Um terremoto político está estremecendo as bases do Partido Trabalhista. Sem precedentes na história, 610 mil pessoas se inscreveram para votar na eleição de um novo líder. Os desdobramentos estão sendo sentidos em todos os lugares. O sentimento de raiva e o amargor que se formou na sociedade têm procurado, desesperadamente, por uma válvula de escape. Na Escócia, ela foi encontrada no referendo e no ascenso do SNPÂ [Partido Nacional Escocês – NDT]. E agora a campanha de Corbyn para liderar o Partido Trabalhista tem exercido atração para todo o descontentamento. Ela aparenta ter atingindo um estágio irreversível, com Jeremy Corbyn rumo à vitória na disputa da liderança do partido.
A histeria dos zumbis blairistas
Os blairistas e o restante dos capachos do Partido Conservador dentro do Partido Trabalhista estão completamente frenéticos. Todos os velhos zumbis do passado – Tony Blair, Jack Straw, Alastair Campbell, etc. – têm se levantado do cemitério político para atacar Jeremy Corbyn. Mas não importa o que essa escória do New Labour [como é conhecido o período no qual o Partido Trabalhista foi liderado, principalmente, por Tony Blair e depois por Gordon Brown – NDT] faz ou diz, ela apenas acaba impulsionando, ainda mais, o apoio para Jeremy.
Esses carreiristas, que usaram o partido para o próprio avanço pessoal, estão guinchando de terror ante a perspectiva da perda de seu candidato pró-establishment. Seus assentos no parlamento e seus gordos salários já não estão seguros! Todo o “projeto” para tornar o Partido Trabalhista seguro para o capitalismo está desmoronando em frente aos seus olhos – e tudo porque permitiram Corbyn na eleição como um candidato “sem esperanças” de ser eleito. Esse é o motivo pelo qual esses “democratas” estão ameaçando uma guerra civil, caso Corbyn ganhe.
“Ó, por que deixamos as hordas de pessoas comuns terem um voto?” exclamam. Eles mudaram a regra para, justamente, manterem os blairistas no poder. Esse era o plano. Mas acabou explodindo bem na cara deles.
Essas criaturas têm falado descaradamente sobre uma “infiltração”. Os blairistas e seus amigos têm infiltrado o Partido Trabalhista por anos – infiltrados do Partido Conservador. Ninguém os impediu, enquanto socialistas foram, desgraçadamente, expulsos do partido. Os traidores do SDP (Partido Socialdemocrata, um racha de 1981) – que apunhalaram o Partido Trabalhista pelas costas – foram recebidos de volta de braços abertos por Blair e Cia. Esses políticos profissionais caíram de paraquedas em posições estáveis no Partido Trabalhista, apesar da oposição.
Esses são os verdadeiros infiltrados – os inimigos internos – que deveriam ser avaliados e expulsos. De fato, a vitória de Corbyn veria vários desses inúteis deixar o partido em busca de outro reduto político: a Câmara dos Lordes ou uma carreira em uma grande empresa. Eles se juntarão aos Lordes Kinnocks [referência a Neil Kinnock, que foi líder do Partido Trabalhista de 1983 a 1992 e é um carreirista – NDT] deste mundo e ao resto da gangue de carreiristas no Hall da Vergonha, que é o lugar ao qual eles pertencem.
Cláusula IV
A campanha de Corbyn, certamente, abriu a Caixa de Pandora. Ela libertou o entusiasmo de centenas de milhares de pessoas que, compreensivelmente, estavam desanimadas pelo Partido Trabalhista nos últimos 20 anos. Nos comícios de massa, qualquer menção ao socialismo é agraciada com uma salva de palmas. Os grupos sectários que intitulavam o Partido Trabalhista como “acabado” estão esfregando os olhos com absoluta incredulidade. Todas as suas tentativas de construir um novo partido dos trabalhadores se esvaíram em fumaça.
Junto às promessas de dar fim à austeridade, renacionalizar as ferrovias e introduzir para todos os trabalhadores um salário mínimo que satisfaça as necessidades básicas, etc., tem surgido a questão de se trazer de volta a Cláusula IV, o compromisso do Partido Trabalhista com o socialismo, adotado em 1918, mas abolido pelo belicista milionário Tony Blair. Descrito por Blair como o “momento definitivo na história de meu partido”, a dissolução da Cláusula IV representou uma ruptura simbólica com o passado do Partido Trabalhista e a chegada da era New Labour. Eles pensaram que o socialismo estava morto e enterrado. Eles se tornaram adoradores das grandes empresas e do status quo. Para eles, não havia alternativas ao amado “mercado”.
Mas após décadas de privatizações, mercantilizações, fechamentos de fábricas e ataques aos direitos da classe trabalhadora, as pessoas têm se cansado dessa torpe economia de mercado. A crise de 2008 e o resgate de banqueiros milionários e especuladores, combinado à austeridade que nos foi imposta, foi a última gota.
Corbyn disse ao The Independent no domingo [16/08/2015 – NDT]:
“Creio que nós devemos falar sobre quais são os objetivos do partido, se é restaurar a Cláusula IV como era originalmente escrita ou outra. Mas não devemos nos afastar da participação da população, de investimentos públicos na indústria e do controle público das ferrovias”.
Embora sua equipe, sob pressão, tenha recuado dessa sugestão, a ideia está posta. Não se pode suprimir uma ideia na qual tenha chegado o seu tempo. O capitalismo está experimentando sua pior crise desde a década de 30, possivelmente de sua história. Nunca houve uma época melhor para se propor uma alternativa socialista e se livrar desse sistema em crise.
Por um parlamentar dos trabalhadores com um salário de trabalhador!
Se Jeremy Corbyn vencer, ele será confrontado com um Partido Trabalhista parlamentarmente dominado pela direita. Que agirá como uma quinta coluna contra a liderança de Corbyn, que consideram como o último resquício socialista. A única saída para Jeremy Corbyn é convocar uma conferência de emergência para refundar o Partido Trabalhista e enterrar de uma vez por todas o New Labour.
Deveríamos trazer de volta a conferência anual como a entidade democrática suprema na elaboração das políticas, não como ela é atualmente – um mero meio formal para endossar o Gabinete Paralelo de direita. Isso também significa dissolver os fóruns políticos, que são usados pelos blairistas para impor sua visão aos filiados.
Deveríamos restaurar a re-seleção obrigatória dos parlamentares, na qual todos devem ser submetidos a reeleições periódicas, e não serem escolhidos de forma vitalícia, como no presente sistema. Isso significará que os parlamentares se tornarão verdadeiros representantes do Partido Trabalhista e de seus apoiadores.
Abaixo com o carreirismo! Queremos nossos membros do parlamento e vereadores comprometidos com a luta socialista. Por isso todos os parlamentares e representantes do Partido Trabalhista devem se comprometer a receber apenas o equivalente ao salário médio de um trabalhador qualificado (cerca de £30,000), com o remanescente do inchado salário parlamentar, de £76,000, devendo ser pago para um fundo de campanha. Todas as despesas deveriam ser examinadas pelos membros da base. Isso significa ter um parlamentar dos trabalhadores com um salário de trabalhador! Tais medidas eliminariam o carreirismo com um só golpe! Queremos pessoas que estão dedicadas em mudar a sociedade, não em aumentar o próprio salário.
Devemos trazer de volta a transformação socialista da sociedade como o objetivo central do partido. Devemos trazer de volta a Cláusula IV, que anteriormente era impressa em todos os cartões dos membros, mas foi apagada por Tony Blair. O que há de errado com “garantir aos trabalhadores manuais ou intelectuais os frutos integrais de suas atividades e a distribuição mais igualitária destes”? Essa cláusula também comprometeu o partido a “tomar as rédeas da economia”, nomeadamente “a propriedade comum dos meios de produção, distribuição e troca” sob a gestão e o controle democrático dos trabalhadores. Nunca houve um programa mais relevante neste período de crise capitalista e de austeridade.
Tal programa nos libertaria das amarras do mercado e nos permitiria planejar os recursos da economia. Isso aumentaria nossa produção anual em, pelo menos, 20%, nos permitindo pagar por todas as reformas, e mais. Aumentaria massivamente o padrão de vida, e daria a todos um nível de vida decente.
Lições da tragédia grega
A continuação do capitalismo resultará em uma austeridade sem fim e no aumento da miséria para os trabalhadores. Não há saída para os trabalhadores em uma base capitalista.
Precisamos aprender a trágica lição da Grécia e do governo de esquerda do Syriza, que acabou capitulando ante a Troika e impôs mais privações ao povo grego. No parlamento, um terço dos deputados do Syriza votou contra a austeridade ou se absteve. Alex Tsipras, o líder do partido, teve que recorrer aos votos de partidos desacreditados da oposição para ter a maioria e poder renovar a austeridade. Isso é para onde a aceitação do capitalismo conduz.
Tsipras era visto como o queridinho da esquerda. Havia ilusões que ele poderia aplicar suas políticas apenas pela força do compromisso. Suas intenções eram honráveis. Mas o caminho que leva ao inferno está pavimentado de boas intenções.
O apoio para uma posição anti-austeridade do Syriza foi demonstrado nas eleições gerais em janeiro e no referendo em julho. Com tal apoio, o partido poderia ter realizado, facilmente, uma transformação socialista na Grécia, atraindo, por sua vez, o apoio de trabalhadores pela Europa e ao redor do mundo. Em vez disso, a liderança do Syriza capitulou. Esse recuo levará a uma ruptura massiva em determinado ponto. O povo grego não vai tolerar esse ataque severo.
Enquanto uma tendência marxista, dizemos que nessa situação há enormes lições para nós. Não se pode remendar o capitalismo e deixar o poder dos grandes monopólios intactos. O governo não ditará à economia, mas a economia ditará ao governo. É por isso que devemos tomar as rédeas da economia.
Hoje a luta é para Jeremy Corbyn se eleger. Precisamos nos preparar para lutar contra qualquer golpe blairista que esteja sendo preparado. Chuka Umunna e Tristram Hunt já estão formando um grupo blairista anti-Corbyn, mesmo antes de o resultado ter sido anunciado. A direita nunca foi tímida em se organizar para atingir seus objetivos. É hora da esquerda se organizar para limpar o partido dos carreiristas de direita. Mas também precisamos lutar por um programa socialista como a única alternativa à austeridade capitalista.
Isto é o que dizemos:
Vote em Jeremy Corbyn!
Lute pelo Socialismo!
Junte-se à Corrente Marxista Internacional!
Tradução: Demétrius Ferreira