O capitalismo grego continua a ser o elo mais fraco da Zona do Euro e ainda se encontra sob o “tratamento intensivo” dos mecanismos de apoio da União Europeia pelo quarto ano consecutivo, bem como em recessão pelo sexto ano consecutivo. O declínio global do PIB desde que a crise começou atingirá 25% no final de 2013 e o desemprego alcançará 30%. De acordo com o Instituto do Trabalho (INE) da Confederação Geral do Trabalho da Grécia (GSEE), vai demorar no mínimo 20 anos para se retornar aos níveis anteriores à crise!
Com uma raiva crescente, milhões de trabalhadores, de pequenos comerciantes e jovens que foram esmagados pelas medidas de austeridade do Memorando, estão descobrindo o grande engodo que representa o chamado “resgate” do país pela Troika. Na verdade, é um resgate dos especuladores que detêm a dívida grega e, ao mesmo tempo, uma tentativa de evitar o efeito dominó de bancarrotas que poderia levar ao fim da Zona do Euro. [Memorando é o nome dado ao programa de ajuste econômico imposto pela troika - formada pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) – e aceito pelo governo grego, NT]
Em 2009, a dívida grega alcançou 298,5 bilhões de Euros e 128,9% do PIB. No final de 2013, depois de três anos e meio anos de tais “resgates”, a dívida será de 330 bilhões de Euros e 178,5% do PIB. Até junho deste ano, a Grécia tinha recebido 219 bilhões de Euros da Troika. Somente 7,6 bilhões deste dinheiro foi destinado a aliviar o déficit, o restante foi gasto para recapitalizar os bancos e pagar parte da dívida e dos juros sobre a mesma.
O fato chocante de que a quantia real destinada a pagar os juros é de 48,171 bilhões de Euros, o que representa dois terços da quantia destinada a pagar as dívidas, é suficiente para definir isto como agiotagem ou usura. Outro indicativo da natureza reacionária desta tentativa de pagar esta dívida aos agiotas é o fato de que a quantia que foi gasta em juros é equivalente ao valor das perdas no PIB. Em outras palavras, tudo o que foi perdido na produção de riqueza no país durante a era do Memorando – que para os trabalhadores se traduz em perdas de emprego e reduções salariais, o que significa suor, sangue e lágrimas – foi embolsado pelos agiotas através do pagamento de juros.
O cancelamento da dívida requer um programa para derrubar o capitalismo
Todas as tentativas de saldar esta insuportável dívida usurária requer novos cortes em salários, pensões, benefícios e despesas sociais, e novas demissões. Nenhum passo a frente é possível na sociedade grega e nenhuma espécie de crescimento benéfico pode ocorrer se a dívida não for cancelada completamente, se os interesses das pessoas comuns não forem colocados acima dos interesses dos agiotas.
Contudo, não são apenas os agiotas que se beneficiam do pagamento da dívida; todos os setores dos capitalistas gregos e estrangeiros, que estão vinculados a essa dívida através de seus projetos empresariais, também se beneficiam ou são beneficiários de alguma forma dos ataques sobre a classe trabalhadora. Consequentemente, o cancelamento da dívida significa naturalmente uma declaração de guerra ao capitalismo, e essa guerra somente pode ser ganha pela via do estabelecimento de uma economia nacionalizada, centralizada e democraticamente planificada.
O fato de que tal programa socialista esteja ausente do arsenal programático das duas principais frações da liderança dentro de SYRIZA é uma irresponsabilidade histórica por parte de seus líderes. Em seu lugar, eles apresentam versões de direita ou de esquerda do populismo reformista, com um dos lados falando sobre o pagamento de uma parte da dívida enquanto tenta reconstruir um “estado social” dentro do capitalismo, e o outro lado falando sobre o cancelamento da dívida sem a derrubada do capitalismo. Isto realmente nos faz questionar como os adeptos de tais políticas utópicas dentro da liderança de SYRIZA, em vez de explicar aos trabalhadores como pretendem gerenciar esta combinação de cancelamento da dívida e de construção de um “estado social” dentro do capitalismo, ousam chamar de irrealista e inoportuno o programa socialista revolucionário apoiado pela Tendência Comunista do SYRIZA. É evidente que, para esses líderes, o objetivo estratégico do socialismo só será posto na ordem do dia somente após o extermínio em massa de nossa classe pela fome e pela miséria...
A ilusão do “haircut” [desconto] alemão e o mito do superávit primário
Este outono começou de maneira dolorosa para o governo. O governo alemão deixou claro que não vai haver outro “haircut” [desconto] da dívida grega. Ao mesmo tempo, a declaração de um dos principais membros do SPD [Partido Socialdemocrata alemão] de que a lacuna de financiamento do país até 2020 será de 77 bilhões de Euros, junto à demanda do presidente dos industriais alemães de colocar os ativos do estado grego sob o controle de seus credores, promete novos memorandos, ainda mais duros e até mesmo de maior submissão às demandas dos credores.
Contrastando com a esperança da burguesia grega de que poderia haver uma “solução política” para a dívida grega depois das eleições alemãs, a Troika confirma que até a primavera de 2014 não haverá novos desenvolvimentos nesse sentido. Esta dura posição causou nervosismo no seio da burguesia grega que entende que, se uma solução para o financiamento não for rapidamente encontrada, eles não serão capazes de justificar as novas medidas já comprometidas com a Troika, particularmente neste momento, quando seu governo é tão frágil e tem que lidar com o crescente movimento da classe trabalhadora. Não é uma coincidência que no campo da burguesia existam alguns que começaram a levantar a ideia – como um instrumento de barganha – de que um retorno ao dracma também deve ser colocado sobre a mesa (isto se pode ver nos artigos de N. Chatzinikolaou em “Real News”).
Atualmente, o governo está tentando fortalecer sua posição dentro do país, bem como no exterior, manipulando as estatísticas para apresentar o desejado superávit primário. Chegou ao ponto de anunciar para os primeiros sete meses do ano um superávit primário de 2,6 bilhões de Euros, não incluindo, contudo, nos cálculos oficiais, o valor de 9,35 bilhões de Euros que representam todos os tipos de dívidas estatais após os drásticos cortes ocorridos no planejado programa de investimentos públicos.
O superávit primário, de acordo com a propaganda do governo, supostamente iria para reduzir a dívida e levar o país de volta aos mercados e ao crescimento. Nada disto está acontecendo. O governo, de acordo com as declarações do ministro das finanças, em 2 de setembro, está antecipando um superávit primário de 1,1 bilhões de Euros para 2013. O que não disseram, contudo, é que este superávit primário deve cobrir todo o gasto público e o pagamento dos juros, de tal forma que este excedente ajude na redução da dívida. Para 2013, o pagamento dos juros é de apenas 6,4 bilhões de Euros, enquanto que o montante que vai para amortização é de 52,9 bilhões de Euros. Consequentemente, uma vez que os pagamentos de juros serão muito mais do que o superávit primário, a dívida não vai diminuir, e sim na verdade aumentar. Para que o superávit primário possa reduzir progressivamente a dívida, seria necessária uma taxa de crescimento anual de 5% nos próximos 20 anos, de forma que, através das receitas fiscais, o superávit primário supere os pagamentos dos juros. Tal cenário, no entanto, somente existe nos sonhos da burguesia grega.
Consequentemente, o governo para pagar a dívida só tem um caminho: o de novas e mais duras medidas de austeridade. O tão propalado programa de privatizações, que teve como objetivo inicial trazer 50 bilhões de Euros, mais tarde revisto para 15 bilhões de Euros, só trouxe aproximadamente 850 milhões, incluindo tudo o que foi adquirido na venda escandalosa de OPAP (a loteria nacional). Portanto, a única coisa que resta para este governo fazer, depois da privatização-doação de bens públicos, como a OPAP e a redução dos salários e pensões, é começar a fechar empresas, organizações e serviços realizando demissões em massa. O primeiro passo nessa direção foi ERT (a emissora pública), com a indústria de defesa (LARKO, EAS, EAB, ELBO) na fila e, naturalmente, através do fechamento de escolas e hospitais públicos e câmaras municipais.
A greve geral política é a única forma de derrubar o governo
A coalizão Samaras-Venizelos não cairá facilmente. A burguesia grega não quer ir às eleições antes que consiga encontrar uma solução para o rombo no financiamento. Isto significa que a coalizão governamental tem que ficar no poder até a primavera de 2014, quando serão retomadas as discussões com a Troika. Se, durante este período, ocorrer um “acidente” parlamentar na votação de um projeto de lei, então a classe dominante vai recorrer à ajuda de DIMAR (a Esquerda Democrática, que já revelou sua vontade de colaborar no passado), e aos seus próprios “Gregos Independentes” e, naturalmente – como ficou revelado na recente declaração pública do “infame” jornalista burguês Babi Papadimitriou – às hienas do sistema, o “Amanhecer Dourado” neonazista. Sua preocupação principal será a de encontrar uma solução dentro do atual parlamento. Isso significa que as massas trabalhadoras militantes devem derrubar este governo [Nota: isto foi escrito antes que membros de Amanhecer Dourado se envolvessem no assassinato de Pavlos Fyssas, tornando esta opção inviável no próximo período].
O apelo à “subversão” – muitas vezes levantado como uma fórmula abstrata pelos líderes sindicais e de esquerda – constitui para a classe trabalhadora a única forma de sobrevivência. Eles já perceberam que a luta necessita ser política com o objetivo de derrubar o governo. Isso reflete a grande pressão das fileiras do movimento dos trabalhadores nesta direção, e se confirma por uma série de sindicatos que, desde o início do verão, se moveram em direção a uma greve política e a uma coordenação conjunta.
Como pode a derrubada do governo ser bem sucedida? Certamente não pela via do método de greves esporádicas de 24-48 horas ou através da ocupação de Praças. Estes métodos foram tentados e fracassaram, levando ao aumento do sentimento de desesperança e ceticismo sobre a possibilidade de se obter vitórias através da luta de classes de massas. Durante muito tempo, a Tendência Comunista de SYRIZA vem explicando que a luta deve se destinar a paralisar e bloquear o inimigo de classe e seu governo. A única forma para que isso ocorra passa pela realização de uma muito bem organizada e unificada greve geral política, convocada pelo SYRIZA, pelo KKE [Partido Comunista Grego] e pelos sindicatos.
Infelizmente, a liderança do KKE está teimosamente rejeitando qualquer tipo de cooperação com SYRIZA, mesmo em um âmbito mais limitado no contexto da luta de classes em curso. Pior ainda, contrariamente ao humor de uma crescente camada de trabalhadores, que se expressa claramente nas decisões tomadas por seus sindicatos, a liderança do KKE se recusa a adotar o objetivo de derrubar o governo e sugere – como o fez durante a greve dos professores – métodos de luta que são tímidos e insuficientes para levar o movimento a conquistar vitórias. Mas qual é a posição do SYRIZA, que oficialmente adotou a palavra de ordem de derrubar o governo, e o que se necessita fazer para que isso se realize?
A greve geral política e as tarefas e responsabilidades políticas de SYRIZA
Os líderes de SYRIZA adotaram o objetivo de derrubar a atual coalizão governamental. Este é atualmente e sem dúvida o mais importante e imediato objetivo do movimento. É impossível para este governo fazer qualquer concessão a qualquer setor; por mais heroicamente que os trabalhadores possam lutar. Isto é assim porque estamos em um período no qual a classe dominante e seus credores atingiram o ponto crítico em seus esforços para descarregar nas massas os custos da crise, a fim de evitar o colapso do capitalismo grego. Uma só concessão, até mesmo para um pequeno setor dos trabalhadores, encorajaria a luta em outros setores.
Após três anos e meio marcados por 30 dias de greves gerais esporádicas e cinco rodadas de mobilizações populares e de trabalhadores contra os governos que apoiam o Memorando (maio de 2010, maio-junho de 2011, outubro de 2011, fevereiro de 2012, novembro 2012), fica claro que só uma mudança radical de poder pode resolver os problemas das massas em luta. A única forma de luta que poderia colocar a questão do poder e criar as pré-condições para tal cenário é a greve política geral e total.
Essa greve geral política requer a paralisação coordenada do trabalho por parte de todos os trabalhadores (assalariados, trabalhadores do campo, profissionais liberais e assim por diante) focada em alcançar um único objetivo: tomar o controle do poder político das mãos da atual classe dominante a fim de aplicar uma política que sirva aos seus próprios interesses. Esta forma de luta pode levar ao enfraquecimento político e à paralisia do inimigo de classe e seu governo, elevando, assim, os trabalhadores e suas organizações de luta à uma posição dominante na sociedade.
O papel decisivo de liderança em tal formidável batalha somente pode ser desempenhado pela classe trabalhadora organizada que, afinal, existe, produz e age coletivamente, isto é, o proletariado. E, dentro desta classe, o setor mais concentrado e de cujo trabalho depende o funcionamento dos centros da vida econômica, isto é, o proletariado industrial, irá desempenhar o papel principal.
Muitos líderes de SYRIZA, particularmente aqueles com “experiência de movimentos”, tentam contradizer o que afirmamos aqui replicando ao longo das seguintes linhas: “mas o que você está descrevendo é uma ‘revolução proletária’!”. A única resposta a isto é: “o ponto é exatamente este!”. Trata-se de uma revolução cujo momento chegou, de uma revolução que pode contrariar as ilusões políticas daqueles que defendem a ideia de que é possível uma “superação do capitalismo” harmoniosa e reformista... porque, sim, é verdade, estes são tempos de revolução! Nestes tempos nada de duradouro pode ser alcançado se a classe trabalhadora não resistir à classe dominante, como foi claramente declarado em alguns “textos antigos” (ver O Manifesto Comunista), que deve ser relido por todos os militantes da esquerda.
Mas o povo trabalhador quer uma revolução? Ou será que foge dessa ideia? Uma série de acontecimentos e fatos indica que o povo trabalhador apoiaria uma revolução. É grego o recorde mundial de greves gerais em período recente, de demonstrações em massa, de repetidas mobilizações de todos os setores da classe trabalhadora, incluindo até mesmo muitas camadas tipicamente pequeno-burguesas. Temos também as últimas pesquisas de opinião sobre consciência social, e todas confirmam que a esmagadora maioria da população apoia mudanças fundamentais, revolucionárias, na sociedade (ver as recentes pesquisas de opinião realizadas por “Assuntos Públicos”, em dezembro de 2011 e dezembro de 2012).
As grandes massas da classe trabalhadora e dos pobres estão totalmente preparadas para seguir um caminho revolucionário para derrubar o capitalismo. Elas têm se mobilizado em conjunto e separadamente, de forma espontânea, e continuam a se mover nessa direção sem qualquer liderança e programa político, aprendendo constantemente de sua experiência viva, armadas com seu instinto de classe. O único elemento que torna o presente período pré-revolucionário, e não abertamente “revolucionário”, é a ausência de um movimento que pudesse envolver as grandes massas de trabalhadores e que levantasse a questão de qual é a classe que manda.
Contudo, temos que entender que quando a classe trabalhadora se movimenta, historicamente falando, ela se utiliza das ferramentas e armas que tem à sua disposição, isto é, das organizações de massas tradicionais, enquanto acreditarem que estas últimas podem ajudar a organizar o movimento e lhes proporcionar soluções políticas (naturalmente, as massas não dependem apenas disto, também dependem de quão longe o seu sentimento revolucionário avançou e das especificidades do momento em que nos encontramos). De fato, durante os últimos três anos e meio a classe trabalhadora mudou em relação aos seus sindicatos. No entanto, devido ao papel da burocracia nestas organizações de massa, estas não unem a classe trabalhadora em um movimento crescente e na luta até a vitória. Desde 2012, a classe trabalhadora, chegando a conclusões políticas radicais, voltou-se para o SYRIZA.
As claras palavras de que o “SYRIZA deve convocar o povo às ruas”, as quais ouvimos cada vez mais sendo proferidas por milhares de pessoas que lutam, condensa este importante processo. No entanto, os supostos “líderes” e “especialistas em movimentos” que não aprenderam a confiar no julgamento político dos trabalhadores comuns, e que os consideram, por definição, “politicamente imaturos”, se apressaram a interpretar este apelo como uma intenção da parte da classe trabalhadora de renunciar à sua responsabilidade de participar nesta luta e de atribuir as tarefas da luta ao SYRIZA. Que esses nossos camaradas nos perdoem por dizermos isto, mas esta referência à “delegação de responsabilidades”, que parece ter se tornado um mantra, não só não tem fundamento como também é um erro grave.
De acordo com esta ideia, as massas estariam delegando suas tarefas e responsabilidades ao SYRIZA. Dentro deste exemplo de profundo pensamento burocrático, o SYRIZA se apresenta, em última instância, como algo alienado da classe trabalhadora, como alguma máquina eleitoral que vai disputar os votos das massas nas eleições, após o qual terá a responsabilidade de realizar o “trabalho sujo” da tão desejada “derrubada” (dos capitalistas). E só então os vários ministros, sejam eles vermelhos, cor de rosa ou antigos verdes, todos tomarão seus postos como uma espécie de salvadores da classe trabalhadora...
Um oponente da teoria da “delegação” pode se apressar a responder que: “bem, não seria da mesma forma burocrático e praticamente impossível para o SYRIZA definir como seu objetivo o de sozinho poder derrubar o governo?”. Naturalmente, ninguém está sugerindo tal coisa. Se prestarmos a devida atenção ao que se ouve das pessoas comuns, o que ouvimos é que estão querendo que o SYRIZA as leve às ruas. O que isto significa é que entendem que o principal protagonista é “o povo”, isto é, os trabalhadores, a juventude e as outras vítimas do Memorando. O SYRIZA tornou-se para elas a força que coordenará e organizará, que oferecerá objetivos políticos e perspectivas. As pessoas estão se aproximando do SYRIZA não como ele sendo uma máquina eleitoral, mas para seja um setor militante, pioneiro e consciente do movimento, isto é, como um agente fiel aos seus princípios fundadores.
Os oponentes fanáticos da ideia de “delegação”, no entanto, têm uma opinião muito diferente. E, infelizmente, estamos testemunhando tal fato sendo-nos imposto em todos os lugares como a linha oficial do SYRIZA. Estes camaradas nos dizem: “o SYRIZA não vai dizer aos sindicatos o que fazer”, como se o SYRIZA – como uma parte orgânica dos setores mais conscientes da classe trabalhadora – não devesse ter uma opinião sobre algo tão importante como os meios através dos quais se alcance a muito desejada derrubada do capitalismo. Ao mesmo tempo, a palavra de ordem de derrubada do capitalismo permanece presente na retórica oficial do partido, e que, ainda mais, é complementada com a proposta de criação de órgãos especiais de luta (Comitês de Ação, de acordo com a última decisão do Comitê Central), sem, contudo, isto ser apoiado com alguma referência elementar a que forma de luta esses órgãos devem adotar e assim por diante. Os camaradas na liderança estão escorregando para a total confusão e negação de seus deveres políticos.
Esta confusão e recusa em aceitar a responsabilidade que têm perante aos trabalhadores que lutam são muito perigosas em um momento em que os professores do ensino médio e os trabalhadores do setor público estão entrando em um período de luta prolongada. Não, o SYRIZA sozinho não pode alcançar a derrubada do governo! Para conseguir isto, o que é necessário é uma frente única entre SYRIZA, o KKE (isto é, o Partido Comunista sectário-estalinista da Grécia) e as federações sindicais que já estão mobilizadas; uma frente única que poderia declarar sua intenção de organizar uma exitosa greve geral política total, uma frente que poderia convocar assembleias de massas em cada local de trabalho e bairro, e para a eleição dos Comitês de Ação, que poderiam tomar todas as medidas necessárias para preparar esta batalha.
O SYRIZA, contudo, é uma organização de massas que, mais que qualquer outra organização no presente, tem status, posição e influência para ganhar, pacientemente, persistentemente e de forma estável, as massas trabalhadoras e suas organizações sindicais para esta necessária política, até mesmo se, como está se tornando claro, a liderança do KKE não esteja disposta a acompanhá-lo.
Dado que os professores do ensino médio já estão envolvidos numa batalha heroica e considerando as lutas simultâneas dos trabalhadores nos vários departamentos públicos e no OAED (isto é, nos escritórios estatais do desemprego), e visto que o sentimento dos trabalhadores em outros setores revela que estão dispostos a seguir esses exemplos de luta, a liderança do SYRIZA, se genuinamente deseja ver a derrubada do governo através da luta de massas popular, deve adotar o seguinte:
· Deve apoiar uma greve geral política total (obviamente, não se limitando a declarar isto) como uma forma de luta recomendada visando à derrubada do governo. Os membros e simpatizantes do SYRIZA nas assembleias e em outras organizações coletivas em seus locais de trabalho, sindicatos, várias organizações e assim por diante, devem convocar uma votação sobre a necessidade de um trabalho sério de preparação conjunta de todas as organizações de massas dos trabalhadores e da juventude;
· Deve convocar a criação de Comitês de Ação em todos os locais de trabalho e bairros, visando à preparação de uma greve geral política, que deve ser coordenada em cada cidade do país, junto com a criação de um Comitê de Ação Nacional. Esses comitês devem garantir a proteção e guarda do movimento e da luta através da criação de grupos locais de autodefesa contra a violência do estado e dos fascistas. Devem também criar fundos de greve e organizar refeições diárias;
· A greve geral política deve vir acompanhada da transformação de escolas, universidades e todos os serviços municipais, juntamente com todos os locais de trabalho, em centros para a luta, com eventos e assembleias diárias. O Comitê de Ação Nacional deve, então, gerenciar os recursos agrupados e a infraestrutura combinada de forma que forneçam os meios básicos de luta das massas durante estas batalhas;
· Devem começar discussões em todos os centros da luta sobre tópicos e temas como a necessidade de se tomar o poder político, a eleição de um governo de Esquerda com um programa socialista, que deve ser controlado sob a responsabilidade das organizações de massas da classe trabalhadora e das camadas mais pobres da sociedade;
· Deve convocar todos os soldados e oficiais de baixa patente do exército para estar vigilantes e para impedir através de sua auto-organização qualquer tentativa de se usar o exército contra o movimento popular de massa. Ao mesmo tempo, deve convocar todos os membros das forças de segurança com inclinações democráticas para localizar e isolar todas as células fascistas, e para se recusar a obedecer a qualquer ordem de seus superiores que visem aterrorizar e reprimir a luta da classe trabalhadora;
Se os líderes do SYRIZA se movessem nesta direção, o resultado seria duplo. Por um lado, poderiam encorajar os grevistas militantes e incentivar os restantes setores das massas trabalhadoras. Por outro, colocariam medo no coração da classe dominante, que percebe que tem que lidar com um movimento que está cada vez mais assumindo caráter revolucionário e ameaçando seu domínio. E, devido ao fato de que no momento a classe dominante está se encontrando cada vez mais politicamente isolada e está diante de um movimento sindical poderoso que possui as organizações de massas sindicais, de um KKE profundamente enraizado na classe trabalhadora, e de uma impressionante ascensão do SYRIZA, ela (a classe dominante) não se atreveria a impor algum tipo de regime totalitário, e tem de esgotar todos os meios “democráticos” à sua disposição, numa tentativa de desorientar o movimento.
Se o SYRIZA se limitar simplesmente a convocar uma greve geral política total, isto poderia empurrar a classe dominante a convocar eleições antecipadas para ganhar algum tempo para si e para frustrar o processo contínuo pelo qual a classe trabalhadora está se tornando consciente de sua força revolucionária, e também para aliviar um pouco de sua raiva acumulada. Mesmo que este fosse o caso, o SYRIZA iria conseguir um triunfo eleitoral, com um claro mandato de aplicar um programa que resolveria radicalmente os problemas das massas trabalhadoras.
Se o SYRIZA, no entanto, permanecer em sua atual posição política de confusão e falta de coragem política, os professores do ensino médio em greve, podem se cansar e ficar isolados, e outros setores dos trabalhadores que estão atualmente em greve ao lado deles, ficarão desencorajados. O dilema real não é entre duas formas de luta - ou seja entre, de um lado, uma greve geral política bem preparada e, de outro lado, greves setoriais específicas juntamente com uma atitude de “vamos tentar e ver o que acontece”. O dilema real é: ou lutar só para fazer alguma coisa para salvar a imagem, o que pode desgastar o movimento, ou combater com êxito para a derrubada do governo - isto é, por uma luta revolucionária. O SYRIZA deve tomar uma posição muito clara sobre isso participando ativamente em todas as formas de luta que o movimento de massas adota.
Os planos iniciais do Comitê Central de 31 de julho e 01 de setembro foram decepcionantes. Todas as demais tendências dentro de SYRIZA (a Maioria, a Plataforma de Esquerda e Projeto), com exceção da Tendência Comunista de SYRIZA, se pronunciaram contra a necessidade de uma linha revolucionária. De fato, alguns como a liderança de DEA (isto é, os supostos “Trotskistas”), fizeram todos os esforços para deter a linha que nossa Tendência propôs ser votada no Comitê Central.
A liderança de SYRIZA ainda tem algum tempo para mudar de rumo. No entanto, se não o fizer, as principais tendências dentro dele, em longo prazo, vão ficar na memória das massas trabalhadoras como corresponsáveis pela nova e dolorosa derrota.
Nota: em breve estaremos publicando artigos dos camaradas da Tendência Comunista do SYRIZA sobre os recentes acontecimentos envolvendo o Amanhecer Dourado