Com apenas uma semana até o dia das eleições, ninguém pode prever o que vai acontecer. Diante do grande número de eleitores indecisos, tudo é possível, inclusive um governo de Corbyn.
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Como nas eleições de 2017, pesquisas recentes mostram que os trabalhistas estão ganhando terreno. Um órgão de pesquisas de opinião, ICM, coloca a vantagem do Partido Conservador (Conservative Party), partido de Boris Johnson em sete pontos percentuais (42%) frente aos trabalhistas com 35%. De forma notória, uma pesquisa alternativa realizada pela BMG Research mostra o Partido Conservador com uma vantagem ainda menor, 39% em relação ao Partido Trabalhista (Labour Party) que marca 33%. Estes números apontam para uma composição parlamentar sem uma maioria definida independente de quem vencer.
A situação jamais esteve tão volátil. “Há muito mais ocorrendo sob as profundezas daquela que é a mais decisiva eleição britânica desde a Segunda Guerra Mundial” declara o Financial Times. Uma evidência disso são as 300 mil solicitações de inscrição em 24 horas, no último dia de prazo para registro eleitoral – o índice mais alto já registrado. O número total de novos registros foi significativamente superior aos 2,3 milhões feitos no mesmo período de 2017. A maioria dos registrados provavelmente são de jovens eleitores, isso certamente joga a favor do Partido Trabalhista. É importante destacar que ainda se pode avançar muito na reta final dessa campanha. Afinal, “uma semana é muito tempo em política“, segundo a famosa frase do ex-primeiro ministro trabalhista Harold Wilson.
Alerta no establishment
Após uma hesitação inicial, o establishment decidiu enfim apoiar Boris Johnson. Embora tenham reservas sobre ele: sua falta de integridade, seu oportunismo, sua ambição egoísta, suas mentiras.
Ainda assim eles temem muito mais um governo trabalhista à esquerda. A classe dominante não confia em Johnson. Eles estão alarmados com a ideia de que um governo conservador majoritário vá na direção de um possível Brexit sem acordo, até o final do próximo ano. Isso seria uma catástrofe.
Eles idealizavam uma situação onde um avanço do partido Liberais Democratas (Liberal Democrats – LD) desse a Johnson apenas uma pequena maioria no parlamento, com grupo considerável de liberais-democratas agindo para frear os conservadores (tories). Esse avanço dos LDs não ocorreu e essa esperança se dissipou.
Aliança profana
O establishment está envolvido em uma campanha cruel e abjeta para depreciar Jeremy Corbyn. O rabino ortodoxo Efraim Mirvis, atacou o Partido Trabalhista com uma inconcebível e mentirosa afirmação de que “a esmagadora maioria dos judeus britânicos está paralisada de terror“, diante de uma vitória trabalhista.
Mirvis teve o respaldo do Arcebispo de Canterbury (um ex-executivo do petróleo), líderes hindus britânicos e do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha: uma aliança profana disposta a vender sua ideologia reacionária. Todos são defensores entusiasmados do status quo, isto é, do capitalismo e do Partido Conservador.
A Grã-Bretanha não havia visto nada igual desde a notória campanha de “terror vermelho” envolvendo uma falsa carta de Zinoviev, (secretário-geral da Internacional Comunista de 1919 a 1926 – N. do T.) nas eleições gerais de 1924, que levou à derrota do governo trabalhista .
A classe dominante está extremamente aterrorizada pelo Manifesto de Esquerda do Partido Trabalhista, que desafia seu sistema manipulado, seus privilégios e sua riqueza. Corbyn alertou que seu ataque contra sonegadores de impostos, poluidores e proprietários bilionários geraria uma resposta histérica desses setores. E assim tem sido.
O establishment multimilionário, nessa histeria anti-Corbyn se uniu aos agentes das grandes empresas que atuam dentro do próprio Partido Trabalhista: caras como Tony Blair e os direitistas do PLP (Parliamentary Labour Party), bem como a todos os renegados que abandonaram o partido.
Os trabalhadores britânicos devem dar as costas a essa conspiração podre. Esses altos defensores do capitalismo não têm nada a lhes oferecer, exceto mais austeridade, ataques e dificuldades. Eles mentem descaradamente para proteger seu sistema de lucro.
Questões de Classe
Diante da incerteza política, os próximos dias serão cruciais. O Partido Trabalhista está ganhando terreno. Pesquisas de opinião estão subestimando deliberadamente o apoio que têm os trabalhistas. Certamente podemos vencer essas eleições. Na campanha de porta em porta (conversando com os eleitores), o Brexit se tornou cada vez menos uma preocupação. Problemas de classe ressurgiram. Com a queda dos Liberais-Democratas, a situação está se tornando cada vez mais polarizada. A eleição foi reduzida a uma luta direta entre trabalhistas e conservadores, entre o movimento Corbyn e o bilionário Boris Johnson.
À medida que a linha de chegada se aproxima, Johnson e sua equipe estão cada vez mais aterrorizados com o medo de escorregar. O primeiro-ministro foi forçado a fugir para Salisbury nesta semana, inventando uma desculpa para escapar de Londres e evitar o contato com o tóxico Trump, que estava visitando o Reino Unido nesta semana para a reunião de cúpula da Otan. Os estrategistas conservadores sabem que qualquer associação com o presidente dos EUA seria uma espécie de ”marca de Caim”, principalmente depois das recentes revelações sobre as tentativas dos negociadores de Washington de obter acesso ao NHS (National Health Service – o sistema público de saúde – N. do T.) em nome de grandes empresas norte-americanas.
Mentiras
É claro que Johnson está com medo: ele se recusa a ser entrevistado ou a participar de debates na televisão. Em vez disso, tenta politizar desesperadamente o recente ataque terrorista da Ponte de Londres para ganhar mais alguns pontos, voltando-se para uma torrente de mentiras e difamação, com o objetivo de jogar poeira nos olhos dos eleitores.
Conforme o esperado, a imprensa capitalista atuou como um leal porta-voz dos conservadores nesta eleição, lançando uma série interminável de ataques a Corbyn e ao Partido Trabalhista. A BBC também desempenhou seu papel, regurgitando mentiras e privilegiando Johnson em todos os momentos. Mas não há nenhuma novidade nesse comportamento do establishment.
Muito embora essas calúnias e distorções tenham tido certo efeito, os atos realizados pelos trabalhistas, a campanha eleitoral massiva e o manifesto radical, tendem a transcender isso. As difamações da classe dominante não conseguiram romper os fortes laços de classe entre os trabalhadores e o Partido Trabalhista.
“Se a escolha for entre manter o Brexit com conservadores e trabalhistas, voto com o Partido Trabalhista“, disse Tommy Kennedy, eleitor da cidade de Birkenhead, favorável ao rompimento com a União Europeia. “Os conservadores sempre destruíram o norte da Inglaterra“, completa.
Este sentimento é perceptível em muitas cidades do norte, independentemente do Brexit. É aqui que os conservadores podem se dar mal. Eles estão apostando em buscar apoio nessas áreas, mas isso não está dado. Sem esse apoio, os conservadores teriam dificuldade em obter a maioria.
Incertezas
Está muito difícil prever o resultado dessa eleição. Os estrategistas do capital certamente estão desconfiados. “Vários investidores que conversaram com o Financial Times disseram que, embora uma vitória trabalhista pareça improvável, não pode ser descartada. Um governo ou uma coalizão trabalhista também é uma possibilidade”, explicou o jornal das grandes empresas.
Precisamos intensificar a luta por cada voto para garantir um governo trabalhista de Corbyn. Temos tudo pelo que lutar!
“Haverá incerteza seja qual for o resultado“, disse Oliver Blackbourn, gerente de portfólio da Janus Henderson Investors. Estamos totalmente de acordo com ele. Qualquer que seja o resultado, a Grã-Bretanha entrará em um período de instabilidade e turbulência ainda maiores. Se Johnson conseguir vencer, todo o inferno se abrirá, especialmente na frente industrial. Trabalhadores – e especialmente jovens – tomarão as ruas. Uma vitória conservadora abrirá um período de intensa radicalização. Em meio ao aprofundamento da crise mundial, esse governo não durará muito.
Por outro lado, um governo de Corbyn, elevará os ânimos de milhares. Entretanto, ele enfrentará a sabotagem das grandes empresas desde o início. Qualquer ameaça ou chantagem dos capitalistas deve ser enfrentadas com firmeza. Nós iremos defender um governo trabalhista. Mas também alertamos que ações decisivas devem ser tomadas contra os bilionários. Nada será resolvido a menos que o capitalismo seja derrubado de uma vez por todas. Esses são os desafios que nós – o movimento trabalhista – devemos enfrentar. Para começar, precisamos remover Johnson do poder e garantir a vitória trabalhista!
Boris sai, Corbyn entra!
Lute por um governo socialista trabalhista!