Por causa da crise causada pela Covid-19, tem se falado muito ultimamente sobre uma “fase 2”, etapa intermediária que deve levar gradualmente ao retorno às atividades produtivas. No entanto, parece haver ainda algumas divergências sobre o que fazer.
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A pressão das indústrias pela reabertura “antes que seja tarde demais” até agora deve muito provavelmente levar, de forma sorrateira e com o silêncio cúmplice dos governos, à reabertura parcial das atividades não essenciais ao enfrentamento da crise. Porém, as tentativas de conseguir um salvo conduto são confrontadas com números ainda pouco otimistas acerca dos novos contágios na Itália, que continuam superiores a três mil por dia.
Entre uma polêmica e outra, o primeiro-ministro Giuseppe Conte, em seu último decreto, abriu a possibilidade de iniciar a fase 2, embora o isolamento tenha sido prolongado até o dia 3 de maio, seguindo o protocolo de 14 de março, assinado pelo governo, pela Confederação Geral da Indústria Italiana (Cofindustria) e pelo sindicato, que traçou as diretrizes para a volta ao trabalho conforme “algumas regras”.
A verdade é que continuam os rumores de que a Sevel, indústria automotiva ligada à Fiat, tenha um provável retorno ao trabalho em 20 de abril. As pressões constantes dos patrões sobre o governo, como aconteceu com o decreto de 22 de março, podem levá-lo a não se manter firme sobre o fechamento total dos serviços não essenciais. Isso demonstra que firmar um acordo com os patrões, sem entrar em juízo quanto ao seu teor, foi provavelmente uma péssima escolha. Na verdade, agora os industriais têm uma arma a mais para conseguir o que querem, o que pode ser fatal na luta contra o coronavírus.
Para os trabalhadores, voltar às fábricas em 20 de abril ou depois não faz a menor diferença. A questão é se a volta ao trabalho se dará durante a emergência sanitária ou depois. Aceitar as diretrizes do acordo, ainda que submetidas “aos prazos e limites que serão estabelecidos pelo governo”, não vai proteger os operários no momento atual. O governo já demonstrou se importar mais com os argumentos a favor do lucro do que com a saúde dos trabalhadores.
Há um mês se discute, principalmente na Federação Italiana dos Trabalhadores Metalúrgicos (Fiom), sobre a impossibilidade de decidir acerca da reabertura ou não das empresas, tarefa que, segundo os líderes sindicais, seria de responsabilidade do governo e dos patrões. Acreditamos que o papel de um sindicato vai muito além de se submeter às decisões governamentais ou patronais. Confrontar e fazer greve também cumprem papel relevante quando as condições não permitem a segurança adequada dos operários. Firmar um acordo no atual contexto, sem uma restrição concreta ao avanço do vírus, na verdade aumenta os riscos para milhares de trabalhadores. Independentemente das medidas contra a propagação do vírus contidas no acordo, ainda que “validadas e corroboradas por virologistas”, qualquer reabertura produtiva não essencial durante a atual fase de emergência sanitária põe em risco a saúde dos trabalhadores e deve agravar a situação em todo o país.
A verificação de temperatura corporal determinada pelo documento, embora exigida pelos trabalhadores como medida de proteção temporária nesta fase emergencial, não permite por si só garantir que uma pessoa não tenha contraído o vírus e possa transmitir aos outros ao seu redor. É notório que os casos assintomáticos sejam talvez um dos fatores principais para a propagação do vírus. Da mesma forma, colocar para verificar a temperatura dos trabalhadores uma pessoa que não seja externa à empresa, que não esteja sob controle dos trabalhadores e seus representantes, torna o procedimento menos transparente e dá à empresa um instrumento inaceitável de discriminação contra os funcionários, violando o estatuto dos trabalhadores.
Em vez disso, devemos reivindicar que todos os trabalhadores, antes de retornar às atividades profissionais, devam ser submetidos a testes laboratoriais realizados exclusivamente por profissionais da saúde.
Quanto ao que disse, em recente entrevista, o secretário nacional da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL) na empresa Landini, na qual chamava a discutir não quando, mas como se retornaria às atividades produtivas, trata-se de uma óbvia subestimação do momento atual. Duas premissas estão profundamente conectados se quisermos evitar o pesadelo da Covid-19: os trabalhadores não são carne de canhão e também não são cobaias para testar os efeitos de uma eventual reabertura.
Mimmo Loffredo, Fiat em Pomigliano – Dirigente da Fiom/CGIL na Campânia
Vincenzo Chianese, Prima Sole em Gricignano di Aversa – Dirigente da Fiom/CGIL na Campânia
Matteo Parlati, Ferrari – Dirigente da Fiom/CGIL em Modena
Beppe Violante, Maserati – Dirigente da Fiom/CGIL em Modena