No que diz respeito ao que Trotsky escreveu, a maioria dos grupos que se reivindicam trotskistas aceitaria as conclusões de seus mais importantes trabalhos como uma análise do período sobre o qual ele estava escrevendo. Mas o que temos de fazer é aplicar o "método" de Marx, Engels, Lênin e Trotsky ao mundo atual. Então, não se trata de repetir as diversas interpretações de Trotsky; muito mais importante é examinar o período em que estamos vivendo e a etapa em que agora nos encontramos.
Trotsky esperava uma vaga revolucionária ao final da Segunda Guerra Mundial e também esperava que a Quarta Internacional se tornasse a força dominante do movimento dos trabalhadores. Houve a vaga revolucionária. A guerra civil na Grécia, o movimento de resistência e as greves tanto na Itália quanto na França no final da guerra e logo depois dela, a Revolução Chinesa, a luta pela independência por todo o mundo colonial, a esmagadora vitória do Partido Trabalhista na Grã Bretanha nas eleições de 1945 etc., tudo isto mostra que o prognóstico de Trotsky estava correto. O único problema foi que as forças da Quarta Internacional eram muito fracas para se habilitarem a desempenhar um papel fundamental nos acontecimentos que se desdobravam. O resultado foi a maior derrota histórica dos movimentos revolucionários que emergiram ao final da guerra. Onde existiram vitórias, como na China, estas tomaram a forma do estalinismo, isto é, a forma dos estados deformados dos trabalhadores segundo o modelo do regime soviético.
O colapso e a fragmentação do movimento trotskista originam-se neste período. A então liderança da Quarta Internacional foi totalmente incapaz de entender o que estava acontecendo. Se lermos os trabalhos de dirigentes como James Cannon (dirigente do SWP americano á época) nos últimos anos da década de 1940 e início da década de 1950, encontraremos uma perspectiva totalmente incorreta. Sua perspectiva era a de uma crise imediata do capitalismo e, consequentemente, de desenvolvimentos revolucionários no curto prazo. Em 1946, a Quarta Internacional organizou sua Pré-conferência Internacional. O manifesto para esta conferência foi escrito por Ernest Mandel.
Aquele manifesto estava totalmente em desacordo com a realidade. A liderança da Quarta Internacional tinha desenvolvido a teoria de que o capitalismo não seria capaz de desenvolver as forças produtivas acima do nível de 1938 e que qualquer boom econômico estava fora de questão. Esta teoria provou ser totalmente falsa. A derrota da classe trabalhadora depois da guerra foi a condição política mais importante para a elevação da economia. Os EUA tinham emergido enormemente fortalecidos da guerra. Era a mais importante superpotência capitalista, tendo acumulado gigantescos lucros com a produção de guerra. Por medo à revolução na Europa, os EUA bombearam ingentes quantidades de dinheiro em países como a Alemanha, Itália, França etc., para recuperar suas economias. A destruição causada pela guerra tornou necessário um gigantesco programa de reconstrução. Tudo isto lançou as bases para o maior boom econômico na história do capitalismo.
A liderança da Quarta Internacional não conseguia chegar a um acordo sobre estes novos desenvolvimentos. Eles não entenderam que era necessária uma reavaliação da situação. O fato é que pensaram que poderiam manter unidas suas forças prevendo uma revolução "logo depois da esquina". Tal política apenas poderia levar à dissolução da Internacional.
Como Lênin explicou, se não se corrigem os erros, então ir-se-á deslizando de um erro a outro. O resultado final é o sectarismo. Não tendo compreendido os seus erros, eles seguiram pelo caminho da degeneração sugerindo todo tipo de teorias estranhas. Da teoria de uma revolução imediata, eles giraram para a teoria do "aburguesamento" da classe trabalhadora na Europa. Por exemplo, em abril de 1968, Ernest Mandel em uma manifestação em Londres declarou que não haveria um movimento da classe trabalhadora européia nos próximos 20 anos. Isto aconteceu às vésperas do poderoso movimento dos trabalhadores franceses de maio de 1968!
A liderança da seção britânica da Quarta Internacional, o PRC (Partido Revolucionário Comunista), compreendeu as mudanças que tiveram lugar e desenvolveu perspectivas diferentes. O teórico mais importante do PRC era Ted Grant. Se for acessado o nosso site na Internet, poder-se-á encontrar um livro intitulado The Unbroken Thread (O Fio Contínuo). É uma seleção dos escritos de Ted Grant entre 1938-83. Qualquer um pode julgar por si mesmo, mas na seção sobre Perspectivas Econômicas, escrita em 1946, poder-se-á encontrar uma análise do desdobramento da ascensão econômica, que é uma avaliação muito mais sóbria de como as coisas estavam se desenvolvendo.
Sobre a China, a liderança da Quarta Internacional estava dizendo que Mao teria se comprometido com Chiang Kai Shek. Os escritos de Ted Grant sobre a China revelam uma compreensão muito mais precisa do que acontecia.
Ted Grant deu uma contribuição maior ao marxismo em seus escritos sobre o desenvolvimento do bonapartismo proletário (isto é, dos estados dos trabalhadores burocraticamente deformados) no Leste Europeu, China, Cuba etc. A liderança da Quarta Internacional inicialmente começou recusando-se a aceitar que o que havia no Leste Europeu fossem regimes modelados de acordo com a Rússia Soviética. Em seguida, eles giraram para o outro lado (sem explicar o motivo) e até mesmo declararam que alguns desses países (China, Cuba, Iugoslávia) eram "estados operários sãos", abandonando a definição anterior tão logo ela se tornou indefensável.
Poderíamos apresentar muito mais detalhes sobre os erros da então liderança da Quarta Internacional, mas acreditamos que essas pequenas anotações são suficientes para mostrar que Mandel, Cannon e companhia, perderam o rumo depois da guerra e isto os levou a andar em zigzag, longe de uma genuína análise marxista.
O que gostaríamos de enfatizar é a abordagem do Socialist Appeal em relação às organizações de massas. Em oposição a todos esses outros grupos, acreditamos que os trabalhadores quando entram em ação não procuram os pequenos grupos nas franjas do movimento dos trabalhadores. Eles se moverão em direção as suas organizações de massas tradicionais.
Toda a história do movimento internacional dos trabalhadores confirma isto. A própria III Internacional não nasceu de pequenas seitas, mas se desenvolveu a partir da ala esquerda da II Internacional. Os bolcheviques formavam uma facção do mesmo partido dos mencheviques durante muitos anos antes de emergirem como uma força independente. Os Partidos Comunistas francês e italiano desenvolveram-se a partir dos partidos socialistas. O Partido Comunista Alemão igualmente ganhou a sua força de massas de uma divisão à esquerda do Partido Social-democrata (SPD) etc., etc. Na Grã Bretanha, o Partido Comunista emergiu de uma fusão de quatro pequenos grupos. Mas aconselharíamos a leitura de Esquerdismo, doença infantil do comunismo, de Lênin (publicado em 1920), e lembramos o conselho que Lênin deu aos comunistas britânicos. Ele os aconselhou a entrar no Partido Trabalhista Britânico!
Não foi esta uma tática inventada por Lênin. Fazia parte dos princípios do próprio Marx. Já em 1848, os comunistas alemães dissolveram sua organização para entrar no partido democrático porque naquela etapa os trabalhadores mais avançados encontravam-se ali. A própria Primeira Internacional era composta de todo tipo de elementos, de comunistas genuínos a sindicalistas britânicos, muitas vezes representados por indivíduos de inclinação liberal.
Se aplicarmos essas lições aos dias atuais, as conclusões que podemos tirar são que os verdadeiros marxistas, isto é, os trotskistas, devem se orientar em direção às organizações de massas. O dilema da época é que toda a liderança degenerada do movimento da social-democracia sufoca as aspirações dos trabalhadores (como Blair, na Grã Bretanha; Jospin, na França; Schroeder na Alemanha, etc., etc.).
Mas é muito fácil declarar como degenerada a liderança oficial. A tarefa é a de construir uma alternativa. A questão é a seguinte: é suficiente simplesmente proclamar "o partido revolucionário" e esperar que as massas venham até ele? Pensamos que não. Os marxistas devem ir até os trabalhadores e pacientemente apresentar sua alternativa. Pensamos que o conselho de Lênin aos comunistas britânicos em 1920 é até mesmo mais relevante hoje do que naquela época. Este é um dos mais significativos pontos que nos diferencia de todos os outros grupos que se reivindicam trotskistas. Não pensamos que isto seja apenas um detalhe.
Alguém deve ter ouvido falar do Partido Socialista/CWI (Comitê para uma Internacional dos Trabalhadores). Este grupo era formalmente conhecido como a tendência The Militant. Ela trabalhou dentro do Partido Trabalhista e Ted Grant foi seu fundador e mais importante teórico. Desgraçadamente, a maioria da liderança britânica adotou no percurso linhas semelhantes às da Quarta Internacional ao final da Segunda Guerra Mundial. Embora existam muitas diferenças, também há muitos paralelos.
Tendo por base a sua correta orientação pelo Partido Trabalhista e pelos sindicatos, a tendência The Militant tornou-se a mais poderosa força de esquerda na Grã Bretanha. Em seu auge, tinha cerca de oito mil militantes. Ela teve três deputados trabalhistas que apoiavam as suas idéias; controlava o Conselho Trabalhista de Liverpool e tinha muitos líderes de sindicatos importantes. Também dirigiu o magnífico movimento contra o Poll Tax nos anos 1980, que culminou com uma demonstração em Londres de 250 mil pessoas (no mesmo dia mais 50 mil pessoas se manifestaram em Glasgow, Escócia). Infelizmente, a maioria de sua liderança começou a tirar conclusões erradas dos acontecimentos dos anos 1980.
A década de 1980 viu uma estabilização temporária do capitalismo em escala mundial. Existiram muitos fatores contribuintes que levaram a isto. Um deles foi a derrota das lutas dos anos 1970, que tinham iniciado com o movimento de 1968. Nos anos 1970, vimos uma virada à esquerda através do mundo. Na Europa, isto se traduziu em um grande aumento dos votos nos partidos comunistas e socialistas. Todos estes partidos, junto com os sindicatos, tiveram aumento substancial da militância. Sobre esta base, com o desdobramento dos acontecimentos, vimos o aumento da radicalização das bases. Isto, por seu lado, levou ao desenvolvimento de fortes correntes de esquerda dentro destes partidos.
Na Grã Bretanha, tivemos o governo trabalhista de 1974 a 1979. Devido a sua política direitista, aquele governo trabalhista preparou o caminho para a chegada ao poder de Thatcher. Isto ocasionou um questionamento da liderança trabalhista por parte das fileiras do Partido Trabalhista. Estas eram as condições em que a tendência The Militant se desenvolvia como uma força importante. Não obstante isso, também é necessário lembrar que, por mais impressionante que tenha sido o seu crescimento, ela era ainda uma pequena força quando comparada ao tamanho do movimento trabalhista britânico. Isto significa que ela não era suficientemente forte para oferecer uma alternativa de liderança à classe trabalhadora.
Dessa forma, vimos através dos anos 1980 um declínio gradual dos sindicatos e do Partido Trabalhista. Toda uma geração foi traída e isto levou a muitos a abandonar a participação ativa no Partido Trabalhista e nos sindicatos. Este declínio dificultou a defesa das genuínas idéias do marxismo dentro do Partido Trabalhista. Na verdade o que estava realmente acontecendo era uma virada à direita dentro do movimento trabalhista. Isto foi possível porque a burocracia das organizações trabalhistas estava se tornando livre de qualquer controle por parte da base do movimento.
Infelizmente, a maioria da liderança de The Militant chegou à conclusão de que o problema era o próprio Partido Trabalhista. Esta maioria começou a desenvolver a ilusão de que fundando uma organização "independente" e "agitando a bandeira no alto" resolveria o problema. Este foi um grande erro. Eles abandonaram o Partido Trabalhista e desde então têm declinado ao ponto de se tornarem muito fracos (de cerca de quatro mil militantes em 1992, caíram para cerca de 400!). Tendo incorrido neste erro, eles logo combinaram tudo isto com conclusões pessimistas sobre toda a situação objetiva. Eles falam que o movimento trabalhista recuou uns cem anos etc.
Este é um processo que já vimos muitas vezes. Eles vão de um extremo ao outro, da mesma forma que Cannon e Mandel antes deles.
Agora, estamos perante o início de uma situação totalmente nova. A crise econômica mundial é a mais séria desde 1929. Ela já provocou grandes movimentos na Ásia. A Indonésia está na linha de frente, mas muitos mais a seguirão. Sobre esta base, vemos as massas retornando às organizações de massas tradicionais da classe trabalhadora. Na Grã Bretanha, há quatro anos atrás, a oposição de massas aos Tories foi traduzida numa massiva vitória trabalhista. Na França, o partido socialista se beneficiou do mesmo processo. Na Grécia, temos o PASOK no poder. O mesmo tem ocorrido na Alemanha etc., etc.
Nesta etapa, as massas ainda não estão ingressando nas organizações tradicionais, especialmente onde estas se encontram no governo. Este é o caso na Grã Bretanha hoje. E é por isso que estamos lançando o movimento Juventude pelo Socialismo Internacional como um meio de atrair o melhor da juventude. Mas com o tempo as coisas mudarão. Blair muito provavelmente ganhará as próximas eleições, mas logo será forçado a atacar as conquistas da classe trabalhadora mais uma vez. No momento, ele se beneficia dos mais baixos índices de desemprego em 25 anos. No último ano, os salários na Grã Bretanha subiram acima de 5% e a inflação menos de 3%, o que significa que muitos trabalhadores têm atualmente um aumento real de salários. Mas isto não durará muito tempo.
Vejamos a situação na Itália. A coalizão de centro-esquerda perdeu as eleições, embora tivesse a mesma política de Blair. Mas na Itália o desemprego está próximo dos 10%, duas vezes o nível da Grã Bretanha. Os salários subiram no último ano apenas 2%, com uma inflação de aproximadamente 3%, um CORTE DE SALÁRIOS real. Agora os conflitos internos estão liberados no PDS, o que, a qualquer momento, poderia levar a uma divisão entre os elementos mais abertamente burgueses e os burocratas mais próximos ao movimento trabalhista. O governo Berlusconi inevitavelmente provocará uma reação entre os trabalhadores em algum momento e isto terá efeitos nos sindicatos, no PDS e na Refundação Comunista. Nesta situação, a Refundação Comunista (se tiver um genuíno programa marxista) poderia influir sobre os trabalhadores que olham na direção do PDS.
Na Grã Bretanha, Blair não manterá sua posição atual por muito tempo. A recessão está apenas começando a produzir os seus efeitos. Dentro de um ou dois anos, a Inglaterra poderá estar em uma recessão séria, e isto levará muitas pessoas a perder a confiança que elas têm no momento (que o "novo" trabalhismo pode garantir o crescimento econômico) e isto levará a derrotas dos trabalhistas no futuro. Naquelas condições, as críticas internas se introduzirão no Partido Trabalhista. Este processo provavelmente começará primeiro nos sindicatos. Já temos alguns sintomas disto, como as greves no metrô de Londres, a greve ilegal dos trabalhadores dos correios. E se Blair levar à frente os seus planos de privatizar os serviços de saúde logo se verá diante de um maior confronto com os trabalhadores da saúde. Tudo isto terá eventualmente efeitos no interior do Partido Trabalhista, e quando isto acontecer os marxistas devem saber como orientar este processo.
Uma vez detonado o movimento, haverá necessidade das idéias marxistas. Sem estas, os trabalhadores e a juventude lutarão, mas não terão a liderança que merecem.
Sobre a questão das organizações de massas, pensamos que deveríamos evitar qualquer equívoco. Acreditamos que, no momento em que as massas de trabalhadores começarem a se mover de forma decisiva, de imediato elas procurarão as organizações de massas tradicionais. É isto o que ensina a história e é muito fácil entender por quê.
Nos períodos "normais" de relativa estabilidade, as massas não se envolvem em atividades políticas. De fato, elas tendem a ver a política como algo alheio a elas. Nesses períodos, somente uma minoria dos trabalhadores e da juventude está interessada na atividade política. Algumas vezes, de fato, esta minoria pode na prática tornar-se um obstáculo a um envolvimento das massas exatamente devido a sua abordagem conservadora e rotineira.
Se olharmos o movimento da classe trabalhadora de um ponto de vista histórico mais abrangente, veremos períodos de levantes revolucionários em que as massas de trabalhadores entram em atividade. Vimos períodos como estes em 1918-21, na década de 1930 em alguns países, em 1943-48 e em 1968-69.
O que vimos foi o novo despertar da classe trabalhadora. Partidos e sindicatos que eram pequenos em termos de ativistas repentinamente ficaram recheados. O Partido Socialista Italiano tinha cerca de 60 mil membros em 1918, mas já em 1920 tinha crescido para mais de 200 mil. O Partido Socialista levou a federação de sindicatos, a CGIL, a crescer de 250 mil a 2.150.000 no mesmo período. Isto aconteceu a despeito da CGIL ter desempenhado abertamente um papel contra-revolucionário durante a Primeira Guerra Mundial.
Temos, aqui, uma importante lição histórica. Na primeira década do século, tinha se desenvolvido uma oposição dentro do Partido Socialista Italiano, mas infelizmente ela decidiu se separar prematuramente do Partido Socialista e mais tarde também levou a uma divisão da CGIL em 1912 e fundou a revolucionária união sindicalista USI. Estas pessoas acreditavam que estavam proporcionando aos trabalhadores uma forma de canalizar suas aspirações revolucionárias. Não era este o caso.
A CGIL permaneceu como a organização sindical dominante, a despeito de seu papel desleal. Tudo o que a USI conseguiu foi uma divisão dentro das fileiras da classe trabalhadora que simplesmente isolou os trabalhadores mais avançados das massas.
Quando as condições provocadas pela guerra empurraram as massas à ação, elas procuraram a CGIL e o Partido Socialista. Foi somente com a passagem pela "escola de reformismo" que a ala esquerda de massas se desenvolveu dentro do Partido Socialista e da CGIL, para se cristalizar mais tarde na formação do Partido Comunista da Itália em 1921. As massas precisavam ver por elas mesmas as atividades desses líderes reformistas antes que elas pudessem estar preparadas para adotar uma alternativa revolucionária.
Um processo semelhante se desenvolveu na França quando o então SFIO (Partido Socialista) mudou o seu nome para Partido Comunista e aderiu à Terceira Internacional em 1920. Vimos um processo semelhante na Alemanha quando o USPD nasceu de uma divisão no SPD. A maior parte do USPD foi mais tarde ganha pelos comunistas alemães e o Partido Comunista (KPD) foi formado.
Em geral, podemos ver como os partidos revolucionários de massas da III Internacional nasceram da diferenciação interna dos partidos socialistas.
Mas o que acontece quando os movimentos conduzidos por esses partidos declinam? Se as aspirações revolucionárias das massas são traídas e a classe trabalhadora é derrotada, vemos o êxodo das massas desses partidos. Somente o rebotalho permanece ativo, e ele tende muito frequentemente a ser o elemento mais leal à burocracia do partido. Eles tiram as conclusões erradas das derrotas e agem como freio sobre os trabalhadores e a juventude como um todo. Em tal situação, torna-se mais difícil defender as idéias revolucionárias e os marxistas ficam mais isolados.
É precisamente em situações como esta que as tendências sectárias de ultra-esquerda (como também as reformistas) podem se desenvolver. Os anarquistas emergiram como uma força dentro da Primeira Internacional depois da derrota da Comuna de Paris. O ultra-esquerdismo dos líderes da Quarta Internacional também pode ser explicado da mesma forma.
Mas estamos interessados aqui no processo por meio do qual uma camada de trabalhadores avançados no movimento também pode desenvolver idéias sectárias. Precisamente porque eles são mais avançados eles gostariam de empurrar a luta para frente. Mas porque eles não têm uma compreensão marxista de como se desenvolve o movimento eles podem se tornar impacientes com sua própria classe.
Todas as vezes em que as massas não se envolvem na política, quando elas não estão participando ativamente nas organizações de massas, a liderança dessas organizações podem se orientar para a direita. Os trabalhadores depois de um período de derrotas, ou durante um longo boom econômico, como no período do boom das décadas de 1950 e 1960, podem tentar delegar poderes à liderança. Sem uma ativa participação das massas não é possível por em cheque a liderança reformista.
Se não entendermos como a classe se movimenta então poderemos tirar conclusões erradas em tais situações, como o faz a camada dos trabalhadores mais avançados. Quando o movimento declina, fortalece-se a burocracia dos sindicatos e dos partidos de massas dos trabalhadores. Alguns dos trabalhadores mais avançados continuam sua luta contra essas burocracias, mas não encontram eco nas bases. Disto, eles concluem que essas organizações também são demasiado burocráticas para se trabalhar e no final deixam-nas para criar novos sindicatos ou partidos, com a idéia de oferecer a classe trabalhadora uma alternativa. Infelizmente, eles descobrem que fora das organizações oficiais as coisas não são tão fáceis. Isto acontece porque não há nenhum caminho mais curto, nenhuma fórmula mágica para resolver o problema. Se há um declínio no movimento devido às passadas derrotas simplesmente não se pode resolver o problema proclamando um partido revolucionário "independente". O movimento da classe trabalhadora tem o seu próprio ritmo, sua própria cronometragem. Não se pode prematuramente forçá-lo a se mover mais rapidamente.
Obviamente, a presença de um partido de massas revolucionário pode mudar as coisas rapidamente, mas até mesmo os bolcheviques antes de 1917 não emergiram imediatamente como a força dominante na classe trabalhadora. Os trabalhadores precisaram conhecer a experiência do governo provisório antes de estar prontos para seguir os bolcheviques. Isto explica porque, inicialmente, os mencheviques eram muito mais fortes do que os bolcheviques. Isto explica porque Lênin colocou a tática da frente unida. Os bolcheviques ofereceram aos mencheviques e às outras organizações dos trabalhadores uma frente unida contra os capitalistas. Eles apelaram aos mencheviques a romper com a burguesia com seu famoso slogan "Fora com os dez ministros burgueses". Esta tática combinada com uma implacável oposição à classe dominante russa e seus representantes políticos preparou o terreno para a passagem das massas dos trabalhadores aos bolcheviques.
Como dissemos anteriormente Lênin proporcionou uma preciosa educação aos quadros marxistas em seu trabalho "Esquerdismo, doença infantil do comunismo". Devemos aprender dele e da experiência de décadas do próprio movimento dos trabalhadores.
Um exemplo de como não se desenvolver táticas é o que os seguidores de Ernest Mandel fizeram na Itália em 1968. Eles tinham trabalhado dentro do Partido Comunista. Este era um trabalho muito difícil, particularmente em um período em que o Partido Comunista Italiano estava em declínio, com a perda e o envelhecimento de militantes.
Em 1968, o movimento estudantil revelou que as coisas estavam começando a se movimentar na sociedade. Naquele momento, era uma minoria que se estava movimentando e isto levou a um conflito direto com a burocracia do Partido Comunista. Baseados neste processo os seguidores de Mandel decidiram deixar o Partido Comunista e criar uma organização abertamente independente. Mas eles tinham uma perspectiva totalmente incorreta.
Em 1969, havia um massivo movimento da classe trabalhadora italiana, de dimensões revolucionárias. Mas isto não levou a uma crise do Partido Comunista, como muitos na esquerda tinham pensado, mas a seu desenvolvimento. O Partido Comunista começou a crescer, em particular entre a juventude, tanto estudantil quanto dos trabalhadores. Em determinada etapa, ele tinha cerca de dois milhões de membros. Mas precisamente porque estava crescendo, as idéias da oposição começaram a se desenvolver dentro do Partido Comunista. Uma nova geração de jovens trabalhadores e estudantes estava chegando às atividades políticas procurando por uma saída para o impasse da sociedade capitalista. Isto se refletiu no estágio inicial com o crescimento do jornal Manifesto, que congregou em torno de 100 mil membros do Partido Comunista. Infelizmente, os líderes deste grupo também tiraram conclusões incorretas depois que foram expulsos. Eles poderiam ter ajudado a formar uma oposição de massas dentro do Partido Comunista. Em vez disto, eles partiram e encolheram para um grupo em torno de 10 mil membros antes de desaparecer de todo.
De 1968 a 1977, o Partido Comunista continuou a crescer. Depois das eleições de 1976, a liderança do Partido Comunista Italiano chegou a um acordo com os democratas cristãos e traíram as aspirações dos trabalhadores italianos. Isto levou a uma crise interna, particularmente depois da derrota nas eleições de 1979. Tivesse uma tendência marxista trabalhado pacientemente dentro do Partido Comunista naquele tempo ela teria conseguido grandes ganhos e transformado toda a situação. Em vez disso, testemunhamos a desmoralização das fileiras do Partido Comunista e seu declínio no longo prazo. Mas os trabalhadores que abandonaram o Partido Comunista não se juntaram a qualquer um dos muitos grupos ultra-esquerdistas "revolucionários" da esquerda. Isto também levou estes grupos a entrar em crise, com a debandada de muitos deles.
Devemos aprender desses exemplos históricos e desenvolver uma perspectiva para o futuro. Os trabalhadores serão forçados pela crise do capitalismo a ir mais uma vez à ofensiva. Aonde eles irão? Novamente, eles somente podem ir para as organizações tradicionais de massas e temos de estar preparados para intervir neste processo.
Entretanto, isto significa que devemos sentar e esperar em partidos separados que as massas cheguem? Isto seria ridículo. Nas condições atuais devemos encontrar caminhos para nos encontrarmos com os trabalhadores mais avançados e a juventude. Devemos intervir nas lutas dos trabalhadores e dos estudantes e oferecer uma alternativa. Sobre esta base podemos adquirir forças para construir uma tendência marxista preparada para intervir nas organizações de massas no futuro. É por isto que temos de desenvolver táticas flexíveis, mas sem abandonar a perspectiva fundamental sobre as organizações tradicionais de massas da classe trabalhadora.
Atualmente, pelo menos na maioria dos países capitalistas avançados, as condições para um crescimento rápido de um partido marxista de massas não existem. Ainda existem grandes ilusões no reformismo. Estas ilusões não serão descartadas simplesmente através da proclamação de um partido revolucionário. As ilusões das massas serão desmontadas pelos próprios acontecimentos. O capitalismo está entrando em um período de grandes convulsões. Grandes acontecimentos terão lugar. Os trabalhadores colocarão suas organizações tradicionais de massas à prova. Somente depois de anos eles chegarão à conclusão que os líderes dessas organizações não oferecem nenhuma alternativa verdadeira. Os trabalhadores pressionarão essas organizações e um processo de radicalização tomará lugar semelhante àqueles que aconteceram depois da Primeira Guerra Mundial, nos anos 1930, depois da Segunda Guerra Mundial e nos anos 1970. Sobre esta base e com uma correta orientação uma pequena força marxista pode começar a crescer rapidamente. Mas para conquistar isto, o núcleo daquela força marxista deve ser construído agora. É por isto que agora devemos saber como ganhar os melhores trabalhadores e a juventude, enquanto ao mesmo tempo mantemos uma perspectiva para os futuros desenvolvimentos dentro das organizações de massas.