A crise está se desenrolando de maneira implacável e com mais velocidade. Em Novembro nos EUA as demissões alcançaram o maior ritmo em 34 anos. O PIB mundial registrou uma queda acentuada. A recessão foi precedida por uma crise financeira (o chamado crunch do crédito). Entretanto, este foi apenas o prelúdio da crise real. Como sempre, os economistas burgueses chegaram à conclusão de que a origem da crise era a falta de crédito. Na realidade, a falta de crédito é que é causada pela crise.
Durante o boom, todos estavam dispostos a emprestar e fazer empréstimos, confiantes em obter generosos lucros. Como sempre houve um grande elemento de especulação em tudo isso. O vertiginoso crescimento das bolsas não guardava relação com a situação real. Sempre devemos ter em mente que, em última análise, os lucros dos capitalistas só podem ser gerados a partir do trabalho não pago à classe trabalhadora. Enquanto a mais-valia for extraída, os capitalistas, os latifundiários, os banqueiros, os especuladores, podem realizar lucros. É criada a ilusão de que o carnaval durará para sempre. Mas este processo, mais cedo ou mais tarde, colidirá com as contradições inerentes ao sistema capitalista.
A segunda fase acaba de começar – a crise da economia real. Milhões de trabalhadores enfrentarão trabalhos temporários, o fim das horas extras, demissões e fechamentos. Os patrões estão querendo impor cortes salariais ameaçando encerrar as atividades. Isto significa uma redução generalizada dos padrões de vida, que por sua vez significará nova queda na demanda (procura), com mais fechamentos, desemprego e novos cortes. A queda da atividade significa queda na arrecadação de impostos, que por sua vez levará a novos cortes nos gastos sociais.
Em Novembro, 533 mil empregos formais foram perdidos nos EUA – a maior queda mensal desde Dezembro de 1974. A taxa de desemprego subiu para 6,7%. Contudo, isto mascara a seriedade da situação. Uma definição mais abrangente que incluísse as pessoas que desistiram de procurar emprego, poderia elevar a taxa de desemprego para 12,5%. Ocorre uma série de fechamentos. Depois que Merill Lynch tomou o controle do Bank of America 35 mil empregos foram eliminados. Dow Chemicals está fechando 20 fábricas nos EUA e Europa, o que custará cinco mil empregos. A 3M demitirá 2.300 empregados. Anheuser-Busch InBev está cortando 6% de sua força de trabalho nos EUA (75% em St. Louis).
Agora ninguém mais repete o devaneio de que a crise se restringiria aos EUA. Este é um fenômeno internacional. A grande companhia japonesa, Sony, dispensará 16 mil trabalhadores, cortará investimentos e suspenderá parte de sua produção. Sua previsão de lucro anual foi reduzida pela metade, como resultado da queda brusca na demanda por suas televisões LCD. A mineradora anglo-australiana Rio Tinto está cortando os gastos e vendendo parte de seu passivo para saldar débitos de US$ 10 bilhões, cortará 14 mil empregos até o final de 2009. Woolworth, a maior loja de departamentos da Grã-Bretanha, está fechando as portas depois de 100 anos de funcionamento, e isto custará 30 mil empregos. A lista não acaba aqui e continua crescendo.
O crescente alarme da classe dominante reflete-se na sucessão de medidas desesperadas adotadas pelos governos e bancos centrais, que não pretendem mais evitar a recessão e sim apenas amenizar seus efeitos. Mas, apesar dessas medidas, a crise está se aprofundando e se disseminando sem parar. A economia mundial entrou em uma espiral descendente, e ninguém sabe onde está nem quando chegará o fundo do poço.
No passado, os economistas burgueses negavam a possibilidade de uma recessão. Agora, confabulam se estamos diante de uma profunda recessão ou de uma depressão. Para milhões de pessoas afetadas pelo fechamento de fábricas, bancarrotas, demissões e despejos esta é uma diferença meramente semântica. A burguesia e seus economistas amestrados imaginam que a crise é causada pela “falta de confiança” e que, portanto, bastam alguns discursos inspiradores (acompanhados por generosas doações de dinheiro público) para resolver o problema. Eles não entendem que confiança não cai do céu, ela reflete condições reais. Ao contrário desta explicação superficial e idealista (que não explica nada), nós repetimos: a falta de confiança não é a causa da crise, é a crise que gera falta de confiança.
É preciso ter em mente que se os capitalistas não vendem suas mercadorias, nenhuma mais-valia é realizada. A possibilidade de encontrar mercados está limitada pela capacidade de consumo da sociedade. Mais cedo ou mais tarde chega-se ao ponto em que os mercados estão saturados e nenhum comprador pode ser encontrado. Na crise de 1990-91 e na de 2001 a demanda não caiu demasiadamente. Em primeiro lugar, devido ao rápido desenvolvimento da Ásia (China) que proveu um colchão para evitar que a recessão se transformasse em depressão. Depois disso, o fabuloso aumento do crédito e a bolha imobiliária especulativa manteve o funcionamento do mercado. Mas seus fundamentos estavam completamente comprometidos.
Esta situação não poderia ser mantida. De fato, os capitalistas evitaram uma profunda depressão por duas décadas, mas ao custo de criar as condições para uma recessão muito mais séria no futuro. Isto explica o desespero com que a burguesia enfrenta a atual crise.
Durante o boom, quando enormes lucros eram gerados, todos compravam e vendiam, emprestavam e adquiriam empréstimos; alegremente assumiam débitos acima de sua capacidade de pagamento. Ninguém se importava se isto tinha origem em especulação ou até mesmo em fraudes, isto passava despercebido. “Não estamos ricos? Não estamos todos fazendo dinheiro? Vivamos o hoje e que o Demônio se encarregue do amanhã!” Mas quando o boom encontrou seus limites – o que era inevitável – esta “exuberância irracional” transformou-se em seu contrário. A confiança evaporou junto com a ilusão de enriquecimento sem fim. Ao invés do velho otimismo alegre, temos pânico e desespero. Não a ganância, mas um sentimento igualmente primordial, o medo tornou-se a atmosfera predominante nos mercados.
Contradizendo todas as análises prévias, os economistas burgueses dizem agora que esta recessão será mais longa e profunda do que qualquer outra desde a Segunda Guerra Mundial. Os capitalistas estão pagando o preço pela “exuberância irracional” que demonstraram no último período. Amedrontados com as conseqüências sociais e políticas, estão recorrendo a políticas desesperadas, que apenas servirão para exacerbar os problemas em longo prazo. Cada pronunciamento dos porta-vozes da burguesia tenta convencer que “o pior já passou”. Tais declarações são seguidas por novas quedas nas bolsas de valores e novos cortes na produção.
A burguesia está cavando sua própria tumba, da qual não sairá facilmente. Os bancos estão afundando com o peso de dívidas podres. Ninguém sabe o quanto delas existe e, portanto ninguém sabe qual dos bancos (se é que existe um) é viável. Este é o motivo pelo qual os economistas dizem que esta recessão não é “normal”. Alguns economistas olham nostalgicamente para trás, para os “bons velhos tempos” do padrão ouro, mas agora um retorno ao padrão ouro é impossível. Isto levaria ao completo colapso e a uma ainda mais profunda depressão, maior que a Grande Depressão dos anos 30.
Antes da Segunda Guerra Mundial a economia mundial estava baseada no padrão ouro, que funcionava como um meio para regular o mercado monetário. Os governos mantinham em seus cofres certa quantidade do ouro total, que servia de lastro para sua moeda nacional. Em último caso, os credores poderiam exigir o pagamento de seus títulos em ouro, que, como toda mercadoria, tem um valor objetivo.
A abolição do padrão ouro só foi possível porque depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA mantinham dois terços do ouro mundial em Fort Knox e sua indústria estava intacta. Poderia então ditar suas condições ao resto do mundo. Todos queriam o dólar, porque este, naquele momento, era tão bom quanto o ouro. O dólar tornou-se a moeda internacional (com a libra esterlina em segundo plano). Este foi um dos fatores para a ascensão do mercado mundial depois de 1945 – a base real para o crescimento econômico no mundo capitalista naquele momento.
Agora, entretanto, tudo isto mudou. Os EUA deixaram de ser o maior credor do mundo e passaram a ser o maior devedor do mundo. O dólar continua sendo a moeda mundial, mas ninguém sabe ao certo quanto vale de verdade. Inimagináveis quantidades de capital fictício foram lançadas na economia mundial ao longo das últimas duas ou três décadas. O mercado mundial de derivativos sozinho ultrapassa os US$ 500 trilhões, a maior parte tem caráter especulativo e fictício. O mercado de derivativos é 36 vezes maior que o valor do PIB americano [US$ 13.8 trilhões em 2007] ou aproximadamente 10 vezes o valor da produção mundial.
A expansão sem precedentes do crédito no último período serviu para manter a demanda em elevados níveis nos EUA e em outros países. Mas agora encontrou seu limite. Todo o processo transformou-se em seu contrário. Agora ninguém quer emprestar dinheiro e poucos querem tomar dinheiro emprestado. A sociedade é vítima de uma atmosfera de parcimônia e austeridade. As massas não têm dinheiro para gastar – apenas dívidas para pagar. Aqueles que anteriormente se endividavam alegremente estão agora envoltos em suas dívidas. Muitos dos que contraíram hipotecas para comprar casas são incapazes de honrá-las e estão sendo despejados. O preço de suas casas caiu e as pesadas dívidas permanecem, as quais diferentemente dos preços das casas não diminuem.
Os banqueiros, que ontem estavam ansiosos por emprestar dinheiro, agora estão ansiosos por entesourar todo dinheiro possível e não repartir nenhum centavo. Esta miserável e desconfiada atitude não se aplica apenas aos proprietários de casas e de pequenos negócios, também se aplica aos bancos e grandes empresas. Eles não estão dispostos a emprestar dinheiro para outros bancos, pois não têm a certeza de que seu dinheiro voltará. Nem estão dispostos a adiantar dinheiro para as empresas comprarem matéria-prima e equipamentos. Estão completamente dispostos a fechar a torneira e forçar o fechamento das empresas como se fossem caixas de fósforos, lançando na rua milhares de trabalhadores, sem pestanejar.
Se o crédito é o elixir da vida para o sistema capitalista, a interrupção do suprimento de crédito significará que não apenas os “maus” negócios entrarão em bancarrota como também os “bons” negócios. A falta de crédito ameaça todo o processo produtivo da sociedade com um lento estrangulamento. Os efeitos podem ser vistos nas repentinas seqüências de falências e fechamentos, afetando não apenas os pequenos negócios como também as maiores companhias, como a Ford, General Motors, Sony, Nissan e muitas outras. A principal razão é o colapso da demanda, agravado pela escassez de crédito. Repentinamente, há muito aço, muito cimento, muitos carros, muitos escritórios vazios, muito petróleo... Em outras palavras, o que estamos assistindo é uma clássica crise de superprodução.
As grandes empresas automobilísticas dos EUA tentaram reconquistar suas parcelas de mercado com ferozes descontos. Por algum momento, isto funcionou, mas ao custo da redução das margens de lucro. Por fim, resultou em bancarrota. Então foram obrigados a ir, com o chapéu na mão, até o governo americano, que de início concordou em dar-lhes generosas fatias do dinheiro dos impostos para mantê-los respirando. Logo depois, vieram os planos de salvamento para os bancos, uma ação sem precedentes, especialmente se levarmos em consideração que os Republicanos, teoricamente, são o Partido da Economia de Livre Mercado por excelência. Foram medidas desesperadas.
Esta proposta de generosas doações às grandes companhias automobilísticas foi imposta pelo temor às conseqüências sociais e políticas resultantes da falência de empresas como a Chrysler e a GM, que poderiam significar a perda de milhões de postos de trabalho. Foi uma medida protecionista, atingiu diretamente as empresas automobilísticas estrangeiras. Isto, sem dúvida alguma, levará a medidas similares na Europa e no Japão. Entretanto, o governo insistiu nos cortes salariais para compensar o pacote, medida esta, que os sindicatos rejeitaram. Os Republicanos então votaram contra a proposta, que foi derrotada no Senado. Foi a repetição do conflito anterior entre a Casa Branca e o Senado em relação ao plano de salvamento para os bancos. Expôs profundas contradições em todos os níveis da sociedade americana.
Estamos entrando em um período de crescente protecionismo e tensões entre as principais nações capitalistas. A tendência em direção ao protecionismo será ainda mais pronunciada no governo Obama, que estará sob pressão para “salvar os empregos americanos”. Lembremos que os democratas sempre foram inclinados ao protecionismo. Isto provocará retaliações por parte dos rivais da América. A Volkswagen já está exigindo ajuda estatal. Outros se seguirão.
A crise está trazendo à tona profundas fissuras na União Européia. A Grã-Bretanha e a França estão pressionando a Alemanha para alavancar sua economia (ou seja, aumentar seu déficit para criar mais demanda para os produtos britânicos e franceses). Mas a Alemanha resiste. Não vêem porque eles deveriam assumir o ônus dos problemas de outros países. Porém, a participação da Alemanha é absolutamente necessária para que o plano de recuperação da Europa tenha sucesso. Todos devem alavancar simultaneamente, caso contrário a Alemanha se beneficiaria de maneira “desonesta” dos esforços dos demais.
Mas esta proposta não foi muito bem recebida em Berlim. O Ministro da Fazenda alemão, Peer Steinbrueck desdenhou do anseio geral, considerou “o grande plano de resgate” fútil, dizendo que tal plano “não existe”, lidar com uma crise sem precedentes é um quebra-cabeça que será resolvido pelo método da tentativa e erro. As autoridades européias esperavam que a resposta fosse um generoso programa de gastos; na verdade, estão dizendo que “devemos deixar que os alemães paguem, simplesmente porque eles podem”, acrescentou Peer.
Na realidade, o que Herr Steinbrueck disse estava certo. Ele assinalou que embora estas políticas possam vir a amenizar a situação, a “recessão é inevitável, não importa o que os governos façam”. As medidas de Brown e Bush foram uma tentativa de restaurar a bolha que causou toda esta confusão. Estão injetando bilhões nos bancos na esperança de que voltem a emprestar. Falharam. Os banqueiros não estão dispostos a emprestar sob tais circunstâncias e não importa quão grande seja o corte da taxa de juros e os subsídios estatais, não fará a menor diferença. De qualquer forma, a margem para os cortes é mínima. No caso dos EUA é praticamente zero. Uma a uma, as burguesias dos países mais ricos do mundo estão usando todos os seus recursos em uma vã tentativa de deter uma crise que não pode ser detida.
Efetivamente a burguesia está encurralada. Seja qual for a medida tomada, estará errada. Se eles não intervierem injetando dinheiro nos bancos e se falharem em seu intento haverá uma profunda depressão com desemprego em massa como a dos anos 30. Mas se recorrerem aos métodos keynesianos de financiamento do déficit criarão fabulosas dívidas que minarão qualquer futura recuperação, agindo como um tremendo obstáculo para o investimento produtivo, criando as condições para um longo período de cortes e austeridade.
A desastrosa procura por soluções no último período está se revelando como uma colossal ressaca de débitos. Significa que esta recessão será mais profunda e longa do que qualquer outra já vista. A burguesia está pagando o preço do “sucesso” dos últimos vinte anos. Países inteiros tornam-se insolventes. A Islândia entrou em bancarrota. Na Suíça, os compromissos bancários alcançam 700% do PIB, até então considerada um porto seguro para o capital. Este dado para a Grã-Bretanha é de 430%. Nos EUA está um pouco abaixo dos 100% - depois do fabuloso plano de salvamento do setor bancário.
O recrudescimento da recessão aguçará as tensões entre Europa e EUA, entre EUA, China e Japão e entre a Rússia e os EUA. No passado tais tensões levariam a uma guerra mundial. Foi a Segunda Guerra Mundial que resolveu a crise econômica dos anos 30 através dos massivos gastos em armamento e a completa destruição dos meios de produção durante a guerra. Contudo, a situação agora é completamente distinta. O colapso da União Soviética e o colossal poder do imperialismo americano significam que uma guerra mundial está fora de questão. Com gastos anuais de cerca de US$ 600 bilhões nas forças armadas, não há poder sobre a terra capaz de enfrentar os EUA. Mas haverá incessantes “pequenas” guerras, como as guerras do Iraque, Afeganistão, Somália, Congo e outras. O conflito entre a Rússia e os EUA pode levar a outras guerras como a da Geórgia.
Distúrbios diplomáticos e tensões serão ingredientes a mais na instabilidade geral. A disseminação incontrolável do terrorismo é um sintoma subordinado à crise. Todos esses fenômenos, que os amáveis pacifistas lamentam, são apenas a expressão da causa principal, que reside na contradição entre o colossal potencial das forças produtivas e os estreitos limites da propriedade privada e do Estado nacional. Os mais poderosos (especialmente os EUA) tentarão usar seus músculos para intimidar seus rivais e apoderar-se dos mercados e fontes de matéria-prima, mas os capitalistas não podem encontrar a saída provocando uma nova guerra como fizeram em 1914 e 1939. Portanto, todas as contradições se expressarão internamente, através do crescimento e intensificação da luta de classes.
Os olhos da burguesia se voltaram para a China, de onde esperavam que viesse a salvação. Porém, agora, a China já está fortemente implantada no mercado mundial capitalista e deve sofrer as conseqüências da recessão da mesma forma que os demais países. Para manter o desemprego nos níveis atuais é necessária uma taxa de crescimento de pelo menos 8%. Se o crescimento cair abaixo deste nível surgem possibilidades de sérios conflitos sociais. A última estimativa do FMI para o crescimento da China em 2009 é de 5%. Dominique Struass-Kahn, diretor executivo do FMI, disse: “Começamos com 11% de crescimento, depois 8%, depois 7%, e agora a China provavelmente crescerá 5 ou 6%.” Esta taxa pode ser considerada alta se comparada com as taxas de crescimento dos EUA e Europa. Mas é uma acentuada queda se comparada com o ritmo de crescimento, em torno de 10%, desempenhado pela China no último período. E ainda não é certo que estas últimas previsões sejam alcançadas.
A China possui um grande mercado interno, provavelmente cerca de 300 milhões. Mas este é insuficiente para absorver a enorme capacidade produtiva da indústria chinesa construída ao longo das últimas duas ou três décadas. A queda da demanda no mercado americano afetou as exportações chinesas. Em Novembro, a contração da produção industrial chinesa foi acentuada: a produção de aço caiu 12,4% comparada com o mesmo mês de 2007; as usinas de aço entregaram 11,3% menos; a geração de eletricidade caiu 9,6%; e a produção petroquímica caiu tanto quanto. Em Novembro, as exportações caíram 2,2% em relação ao mesmo mês de 2007, enquanto que os analistas esperavam um crescimento de 15%. Para entender a mudança, é preciso lembrar que entre 2000 e 2006 as exportações cresceram a uma taxa anual de 26%. Neste mesmo mês as importações caíram 18%. É a primeira fez que ocorre uma queda das importações desde 2001.
Estão surgindo sinais de superprodução e superinvestimento na China, cujo mercado interno, embora considerável, não é grande o suficiente para absorver todo o colossal potencial produtivo construído ao longo das duas ou três décadas, e que agora encontra seus limites. O primeiro aviso da crise foi a acentuada queda das bolsas de valores. O preço das casas está caindo, a construção e a indústria estão desacelerando mais rapidamente que o PIB. A venda de carros, em Novembro, na China caiu 10% em relação ao ano passado. A geração de energia, geralmente considerada um seguro índice de crescimento econômico, caiu 7%.
Estas estatísticas alteraram as perspectivas dos economistas ocidentais em relação à China. O otimismo prévio transforma-se rapidamente em pessimismo. The Economist (13 de Dezembro de 2008) assinalou: “Os otimistas ainda esperavam que estes gigantescos mercados emergentes (Índia e China) pudessem prover os motores que poderiam empurrar o mundo para fora da recessão. Esta expectativa foi revertida: a recessão global está arrastando a China e a Índia junto com ela, causando desemprego massivo nos dois países que são, apesar de seu sucesso, o lar de dois quintos das crianças desnutridas do mundo.”
É verdade que a China possui fabulosas reservas, que podem ser usadas para estimular projetos de trabalhos públicos para desenvolver a infra-estrutura. Em Novembro, o governo anunciou um pacote de estímulo fiscal da ordem de quatro trilhões de Yuan (cerca de US$ 600 bilhões). Mas de acordo com algumas estimativas, isto resultará em um aumento de pouco mais de 1% para o PIB. Isto é insuficiente para alcançar os resultados que a China precisa. Pequim só tem mais uma opção: exportar mais para tentar resolver a crise. Isto levará a conflitos com EUA e Europa, que por sua vez pressionam para que a China alavanque sua economia para importar mais. Paulson visitou Pequim para pedir que a China valorizasse o Yuan, mas Pequim está mais propensa a promover uma desvalorização, que agravará as contradições entre China e EUA.
Os líderes temem que a situação econômica piore ainda mais, produzindo aquilo que eles chamam de “uma situação reativa de turbulência social em escala massiva”. The Economist (13 de Dezembro de 2008) escreveu: “Cada nova semana que começa traz novas notícias de fechamentos de fábricas, principalmente no cinturão industrial ao longo do Delta do Rio Pearl no Sul da China. Trabalhadores não pagos estão protagonizando violentos protestos”. A mesma revista acrescenta: “De fato, manifestações e protestos, sempre comuns na China, estão se alastrando, operários de fábricas demitidos se juntam aos agricultores sem-terra, ativistas ambientais e vítimas da violência policial para tomarem as ruas.”
A desaceleração na China está afetando o Japão, para o qual o mercado chinês tornou-se extremamente importante. Nos três meses a partir de Setembro a economia japonesa encolheu 1,8% em relação ao mesmo período do ano passado. As outras economias emergentes são ainda menos capazes de promover o estímulo necessário para a economia mundial. Todos serão arrastados no próximo período. Tudo isso significa convulsões sociais e políticas em grande escala. O caos na Tailândia é uma indicação a mais do que está por vir.
Depois de um período de cinco anos no qual a Índia cresceu ao ritmo de 8,8% ao ano, as exportações em Outubro caíram 12% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Centenas de pequenas empresas têxteis fecharam suas portas. Mas as grandes empresas também entraram em crise. A indústria automobilística suspendeu a produção. As vendas do Ambassador, o carro mais popular da Índia, tiveram uma queda brusca. O Paquistão está à beira da bancarrota. O banco central reviu suas projeções de crescimento para 7,5%, e estão sendo otimistas. O crescimento real deve ficar em 5,5% – o menor desde 2002.
Com um déficit orçamentário de cerca de 8% do PIB, a Índia, diferentemente da China, possui pouca margem de manobra. Se a China precisa de uma taxa de crescimento de 8% para absorver os sete milhões de pessoas que entram no mercado de trabalho todos os anos, como poderá a Índia absorver a força de trabalho que se expande a um ritmo de 14 milhões por ano? O grosso do crescimento se dá em setores como o de informática, que não emprega grande quantidade de trabalhadores. O rápido crescimento do desemprego na juventude indiana criará condições explosivas na sociedade. “E, como na China, estão se disseminando distúrbios e até mesmo insurgências.” (The Economist)
A queda na demanda está se expressando na queda generalizada dos preços das commodities. O petróleo depois de atingir o pico de US$ 147 caiu para cerca de US$ 40. Isto afetará a economia dos países produtores de petróleo no Oriente Médio, Irã, Indonésia, Nigéria, México, Rússia e Venezuela. A Rússia é o terceiro país mais superavitário do mundo, mas já perderam US$ 144 bilhões desde Agosto. Isto é como um vôo cego, que acentua o medo da burguesia em relação ao futuro. A casta dominante está tentando distrair a atenção das massas através de aventuras estrangeiras (como a da Geórgia). Mas o desenvolvimento da crise mais cedo ou mais tarde provocará fissuras no regime, crescerá a oposição, as greves e manifestações.
A economia ucraniana está em crise, o país teve que pegar US$ 16 bilhões emprestados com o FMI. A crise econômica está aprofundando a crise política, que tem um caráter endêmico. O impasse do regime se expressa na incapacidade do capitalismo de resolver os problemas da Ucrânia ou em qualquer outro país da ex-União Soviética. O governo pró-EUA está evitando as eleições, mas na realidade pende por um fio. A maioria das outras ex-repúblicas soviéticas encontra-se em situação ainda mais delicada.
A forte queda no preço do petróleo intensificará a efervescência pré-revolucionária no Irã, onde o regime de Ahmadinejad pende por um fio. O descontentamento se alastra assim como a fúria entre a juventude, e também entre os trabalhadores e a classe média. Há uma onda de greves. O fato de os americanos terem decidido se retirar do Iraque significa que eles serão forçados a abrir negociações com o Irã e a Síria para cobrir seu traseiro. Isto privará Ahmadinejad de seu principal trunfo – o chauvinismo antiamericano e a retórica da Guerra-Santa. Sem poder contar com o inimigo externo, as contradições dentro do Irã se apresentarão de maneira clara com implicações revolucionárias.
Nos países mais pobres da África elementos de barbárie começam a aparecer e em alguns casos ameaçam envolver toda a sociedade e trazê-la de volta a selvageria. No Congo cinco milhões de pessoas morreram em uma guerra civil assassina. No Zimbábue as pessoas enfrentam os horrores da fome e do cólera. Em Serra Leoa mais de 70% da população vive com menos de 70 centavos de dólar por dia e dois terços das mulheres são analfabetas. O pesadelo da fome e da miséria se soma ao açoite da malária e da AIDS. Em todos os lugares as forças produtivas estão estagnadas ou declinando, criando mais desemprego, miséria e desespero.
Não há exagero em retratar o mundo inteiro como um pesadelo ou como um lunático manicômio. Estes são sintomas associados à decadência senil de um sistema que sobrevive além de sua utilidade histórica, como o Império Romano no período de seu declínio. Mas há o outro lado da moeda. A efervescência social e ensaios de revoltas. Naturalmente começa na juventude, que em primeiro lugar é a primeira vítima da crise, e em segundo lugar é um barômetro sensível para o sentimento de descontentamento que amadurece silenciosamente nas entranhas da sociedade.
É verdade que a eclosão da crise chocou não apenas a burguesia como também os trabalhadores. Haverá certa tendência a se apegarem a seus empregos, até mesmo aceitarão cortes salariais no curto prazo, especialmente se os sindicatos não oferecerem alternativas. Mas haverá também um sentimento geral de fúria e amargura, que mais cedo ou mais tarde encontrará seu caminho até a superfície. É inevitável que a primeira camada a entrar em ação seja a juventude. Sempre é assim. A juventude, começando pelos estudantes, sempre é um sensível barômetro da atmosfera que se desenvolve na sociedade. Eles podem antecipar grandes movimentos dos trabalhadores, como em 1901-3 na Rússia e em 1968 na França.
Na Itália e na Alemanha estão acontecendo grandes manifestações de protesto da juventude. Na Espanha a greve de estudantes deste outono foi organizada e liderada pelos Marxistas do Sindicato dos Estudantes. Houve também sublevações por parte da juventude na Hungria e anteriormente na França. Mas na Grécia este movimento adquiriu um caráter explosivo e semi-insurrecional e se combinou à greve geral dos trabalhadores. Este é um sério aviso para a burguesia do que pode estar por vir em outros países. Isto revela a falsidade do argumento que diz que a crise econômica levará inevitavelmente à paralisia da classe trabalhadora.
A burguesia gostaria de recorrer à repressão. Isto ficou claro em recentes declarações por parte de Cossiga na Itália, que possuíam claro caráter bonapartista. Mas a Grécia mostrou as limitações de tais políticas. Foi o assassinato de um jovem estudante pela polícia que trouxe as massas para as ruas. O governo de direita declarou estado de emergência, mas Karamanlis não pode usar a força para impor a ordem nas ruas, isto poderia levar a Grécia ao limiar de uma Guerra Civil. Tiveram que recuar. O governo está paralisado.
O que os acontecimentos gregos revelam é a debilidade da reação e a enorme força da classe trabalhadora no presente momento. Se os líderes do movimento trabalhista na Grécia tivessem uma política revolucionária, poderiam tomar o poder. Mas sem uma liderança adequada o movimento será reduzido a distúrbios pontuais, que o governo eventualmente manterá sob controle. Entretanto, o movimento foi um sério aviso aos capitalistas gregos sobre o sentimento de fúria e frustração que está sendo gestado na sociedade. O governo da Nova Democracia está chegando ao fim. Um novo estágio da luta de classes está se abrindo na Grécia. E amanhã o mesmo processo virá à superfície em um país após o outro.
Na América Latina a revolução já começou. Isto não é acidental, e nós já explicamos isso há dez anos, quando decidimos orientar o trabalho da Corrente Marxista Internacional para a América Latina. Neste continente o capitalismo foi quebrado em seu elo mais fraco. A Revolução venezuelana alcançou um ponto crítico, onde sua direção futura deverá ser decidida para um caminho ou para outro.
A crise do capitalismo atingiu duramente a América Latina, embora tenha se desdobrado de maneira irregular, afetando uns países mais que outros. O Brasil, o gigante econômico da região, tem previsão de crescimento de 4% (provavelmente otimista) enquanto que o México, fortemente ligado à economia EUA, tem previsão de crescimento de apenas 0,4%. Entretanto, em diferentes ritmos e em diferentes momentos, todos serão afetados.
Em Outubro, a previsão do FMI para a taxa de crescimento da América Latina em 2009 era de 3,5%. Dois meses depois o Banco Mundial estima 2,1% e Morgan Stanley 0,7% de taxa de crescimento para as sete maiores economias da região. Nos últimos dois meses aconteceram crises monetárias e nas bolsas, além da escassez de crédito. Que foram seguidas por quedas nas exportações e nos preços das commodities. A desaceleração na China afetou a demanda por petróleo venezuelano, minérios peruanos, soja argentina e o minério de ferro e o suco de laranja do Brasil.
A crise nos EUA afetou o continente diretamente. Cidades inteiras, povoados, e regiões de países como México, El Salvador, Honduras, Colômbia e Equador dependem do envio de dinheiro de seus familiares que trabalham nos EUA e Europa. Os imigrantes são os primeiros a serem demitidos e são forçados a voltar para seus países de origem. Dessa forma esses países se vêem privados da moeda estrangeira e ao mesmo tempo são obrigados a absorver um fluxo de trabalho onde o desemprego já é alto.
Os reformistas argumentavam que o “modelo venezuelano” garantiria imunidade aos problemas associados ao “modelo neoliberal”. Esta é uma ilusão reformista. Como a revolução não foi levada até o fim, a Venezuela está sujeita a todas as vicissitudes do mercado capitalista mundial. A queda do preço do petróleo ameaça as reformas do último período. Morgan Stanley previu uma contração econômica na Venezuela e na Argentina em 2009, de 1 e 2% respectivamente. Isto significa que as reformas e as missões enfrentarão dificuldades. Além da crise geral do capitalismo, a economia venezuelana também sofre com a sabotagem e a greve de capital que tem como objetivo desestabilizar o Governo Bolivariano e causar o descontentamento das massas. Apesar dos apelos aos capitalistas, investimentos privados praticamente não existem e a fuga de capitais é constante. Apenas o setor estatal mantém a economia.
Mais cedo ou mais tarde a Revolução terá que decidir se avança e estabelece a transformação socialista da sociedade, ou se recua um passo após outro, até a ignominiosa derrota. As exigências por medidas drásticas contra a contra-revolução e a expropriação sob controle operário crescem, os problemas devem ser resolvidos. No passado o imperialismo EUA teria atuado militarmente para abortar o processo, mas neste momento isto é muito difícil. Os EUA estão empantanados no Iraque e no Afeganistão e não podem abrir outra frente na América Latina, que teria conseqüências revolucionárias dentro dos próprios EUA.
Este é um momento crucial para a Revolução venezuelana. As forças da burguesia contra-revolucionária estão se agrupando após seu avanço parcial nas eleições de Novembro, que lhes forneceu importantes pontos de apoio para lançarem novas ofensivas. A crise econômica lhes dará novo ímpeto. Chávez clama por mais expropriações e propõe sua permanência como Presidente. Chávez poderia usar sua maioria na Assembléia Nacional para aprovar a possibilidade de reeleição sem um referendo. Isto provocará conflitos nas ruas, que colocaria a questão do poder mais uma vez. A batalha delineará o estabelecimento da confiança na Revolução de uma maneira ou de outra.
Este será um período de enorme turbulência e instabilidade – um período de revolução e contra-revolução que pode durar anos, com avanços e retrocessos. No passado, situações pré-revolucionárias ou revolucionárias não duravam por muito tempo. Poderia chegar ao fim com a vitória da revolução ou da contra-revolução na forma do fascismo ou do bonapartismo. Mas nas presentes condições este não é o caso. No passado a burguesia na Europa e em outros lugares possuíam importantes reservas de apoio na população, particularmente na classe dos pequenos proprietários de terra. Este não é mais o caso. As camadas médias de pequenos proprietários têm diminuído gradualmente ao longo do desenvolvimento do capitalismo, enquanto que a classe trabalhadora cresce e torna-se a maioria da sociedade em muitos países. No passado os estudantes eram originários de famílias ricas e se inclinavam ao fascismo. Agora, este não é mais o caso, os estudantes estão à esquerda. A classe dominante não é forte o suficiente para se mover em direção à reação, porém a classe trabalhadora está sendo refreada por sua liderança. Isto significa que a presente situação de equilíbrio instável entre as classes não permanecerá por muito tempo.
A revolução não se move de modo linear. Inevitavelmente haverá avanços e retrocessos no movimento, como aconteceu nas Revoluções russa e espanhola no passado. Entre Fevereiro e Outubro de 1917 houve períodos de forte ascensão e períodos de refluxo, desespero e até mesmo reação (Julho-Agosto). O mesmo aconteceu na Espanha entre 1931 e 1937, onde tivemos O Biênio Negro (El Bienio Negro) em 1934-5. Mas em uma situação onde o pêndulo gira para a esquerda, tal “calmaria” é apenas o prelúdio de novos e ainda mais tempestuosos levantamentos.
A situação objetiva na qual entramos será mais semelhante ao período entre guerras, ou aos anos 70, do que aos últimos vinte anos. Condições similares tenderão a gerar resultados similares. As massas estarão mais receptivas às nossas idéias do que estavam no passado.
A degeneração das organizações de massas alcançou o fundo do abismo de modo inaudito no último período. Os Sociais-democratas abandonaram qualquer pretensão de estabelecer o socialismo e os ex-comunistas abandonaram qualquer pretensão de lutar pelo comunismo. É uma grande ironia da História o fato de que precisamente neste momento tenham renunciado a luta pelo estabelecimento de mudanças revolucionárias na sociedade. Agora a História está se vingando.
O surpreendente sucesso dos marxistas na Rifondazione Comunista na Itália e no Partido Comunista Francês é uma indicação de que mudanças profundas estão acontecendo. No passado tais avanços eram impensáveis. Mostram o profundo descontentamento das bases. O mesmo descontentamento permeia as organizações de massas. Isto crescerá com o desenrolar da crise e com a exposição das políticas da liderança na prática.
É verdade que a consciência segue à zaga dos acontecimentos, porém mais cedo ou mais tarde a consciência despertará. Este é justamente o significado de uma revolução. Estamos nos aproximando de um ponto crítico. Um sentimento anticapitalista generalizado se desenvolve na sociedade, não apenas na classe trabalhadora, como também entre as classes médias. Pessoas que nunca antes haviam questionado o capitalismo estão cada vez mais descontentes. Esta é uma situação muito perigosa para a classe dominante. E a crise apenas começou.
A ocupação da fábrica de portas e janelas Republic em Chicago (que está tomada neste momento) mostra o potencial revolucionário que está sendo gestado nos próprios EUA. Lá trabalhavam principalmente operários pobres latinos. A fábrica foi forçada a fechar porque os bancos lhe negaram crédito, e os patrões não estavam dispostos a pagar o devido aos trabalhadores. Isto inflamou a ocupação. Os trabalhadores disseram: “não temos dinheiro para pagar nossas hipotecas; não perderemos apenas nossos empregos e sim nossas casas!” Então eles ocuparam. Mas a questão da propriedade foi colocada. A idéia se enraizou entre os trabalhadores: estes assuntos nos dizem respeito! É assim que a consciência rapidamente se transforma no curso da luta.
Na Bélgica o grande banco de investimentos Fortis colapsou, e a companhia foi pilhada pelos capitalistas franceses e holandeses. O Fortis era reconhecido como o “Banco do Povo”. 700 mil pessoas possuíam suas ações. Mas as ações colapsaram e o banco perdeu 90% de seu valor. Isto provocou uma onda de fúria dirigida aos bancos. Em todos os lugares víamos a mesma indignação contra os banqueiros e capitalistas, que eram obrigados a apoiar os líderes da classe trabalhadora para se manterem no poder.
Na crise do capitalismo, os líderes dos trabalhadores no parlamento se agarram à classe dominante e os líderes sindicais se agarram aos líderes parlamentares. Em tais períodos a classe dominante prefere que os líderes trabalhistas estejam no governo. Sua política é usada e desacreditada. Usarão estes líderes para fazer o trabalho sujo e depois os descartarão como se fossem um pano de chão imundo. Então dirão para as massas: “Agora vocês percebem o que significa o socialismo!” Assim, a contradição se abre entre a cúpula do movimento, que se move à direita, na direção da colaboração de classes, e as bases, que se movem à esquerda, procurando uma solução radical e a ação militante. Mais cedo ou mais tarde as contradições internas deverão ser resolvidas. O período que se abre revelará todo tipo de crise e divisões nas organizações tradicionais da classe trabalhadora.
Grandes possibilidades estão se abrindo para os marxistas, e a crise social ainda encontra-se em seu estágio inicial. À medida que a crise se desenvolve, a radicalização da classe trabalhadora alcançará níveis nunca vistos antes em décadas. Idéias que são ouvidas apenas por um punhado de gente encontrarão uma audiência de massa. As bases para a construção de correntes marxistas de massas estarão dadas em todos os lugares. Em última análise esta é a única garantia para a futura transformação socialista da sociedade.
Londres, 15 de Dezembro de 2008.