Na semana passada, de 17 a 19 de março, os marxistas na Grã-Bretanha deram um importante passo à frente na conferência nacional de ativistas e apoiantes de Socialist Appeal em Londres. Não só foi esta a maior e mais bem-sucedida conferência até agora, como também marcou o lançamento do novo jornal quinzenal Socialist Appeal – uma tremenda realização e um importante marco para as forças do marxismo na Grã-Bretanha.
A crescente força da tendência marxista foi revelada quantitativa e qualitativamente durante o final de semana, com mais de 150 assistentes e uma análise política impressionantemente aguda e perspicaz proporcionada por todos os camaradas durante as discussões.
O ânimo na conferência entre o público notavelmente jovem foi de incrível entusiasmo e otimismo – não apenas por causa das condições revolucionárias que estão sendo preparadas na Grã-Bretanha e internacionalmente, como também por causa do claro progresso realizado pelos marxistas na construção do mais crítico fator perdido na luta de classes: o de uma voz revolucionária audaz e militante para a classe trabalhadora e a juventude.
A passagem para uma publicação quinzenal de Socialist Appeal foi uma clara indicação para todos na conferência do fortalecimento da tendência marxista na Grã-Bretanha, e o novo design em particular foi calorosamente recebido.
Todos estavam de acordo: esta foi a melhor conferência dos ativistas de Socialist Appeal ao longo dos 25 anos da história do jornal – e um tributo digno para celebrar o centenário dos inspiradores acontecimentos da Revolução Russa.
Perspectivas para a Revolução
Alan Woods, editor de In Defence of Marxism, abriu a conferência na noite de sexta-feira com uma introdução à discussão sobre perspectivas mundiais. No espaço de uma hora, Alan delineou os movimentos revolucionários que se desenrolam em todo o globo e, em particular, a turbulência e instabilidade que podem ser vistas econômica, política e socialmente.
O que mais se destaca, sublinhou Alan, são as crises políticas que estão irrompendo de um país a outro, enquanto as massas atacam o establishment e rejeitam o debilitado status quo. É este sentimento de raiva e ressentimento contra a ordem existente, enfatizou Alan, que está por trás dos abalos políticos da eleição de Donald Trump, do voto Brexit e da ascensão de demagogos de direita como Le Pen na França.
É neste contexto de volatilidade global que devemos entender os vários processos que ocorrem internacionalmente: a crise do euro e da União Europeia; o declínio do imperialismo EUA e o equilíbrio cambiante das relações mundiais; e a polarização política que se vê em todos os países, com agudas oscilações à esquerda e à direita.
Muitas das contribuições do plenário desenvolveram esses pontos levantados por Alan, com oradores proporcionando exemplos concretos da Holanda, Itália, França, Polônia e EUA que demonstram o colapso do “centro” e o fracasso do status quo liberal que tinha dominado previamente durante décadas.
Longe de ser o fim da história, observou Alan em seu resumo, podemos ver que a queda da União Soviética foi meramente o prelúdio de uma crise muito maior: a do sistema capitalista. Todas as condições estão sendo preparadas agora para uma enorme explosão da luta de classes em todos os países. A tarefa premente é construir as forças do marxismo em preparação para estes eventos gigantescos.
Caos e luta de classes na Grã-Bretanha
A discussão sobre perspectivas mundiais proporcionou uma moldura ideal para a sessão de abertura do sábado sobre as perspectivas para a luta de classes na Grã-Bretanha, que foi introduzida por Rob Sewell, editor de Socialist Appeal.
Rob falou apaixonadamente sobre a enorme instabilidade que está se abrindo na política britânica. Antes, o Reino Unido era visto como uma ilha sonolenta onde os acontecimentos se moviam à velocidade glacial, ou seja, muito vagarosamente. Agora, contudo, a Grã-Bretanha está no centro da crise mundial, com terremotos políticos como o (primeiro) referendo da independência escocesa e a votação do Brexit quebrando o frágil e delicado equilíbrio existente.
Acima de tudo, sublinhou Rob, devemos entender como as contradições inerentes ao processo significam que todas as coisas, mais cedo ou mais tarde, devem dialeticamente se transformar em seu oposto.
A expressão mais vívida disto é o caos que está envolvendo rapidamente o Partido Tory [Partido Conservador] e o governo de May, com o escândalo das despesas eleitorais e a embaraçosa e brusca virada do orçamento de Philip Hammond que já está enfraquecendo os Tories. Esses, contudo, são apenas a ponta do iceberg, e o Primeiro Ministro logo se verá envolvido e enredado na teia de negociações impossíveis do Brexit e do IndyRef2 [segundo referendo da independência escocesa – NDT].
A aparente força do governo Tory, como explicou Rob, é, portanto, extremamente superficial. May e os Tories poderiam afundar rapidamente nas pesquisas enquanto o seu partido racha sobre a questão europeia e o país se destroça com o crescimento da questão nacional na Escócia e no Norte da Irlanda.
Em tal cenário, continuou Rob, a possibilidade de um governo trabalhista liderado por Corbyn pode se tornar real. A classe dominante faria de tudo para deter este resultado, e seguramente estaria preparada para tratar de dividir o Partido Trabalhista, caso necessário. Ao mesmo tempo, se Corbyn não lutar audazmente para que os membros da base reclamem o Partido e o transformem, então o líder trabalhista poderia se encontrar isolado e o movimento por trás dele asfixiado.
Em qualquer caso, concluiu Rob, é claro que um período de enorme turbulência e de intensa luta de classes está diante dos trabalhadores e jovens na Grã-Bretanha. As ideias do Marxismo ganharão um eco maior, uma vez que milhares dos mais radicalizados na sociedade buscam uma saída do impasse – uma alternativa à austeridade, à guerra e ao racismo dos Tories e do sistema podre que defendem.
Vários oradores contribuíram para a discussão, explorando as diferentes questões levantadas por Rob em sua introdução. Em particular, o tema e as implicações de um segundo referendo escocês foram debatidos, assim como o enfoque que os marxistas deviam adotar em relação à questão do Brexit e as demandas pelas quais devia lutar a direção trabalhista de Corbyn.
Por outro lado, os camaradas desenvolveram as perspectivas sobre a renovada crise no Norte da Irlanda, as divisões fracionais no Partido Tory, os protestos anti-Trump e a crescente radicalização entre a juventude. Todos estavam de acordo: nunca existiram perspectivas tão promissoras à construção das forças do marxismo – à construção da liderança revolucionária que se necessita para se oferecer uma alternativa real ao capitalismo.
À frente com o jornal quinzenal!
Na tarde do sábado se produziu o histórico lançamento do jornal quinzenal – uma celebração digna do centenário da Revolução Russa, bem como um marco oportuno depois de 25 anos de publicação de Socialist Appeal.
O organizador nacional de vendas, James Kilby, abriu o lançamento oficial do quinzenal delineando as oportunidades que um jornal quinzenal abre para divulgar as ideias do marxismo. O aumento do ritmo não somente permite uma análise mais oportuna dos acontecimentos turbulentos que se desenvolvem em todo o mundo; também oferece mais espaço para se saber das vidas e das lutas dos trabalhadores em todas as áreas e caminhos da vida.
Camaradas de todo o país compartilharam seu entusiasmo pelo novo jornal, e para usá-lo na construção de uma rede de vendedores em cada bairro, local de trabalho e campus. Apesar do esforço adicional que ser requer para produzir e vender esta publicação mais frequentemente, os camaradas mostraram sua disposição de superar todos os obstáculos, e de avançar para os desafios futuros. Isto ficou demonstrado de forma mais gráfica pela impressionante coleta financeira no final do dia, onde – graças ao sacrifício dos camaradas e apoiadores – foi alcançado o objetivo de se arrecadar 10 mil libras.
Com a crise do capitalismo se intensificando em escala mundial, a necessidade de um jornal semanal e mesmo diário nunca foi maior. O lançamento do quinzenal é, portanto, um importante passo à frente nesse sentido, e ajudará Socialist Appeal a se tornar um ponto focal para todos os que querem o fim do pesadelo do capitalismo e que lutam por um mundo socialista.
Depois de uma animada atividade social noite do sábado, os participantes voltaram na manhã do domingo para discutir como construir as forças do marxismo na Grã-Bretanha e internacionalmente.
Daniel Morley introduziu a discussão sobre o trabalho dos marxistas na Grã-Bretanha, descrevendo os vários êxitos alcançados por Socialist Appeal e pela Federação de Estudantes Marxistas no ano passado: desde o festival 300-strong REVOLUTION! em outubro do ano passado ao vibrante bloco juvenil na demonstração nacional mais recente de NUS/UCU e as impressionantes campanhas organizadas pelos estudantes marxistas nas universidades de Leeds e KCL [King’s College London] entre outras.
Vários camaradas informaram sobre atividades que são realizadas localmente, bem como ofereceram assessoramento aos ativistas jovens sobre como difundir as ideias do marxismo e se conectar com os crescentes movimentos dos trabalhadores e estudantes.
Após o almoço, Jorge Martin ampliou os horizontes dos presentes proporcionando um informe da Corrente Marxista Internacional, discutindo o trabalho que está sendo feito pela CMI em cerca de 30 diferentes países – do Canadá ao Brasil, e da Itália ao Paquistão. Em todos os países, como explicou Jorge, os marxistas estão vendo um crescente interesse nas ideias revolucionárias. As perspectivas para a construção da tendência marxista nunca foram tão grandes.
Alan Woods retornou à tribuna para as palavras finais da conferência, observando com precisão o clima de otimismo e entusiasmo palpável entre os camaradas. Acima de tudo, enfatizou Alan, é a partir da força de nossas ideias que os marxistas ganham tal sentimento de otimismo. Enquanto todos os burgueses, liberais e reformistas lamentam e choram com suas previsões pessimistas de desgraças e tristezas, sem ver qualquer saída ao marasmo do capitalismo, estamos confiantes no poder da classe trabalhadora para transformar a sociedade.
O principal fator ausente é o fator subjetivo: uma liderança revolucionária para os movimentos de massas dos trabalhadores e da juventude. É isto o que os ativistas de Socialist Appeal na Grã-Bretanha estão tentando construir. Apelamos a todos os nossos leitores que se juntem a nós nesta luta.