?
Um olhar superficial poderia de fato nos fazer concordar com o otimismo dos representantes do governo em relação aos “nossos” bancos. Estes últimos de fato não praticaram operações tão arriscadas tal como fizeram os bancos americanos com os títulos sub-prime – empréstimos imobiliários para pessoas sem renda – por exemplo.
Ao mesmo tempo, em certos aspectos o governo exerce de fato maior regulação sobre os bancos. Mas isso vem desde a época da Ditadura Militar!
Por exemplo, no Brasil, em parte pelo histórico de inflação é que temos o chamado “compulsório bancário” (que é uma porcentagem do valor dos depósitos feitos nos bancos que deve ficar guardada como reserva no banco central) bem mais alto que em outros países. Com isso, em tese, o sistema financeiro brasileiro, teria menor chance de uma corrida dos correntistas que o levaria a uma quebra.
Todavia, tudo isso são apenas as árvores que não deixam ver a floresta. Desde que foi empossado, em Janeiro de 2003, até Maio deste ano, o governo do presidente Lula já pagou R$ 1 trilhão em juros da dívida pública. Evidentemente, os principais credores de tal dívida são os bancos comerciais e o sistema financeiro de modo geral (além dos bancos comerciais, bancos de investimento, fundos, etc...). Não é à toa que os bancos têm lucrado como nunca nos últimos anos.
Mesmo com as recentes reduções na taxa Selic (que serve de base para o pagamento de juros da dívida do governo – hoje em 8, 75% ao ano), emprestar para o governo brasileiro prossegue sendo um dos negócios mais atrativos do mundo, posto que quase nenhum governo oferece uma taxa tão atraente.
É isto que explica porque os bancos brasileiros são mais “sólidos” e “menos especulativos” que os de outros países. As operações arriscadas – como os sub-prime dos EUA – só são feitas na medida em que prometem oferecer altos lucros. Os banqueiros brasileiros puderam se dar ao luxo de obter altíssima rentabilidade meramente emprestando aos cofres públicos. Para que se arriscar tanto se já existe um negócio mais atraente e seguro, feito à custa dos impostos pagos pelo povo brasileiro?
Mas eles querem mais...
Não bastasse o que frisamos acima, é necessário dizer que os bancos querem mais. Depois de serem ajudados pelo governo, no fim de 2008, com a liberação de cerca de R$ 160 bilhões do “compulsório bancário”, agora eles são os maiores interessados nas propostas de mudanças na taxação da poupança.
Com a recente queda da taxa Selic, muitos investidores tem preferido aplicar dinheiro na poupança e deixam os Fundos de Renda Fixa. Estes últimos, administrados em geral pelos bancos, são Fundos que aplicam dinheiro em títulos públicos.
Os bancos pretendem tornar a poupança menos atrativa para conseguir manter seus clientes em tais Fundos e garantir sua própria remuneração com as enormes taxas de administração por eles cobradas.
Ao mesmo tempo, ainda que a taxa Selic esteja em queda, os bancos não têm repassado esta diminuição para os seus empréstimos. No Brasil, o “spread bancário” (que é a diferença entre o custo de captação de um banco – que acompanha a taxa Selic – e o que ele cobra em seus empréstimos) é o mais alto do mundo.
Como os bancos alegam que a crise tem aumentado a “inadimplência”, eles mantêm juros altíssimos para os seus empréstimos. Por isso o trabalhador que pede emprestado, ou está no cheque especial, não sente os efeitos da diminuição da taxa Selic.
E o que o governo tem a dizer aos “nossos” banqueiros “prudentes”?
Nada... Ou no máximo afirma que é preciso aumentar a concorrência entre os bancos para que estes reduzam seus juros e taxas ao cidadão comum. Mas, ao mesmo tempo em que diz isso, o sistema financeiro torna-se cada vez mais concentrado e poderoso – vide a recente fusão Itaú e Unibanco.
Para acabar com este sistema financeiro que vive ás custas do Estado, está mais do que na hora de resgatar uma bandeira histórica do PT: a estatização sem indenização do sistema financeiro, para que as atividades de crédito no país estejam a favor – e não contra! – dos interesses da maioria do povo brasileiro.