Alan Woods concluiu seu recente giro por 3 países sul-americanos, no Brasil, onde em 7 conferências mais de 1.200 pessoas escutaram e debateram a exposição de suas análises acerca da crise mundial do capitalismo e a revolução dos povos árabes.
Alan Woods tem mais de 50 anos de militância marxista. Escritor e teórico marxista britânico, se formou na Universidade de Moscou, combateu a ditadura franquista na Espanha nos anos 70, esteve em Portugal na Revolução dos Cravos e hoje é o principal dirigente da Corrente Marxista Internacional da qual a Esquerda Marxista é a seção brasileira.
Alan Woods já é bem conhecido na Venezuela, onde seus livros e análises são lidos e recomendados na TV pelo presidente Hugo Chávez. Também tem suas análises discutidas pela imprensa em países da Europa e Oriente Médio. Já no Brasil é mais conhecido entre os militantes de esquerda e no meio acadêmico. Ainda são poucos os seus livros publicados em português. Dos mais de 20 livros que escreveu e que já foram publicados em mais de 10 idiomas, em português foram publicados apenas dois: “Razão e Revolução: Filosofia Marxista e Ciência Moderna” (em 2007 pela Editora Luta de Classes) e mais recentemente “Reformismo ou Revolução - Marxismo e Socialismo do Século XXI: uma resposta a Heinz Dieterich”, pela Editora Marxista.
Mesmo assim o interesse foi bastante grande. Depois de realizar duas palestras na Bolívia que reuniram mais de 800 pessoas e duas na Argentina onde compareceram cerca de 150 pessoas, Alan chegou ao Brasil pelo Sul, no estado de Santa Catarina, em 31 de março.
Aí expôs suas análises sobre a Revolução dos Povos Árabes e a Crise Capitalista Mundial primeiro na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, onde compareceram mais de 150 pessoas – a maioria jovens estudantes. Depois, no dia 02/04, foi a Joinville, principal pólo industrial do estado, onde mais de 200 pessoas compareceram ao anfiteatro do IELUSC para escutar as idéias marxistas. Já nesta atividade, além de estudantes, estavam presentes também sindicalistas, trabalhadores, representantes de associações de moradores e do PT.
Na atividade realizada na UFSC, Alan Woods foi recebido por Khader Othoman do Comitê de Solidariedade à Palestina, que fez questão de participar na mesa do debate, dando as boas vindas a Alan Woods e expressando seu entusiasmo com os desenvolvimentos no mundo árabe. Já em Joinville, além de recebido pela UJES (União Joinvillense de Estudantes Secundaristas) e pelo Sindicato dos Servidores Municipais de Joinville, Alan concedeu entrevista à imprensa local. O jornal chamado Primeira Pauta publicou matéria de página inteira sobre a visita de Alan Woods na cidade.
Depois Alan seguiu para o Rio de Janeiro onde em primeiro lugar visitou a sede do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e teve uma longa reunião com dirigentes deste partido, inclusive com Ivan Pinheiro, seu Secretário Geral. Ivan falou da luta que o seu grupo travou dentro do partido desde o fim da ditadura para corrigir erros anteriores e construir um partido verdadeiramente comunista. Também criticou a velha teoria “etapista”, como um sintoma do reformismo e explicou que a luta do partido hoje é pela revolução socialista, unindo trabalhadores das cidades, do campo e arrastando outras camadas oprimidas. Por sua vez, Alan explicou o combate da Corrente Marxista Internacional e da Esquerda Marxista (seção brasileira da CMI) contra o reformismo dentro do PT. Ele lembrou que a primeira tarefa de todo comunista, de todo revolucionário, é elaborar idéias e palavras-de-ordem claras. A segunda tarefa é encontrar os trabalhadores onde eles estão, e geralmente são reformistas nas organizações de massa, e precisamos de orientação em relação a essas organizações, incluindo a participação nesses partidos, a fim de ajudar os trabalhadores a adotar um ponto de vista comunista. Ele elogiou o PCB em sua busca de esclarecimento político, e os resultados positivos alcançados até o momento.
Mais tarde, no dia 04/04, a conferência pública no Rio foi na sede do Sindipetro, que reuniu cerca de 80 pessoas. O debate foi aberto pelo dirigente petroleiro Cancela. Ele explicou a luta do Sindipetro pela Petrobras 100% estatal e como isso poderia beneficiar o povo brasileiro. Cancela usou dados que mostram que o dinheiro obtido com o Pré-Sal poderia ser utilizado para resolver uma boa parte das mazelas da educação e da saúde que afligem o povo e falou da necessidade da unidade de todos em torno desta luta.
Antes da Conferência estava realizando-se a reunião da Chapa 1 que concorre nas eleições do Sindicato (chapa da qual participa a Esquerda Marxista). Vários integrantes da Chapa, apesar do cansaço do trabalho e da reunião, ficaram para participar e ouvir o camarada Alan Woods. Havia também uma presença grande de jovens, de professores e outras categorias, além de dirigentes nacionais do PCB, inclusive o seu Secretário Geral, Ivan Pinheiro.
Infelizmente não foi possível realizar o encontro que estava agendado entre Alan Woods e o cartunista brasileiro Carlos Latuff – cujos trabalhos são sempre publicados no site da CMI, do qual Alan é editor – por conta da apertada agenda do camarada Alan Woods, que teve que embarcar para Recife, onde proferiria mais uma conferência.
Chegando em Recife, no dia 05/04, Alan foi recebido por Faustão (da Direção Nacional da CUT) e pela cônsul da Venezuela, Coromoto Godoy. Durante o almoço, a cônsul convidou o camarada Alan Woods para voltar a Recife em outra ocasião e palestrar no consulado venezuelano sobre a situação na Venezuela e no mundo e se colocou à disposição para o que for necessário para a campanha “Tirem as Mãos da Venezuela”, da qual Alan Woods é co-fundador.
A conferência em Recife se deu na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde mais de 300 pessoas participaram ativamente.
Em seguida, no dia 06/04, Alan Woods foi a São Paulo para realizar as últimas atividades. Logo que chegou foi à Universidade de São Paulo (USP), onde cerca de 200 pessoas compareceram para debater com o camarada Alan. Aí a maioria era composta por jovens, estudantes da graduação e pós-graduação da USP de diversos cursos (história, geografia, letras, filosofia, ciências sociais, sociologia, matemática, artes, arquitetura, etc.), mas havia também professores, sindicalistas e militantes de diversos partidos e organizações políticas.
Alan foi recebido por um dirigente sindical do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) e recebeu saudações da Adusp (Sindicato dos Professores), que não pôde se fazer presente. Também estava no debate o companheiro Maged El Gebaly, um professor egípcio que está morando no Brasil há 2 anos, fazendo seu doutorado na USP. Ele é membro da “Frente 25 de Janeiro” e voltou ao Egito em 23 de Janeiro deste ano para participar ativamente do movimento que derrubou Mubarak. Ao final, o companheiro Mageb convidou publicamente Alan Woods para ir ao Egito expor suas análises.
No manhã seguinte, Alan foi à fábrica ocupada Flaskô, em Sumaré (interior de SP, região de Campinas). Calorosamente recebido pelos trabalhadores da fábrica e pelos moradores da Vila Operária e Popular, Alan falou para um público de pouco mais de 60 pessoas, dentre os quais, cerca de 30 trabalhadores da fábrica que pararam a produção por 3 horas para escutá-lo.
O debate foi inteiramente transmitido ao vivo via internet pela “TV Luta” (e pode ser revisto a qualquer momento aqui). Uma grata surpresa foi a participação de 12 crianças, alunos da “Fábrica de Cultura” – escola de arte infantil impulsionada pela Flaskô para filhos dos operários e da vizinha Vila Operária.
Antes de iniciar a palestra, Alan fez uma saudação emocionante aos operários da Flaskô: “Em primeiro lugar, é uma honra estar presente aqui nesta fábrica que é tão importante para a luta de classes no Brasil. Sei que vocês têm tido uma luta muito dura, muito difícil. E sei também que a coisa mais difícil é uma sensação de isolamento. Muitas vezes nos sentimos sozinhos na luta. Então a minha primeira mensagem para vocês é a seguinte: Vocês não estão sozinhos camaradas! Transmito aqui uma mensagem de solidariedade fraternal de classe dos trabalhadores, da juventude, dos sindicatos europeus, que têm acompanhado com grande interesse e com grande entusiasmo a luta dos trabalhadores da Flaskô que é um exemplo maravilhoso para a classe trabalhadora de todo o mundo. E quero transmitir de todo o coração, a solidariedade mais firme do movimento operário europeu e mundial à luta de vocês, à luta da Flaskô, para conseguirem suas justas reivindicações e nos comprometemos a ajudar no que pudermos, no que vocês precisarem para a sua luta.”
Por fim, Alan fez sua última conferência no Brasil para mais de 130 pessoas no Sindicato dos Químicos de São Paulo. Com uma maioria de sindicalistas, no plenário também havia estudantes, artistas e militantes do PT de São Paulo, São Bernardo, Guarulhos, Caieiras, Bauru e outras cidades.
Nesta atividade Alan foi recebido pelos dirigentes sindicais químicos e vidreiros, que também compuseram a mesa. Após o debate, Alan foi entrevistado pela TV do sindicato. E no dia seguinte, ainda antes de voltar a Londres, Alan concedeu entrevista à revista Caros Amigos (que deve ser publicada na edição de Maio).
Em todas as atividades Alan explicou como a crise capitalista mundial e a revolução árabe são partes do mesmo processo global de mudança em toda a situação mundial.
Alan lembrou as palavras de Lênin, quando ele assinalou que na Rússia a corrente do capitalismo quebrou em seu elo mais fraco. Agora a história se repete na Revolução árabe. “A Revolução Árabe começou, mas ainda não terminou”, afirmou. “As massas não estão lutando pela democracia em abstrato, mas por criação de empregos, moradia e um padrão de vida decente. Mas nenhum governo burguês pode dar-lhes essas coisas. Eles não podem dar-lhes na Europa nem nos EUA, assim como não podem dar a eles no Egito. Portanto, a revolução continuará, com altos e baixos, durante um longo período. Cedo ou tarde a classe operária vai concluir que a única saída é tomar o poder”.
Em todos os debates Alan havia falado, que depois da Irlanda e Grécia, Portugal deveria ser o próximo país a quebrar na zona do Euro. E então no dia de sua última conferência no Brasil as manchetes dos jornais noticiavam que Portugal estava pedindo socorro financeiro para pagar suas dívidas. Alan não havia tido tempo para ler os jornais naquele dia, pois havia ido à fábrica ocupada Flaskô pela manhã, mas disse não se surpreender. E acrescentou: a próxima será a Espanha!
Sobre a questão da Líbia, Alan disse que tinha começado como uma revolta popular genuína, mas degenerou em uma guerra civil na qual alguns elementos um tanto questionáveis se impuseram à frente. Estes incluíam vários ex-ministros de Khadafi, que exigiam a intervenção dos imperialistas. Esta foi uma posição reacionária que rejeitamos totalmente.
“As revoluções não respeitam fronteiras e, menos ainda as fronteiras artificiais que foram impostas pelo colonialismo no Norte da África e no Oriente Médio, que dividem o corpo vivo da grande nação árabe. A principal tarefa da revolução árabe é a abolição dessas fronteiras e o estabelecimento de uma Federação Socialista que se estenda desde o Atlântico até o Eufrates.”
Falou ainda do movimento dos trabalhadores de Madison, no estado de Wisconsin, nos EUA, que ocuparam a assembléia legislativa do estado há 3 semanas e continuam lá até hoje, dizendo que lutarão como os trabalhadores egípcios!
Em todos os debates Alan ressaltou a necessidade urgente de um partido revolucionário e uma direção revolucionária em todos os países, sem os quais, a vitória da revolução não ocorrerá. E assim convidou todos a ajudar a construir as forças da Corrente Marxista Internacional no Brasil.
Source: Esquerda Marxista (Brazil)