A crise capitalista mergulhou o estado da Califórnia em sua pior crise interna da história. Bilhões de dólares foram cortados da receita estadual e outros bilhões serão cortados este ano para ¨consertar¨ o déficit de 20,7 bilhões de dólares. Incapazes de achar outra solução no capitalismo, trabalhadores e operários vão ter que aguentar o impacto dessas medidas. Os estudantes já lutaram em uma série de ocasiões com greves e ocupações.
A produção econômica da Califórnia supera a de todos os outros estados americanos; ela sozinha gera mais que 13% do PIB dos EUA e teve um enorme crescimento econômico antes da crise. Entretanto, esse enriquecimento beneficiou apenas uma minoria. De acordo com o Quadro de Franquia dos Impostos da Califórnia, de 2001 a 2007, a rede corporativa aumentou seu lucro em 578,1%. De 1995 a 2006, a renda dos 1% mais ricos cresceu 108,7%, enquanto a dos 60% mais pobres obteve um incremento de apenas 9,6%. E se considerarmos a inflação desse período, a variação da renda desses últimos decresce em 17,1%. E esses foram bons anos! Com a recessão a situação certamente piorou.
Com a crise econômica já mostrando seu estrago em centenas de milhares de postos de trabalho no estado, a classe trabalhadora e os californianos pobres foram atacados ainda com maior intensidade com a lei estatal ¨bi-partidária¨ que aprovou exorbitantes cortes a serviços essenciais como a previdência social, seguro desemprego e outros mais na área da saúde, educação etc. Para agravar ainda mais a situação, milhares de trabalhadores foram presenteados com cartas de demissão, férias coletivas, ou forçados a abrir mão de parte do salário e da carga horária. A verba destinada à educação sofreu sérios cortes, mesmo com os prédios em algumas escolas literalmente caindo aos pedaços.
A educação vive uma situação deplorável. De acordo com o Departamento de Finanças da Califórnia, os cortes de verbas relativos à educação nos níveis médio e fundamental, durante os dois últimos anos, vão somar mais de 9 bilhões de dólares. Cortes nos gastos de universidades estaduais e na Universidade da Califórnia vão ficar perto de 2 bilhões de dólares e os cortes do orçamentos do sistema de colégios comunitários ficará em 702 milhões de dólares. A soma de todos esses cortes orçamentários na educação estatal chegará a incríveis 16 bilhões de dólares. Esses cortes significaram demissões, férias coletivas etc. Atingi-se o ápice do declínio da qualidade de vida e da infraestrutura do sistema educacional californiano, fato que já acontece há anos.
A crise do sistema educacional é sentida em todo o lugar, a falta de recursos financeiros (verbas) produz um profundo impacto na educação, como a estudante do ensino médio Lana Erickson citou na revista LA Youth: ¨A minha escola não tem dinheiro para deixar os professores fazerem cópias suficientes para dar uma folha para cada aluno. Um papel por classe é tudo o que ela consegue … estamos sendo forçados a perder tempo copiando questões à mão, ao invés de responder e pensar sobre as respostas ¨.
A LUTA CONTINUA
No dia 24 de setembro, o primeiro dia de aula da Universidade da Califórnia, a ¨Greve da Universidade da Califórnia¨ ocorreu em vários campus ao redor do estado. Começando com uma petição, chamando estudantes e trabalhadores à greve para protestar contra o corte nos orçamentos das universidades, a proposta de aumento de 32% na mensalidade e em solidariedade com os trabalhadores em greve. Houve consideráveis manifestações em muitos campus, com ato solidários ocorrendo em outras universidades, mas o destaque dessa campanha foi uma forte manifestação de 5 mil pessoas que ocorreu na Universidade Berkeley. Talvez um acontecimento ainda mais importante é a assembleia geral que ocorreu após a manifestação, que chamou para uma conferência estadual em 24 de outubro para organizar a defesa pela educação pública. Esses são os tipos de estruturas e ações necessárias à construção de um movimento estudantil de massas e democrático que pode dar um fim aos cortes nas verbas e melhorar a educação ao redor do mundo.
A conferência do dia 24 de outubro aglutinou mais de 800 estudantes, professores e trabalhadores das mais variadas áreas ligadas ao ensino, bem como indivíduos de sindicatos e outras organizações. O grande número de participantes na conferência demonstrou a disposição dos participantes em lutar por aquilo que consideram como seus, seu direito pelo acesso à educação. Muitos ali presentes ressaltaram a sua preocupação sobre como o aumento das mensalidades e os cortes no orçamento vão colocar a educação superior fora do alcance da maioria dos estudantes da classe trabalhadora. Infelizmente, nenhum programa ou estratégia clara foi realizado nesse conferência, entretanto, entrou-se em um consenso que o 4 de março seria um dia de manifestações e outros atos em todos os níveis educacionais por toda a Califórnia.
Seguiram-se três importantes manifestações em 17,18 e 19 de novembro. Durante esses dias, assembleias detiveram-se em que o sistema CSU aprovou futuros cortes de orçamentos e um enorme corte de 40 mil matrículas de estudantes, os diretores da Universidade da Califórnia (UC) aprovaram um aumento de 32% na mensalidade em cima do aumento de 10% decretado no ano anterior. Cerca de 2 mil manifestantes de toda a Califórnia apareceram no encontro dos diretores da Universidade da Califórnia em Los Angeles no dia 18 de novembro. Atos menores estavam ocorrendo em San Diego, Davis, Irvine, Fresno e outros. Além disso, várias ocupações de prédios ocorreram em novembro, como o Kerr Hall em Santa Cruz, o prédio de administração no estado de São Francisco, no Campbell Hall da UCLA , e na Wheeler Hall da UC Berkeley.
A RESPOSTA DO ESTADO
Uma ocupação foi organizada na Wheeler Hall da UC Berkeley no dia 20 de novembro. 40 estudantes entraram um dia antes no prédio e reforçaram as entradas. Centenas de partidários prestaram solidariedade à ocupação. Por fim, a polícia e equipes da SWAT foram chamadas para despejar os invasores. Às 5 da tarde, a polícia entrou no prédio e 43 pessoas foram detidas.
Outras ocupações saíram-se da mesma forma; 52 foram presos em UC Davis, 16 na assembleia dos diretores na UCLA, 33 na SFSU, um na UCSC e um na UC Irvine. As consequências das prisões variaram desde um breve período no cárcere até mais sérias acusações como o incêndio à propriedade. Alguns dos estudantes presos foram agredidos.
Depois, no dia 6 de janeiro de 2010, o governador Arnold Schwarzenegger endossou uma emenda constitucional para fixar um teto de 7% do fundo geral para os gastos carcerários e assegurou que os gastos com a educação superior receberiam no mínimo 10%. Schwarzenegger prometeu parar qualquer corte futuro para as verbas destinadas à educação em níveis fundamental, médio e universitário, ainda que futuras reduções no orçamento não estavam descartadas para o sistema de colégios comunitários da Califórnia, o maior dos EUA. Futuros aumentos das mensalidades também não estavam fora de cogitação. Além disso, muitos outros serviços sociais essenciais ainda permanecem à beira de uma redução de custos, o que vai afetar negativamente os californianos mais pobres.
Alguns ativistas denunciaram atos, como protestos e greves, como fúteis, mas a declaração do governador prova a validade dessas ações, se elas estiverem bem coordenadas e com vasto apoio. Como citado no New York Times, o chefe de equipe do governo, Susan Kennedy, ¨Aqueles protestos nos campus da UC foram o clímax.¨ Isso mostra claramente a efetividade desses protestos estudantis, apesar do seu alcance limitado, e mostra que o caminho à frente é a construção de manifestações cada vez maiores e mais organizadas. Se nós fomos capazes de fazer com que o estado voltasse atrás através daqueles protestos, imaginem o que poderíamos ganhar com uma greve geral?
Ocupações de escola são uma tática, não um princípio. Cada ato realizado deve ser pesado cuidadosamente e deve formar parte de uma estratégia geral. Devemos realizar considerações cuidadosas antes de engajar-nos em tais atos. Grupos periféricos isolados realizando ocupações sem uma proposta, programa ou objetivos claros podem apenas levar a futuras repressões não apenas contra os invasores mas contra o movimento como um todo.
As ocupações devem ser bem organizadas com uma ajuda massiva e a participação de estudantes, professores, demais trabalhadores das universidades e a comunidade local. Eles devem concordar entre si de forma democrática, e não iniciados com o capricho de pequenos grupos. Ocupações com o único fim de uma ocupação podem atualmente ser contra-produtivas e servir para alienar a ação do resto dos estudantes.
O CAMINHO À FRENTE
Os apuros das condições educacionais e habitacionais da maioria das pessoas em nosso estado são o produto da atual crise causada pelos capitalistas, na qual trabalhadores tem que pagar na forma de cortes nos serviços públicos, falta de empregos e deterioração das condições de vida; isso é um reflexo da natureza exploradora do capitalismo. Essa situação é refletida na desigualdade social, o acesso privilegiado à educação para os ricos e a negação do direito aos estudos para o povo trabalhador através de restrições econômicas e seletivas.
Escolas e universidades tem uma estrutura de cima para baixo, onde decisões são as responsabilidades de uma pessoa ou grupo específico dependentes e fiéis ao sistema. Essa forma de administração garante que o controle ideológico e político do processo educacional permaneça nas mãos dos defensores do sistema e não permite a participação ativa dos estudantes, professores e trabalhadores nas decisões-realizações políticas, administrativas e acadêmicas das escolas, universidades e outras instituições educacionais públicas.
Isso impede o desenvolvimento acadêmico, científico e democrático da educação e inibe o caráter social da educação pública. Nós discordamos fundamentalmente com o atual estado da educação em nosso estado. Apesar de ser suportado financeiramente por trabalhadores e estudantes, não somos beneficiados pelo sistema. Ele serve apenas para perpetuar as diferenças entre a maioria da sociedade e a minoria rica.
É por isso que nós, os estudantes e trabalhadores organizados na Liga Internacional dos Trabalhadores e na Corrente Marxista Internacional, lutamos pela educação pública, gratuita, sem restrições ao direito ou liberdade de escolha e de estudo da profissão que qualquer um desejar. Somos por uma educação na qual os conteúdos e orientações de cada são determinados pelos seus participantes diretos: estudantes, professores e outros trabalhadores da área. Somos pela criação de verdadeiros corpos representativos democráticos e participativos com largo envolvimento da comunidade e fora das instituições formais. Lutamos por uma educação científica e secular ligada à realidade social. Uma educação que tem como base a prática e o desenvolvimento acadêmico. Uma educação que encontre as necessidades sociais e não os interesses do Capital.
Ao capitalismo não interessa o gasto em recursos necessários à formação de novos doutores, enfermeiros, artistas, astrofísicos, historiadores, linguistas etc. quando não há empregos para eles. Ainda que tudo isso e mais seja extremamente útil à humanidade como um todo. Isso mostra claramente como os estreitos limites do sistema capitalista constrange o futuro desenvolvimento de indivíduos e da sociedade como um todo.
Como estudantes mostramos que estamos prontos para a luta. Para alcançar nossos objetivos, propomos a substituição de ações individuais e dispersas com uma força coletiva unificada por um programa para todos os estudantes do estado, dando um fim ao isolamento da nossa luta. Procuramos construir do movimento estudantil uma organização ampla, democrática, dinâmica e permanente. Uma organização que abarque estudantes da ensino fundamental, médio e universitário e tenha laços fortes e diretos com o movimento operário e seus sindicatos. Nossa organização precisa de independência política, ideológica e econômica em relação ao estado, capital e autoridades do sistema educacional. Contate-nos para mais informações em como você pode se envolver no planejamento para o dia 4 de março e lutar por uma educação gratuita e de qualidade para todos.