Brasil: a melhor forma de combater Bolsonaro

A postura dos marxistas não é a de combater Bolsonaro usando a moral burguesa. A nossa moral reflete os interesses do conjunto da classe trabalhadora e nosso combate expressa a forma mais resoluta desse combate. É desse ponto que devemos partir.

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O tipo de pergunta feita por Boulos ‘(…) Bolsonaro recebeu auxílio moradia tendo casa, aliás tem a proeza de ter aprovado dois projetos e ter comprado cinco imóveis. Mais imóveis que projetos. Você não tem vergonha Bolsonaro?’ não ajuda os trabalhadores a compreenderem que o problema central não é que este candidato é um corrupto e que se utiliza da política para enriquecimento pessoal, o que também é verdade. O central é o próprio sistema capitalista, que é corrupto por essência. Os seus representantes no parlamento querem manter o estado capitalista exatamente dessa forma, em favor de seus próprios interesses, mas principalmente para quebrar a resistência dos trabalhadores, se utilizando de todo o aparato estatal para manter os operários como explorados e oprimi-los em qualquer tentativa de enfrentamento. É exatamente por isso que Bolsonaro não é um candidato para mudar tudo que está aí.

Se queremos combater Bolsonaro do ponto de vista moral, da moral proletária, temos que ter em mente que essa moral, pressupõe a defesa dos interesses da própria humanidade, que está inteiramente ligada ao futuro da revolução mundial e, portanto, da própria classe operária. Quando Bolsonaro emite declarações como a de apoio a torturadores, estupro ou mesmo de combater a violência com mais violência, como abertamente falou sobre a situação carioca, ele representa a moral burguesa de afundar toda uma geração de trabalhadores e jovens na barbárie, em nome do mercado e de seus próprios interesses. E é exatamente a isso que nos opomos. A classe operária e sua juventude querem ter o direito a um futuro em que a violência, em todos os seus níveis, não seja mais parte corriqueira do cotidiano.

Um candidato de ataque aos trabalhadores e jovens

Nas entrevistas, Bolsonaro e seu economista Paulo Guedes são claros em representar os interesses de uma classe: a dos empregadores, como eles costumam dizer.

Bolsonaro afirma que o salário é pouco para quem recebe e muito para quem paga e a solução que ele encontra está em como se coloca como porta-voz dos patrões, dizendo que ‘‘uma hora os trabalhadores vão precisar escolher entre direitos ou emprego’’.

Colocando uma faca no pescoço dos trabalhadores, o que ele está dizendo é ‘escolham entre desemprego ou trabalhos precários’. A posição de ataque aos operários ficou clara em como votou o deputado para aprovação da Reforma Trabalhista e da Emenda Constitucional 95, do teto dos gastos, reduzindo a oferta de serviços públicos inclusive para aqueles que pensam que serão defendidos por ele, como é o caso dos militares. Ou os filhos dos militares e suas famílias não utilizam serviços públicos?

No PL da terceirização, Bolsonaro cinicamente se absteve, mas quando ocorreu a votação do projeto de lei para regulamentação do trabalho doméstico, o mesmo votou contra, negando o direito de milhões de trabalhadores brasileiros que prestam tal serviço.

Paulo Guedes, em entrevista ao Globo News, disse abertamente que é necessário uma Reforma da Previdência como a do Chile de 1981, na ditadura de Pinochet. Vale a pena explicar aos jovens e trabalhadores que tal reforma privatizou a previdência, colocando o dinheiro dos operários em um fundo administrado por capitalistas, que investiram no mercado financeiro. O resultado para a primeira geração que se aposentou nesse modelo é uma redução brutal do nível de vida e poder de compra. Segundo dados do artigo publicado pela BBC, 90,9% dos aposentados recebem menos do equivalente de 149.435 pesos, algo em torno de R$694,08, enquanto o salário mínimo no Chile é 264 mil pesos, equivalente a R$1.226,20.

Bolsonaro e seu economista apresentam também um programa de privatizações que vai desde as empresas estatais federais, passando pelas estaduais e chega até a educação, com a possibilidade de ‘escolha’ por parte do estudante, se quer estudar numa escola pública ou privada. Mas é bom explicar à juventude que a massificação do ensino superior privado no Brasil se deu pela falta de investimentos nas universidades públicas. Isso tornou o ensino desde o básico até o superior para todos impossível e empurrou os filhos da classe operária para as mensalidades das universidades privadas.

Além disso, a universidade privada se tornou uma ‘opção’ apenas pelo descaso do Estado brasileiro para com a educação e pesquisa, que um governo Bolsonaro pretende continuar, como se pôde ver em sua declaração sobre o incêndio do Museu Nacional (“já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê?”)

Regredir ao Século 19

Paulo Guedes, economista de Bolsonaro, defende o que juntos chamam de uma agenda liberal-democrática para o Brasil, o que envolve, em termos bem claros, entregar as empresas estatais como meio rápido de gerar divisas para o pagamento da dívida pública; aumentar a exploração direta da força de trabalho, reduzindo direitos trabalhistas e previdenciários e o alcance das convenções coletivas de trabalho. A proposta da Carteira Verde-Amarela significa fazer prevalecer o negociado sobre o legislado em toda a regra, com os patrões “negociando diretamente” com os trabalhadores. O que ele pretende é nos fazer retornar às condições descritas por Engels em 1845:

‘‘Em muitas regiões, nomeadamente no norte de Inglaterra, há o costume de contratar os trabalhadores por um ano. Comprometem-se a não trabalhar para mais ninguém durante este período, mas o patrão, esse não se compromete a dar-lhes trabalho; ficam muitas vezes sem trabalho durante meses, e se procuram trabalho noutro lado mandam-nos para a prisão durante 6 semanas por abandono do posto (…)’’ (A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra)

Bolsonaro quer se eleger para atacar o conjunto da classe operária e sua juventude. E por isso nos contrapomos à ele, explicando que o nosso combate é pelos interesses da classe trabalhadora em seu conjunto.

O grupo “Mulheres Contra Bolsonaro” arrastou vários outros movimentos e categorias à luta nas ruas, o que é, sem dúvida, a expressão da resistência e da disposição de luta. Nós explicamos que a luta é contra Bolsonaro e todos os outros candidatos burgueses. A emancipação dos trabalhadores será obra deles próprios e para isto precisamos nos organizar para combater o capitalismo.

E a educação das nossas crianças?

Bolsonaro afirmou, quando perguntado por jornalistas, que todos os níveis de ensino poderiam ser à distância. Ele é a favor do projeto “Escola Sem Partido” e expressa com essa intenção: a) o sucateamento da educação básica, onde o convívio social e a interação são extremamente importantes para o desenvolvimento da criança em sociedade; b) um completo ataque à existência de todos os professores como categoria; c) o aprofundamento do sucateamento da educação pública, laica e para todos. E não nos esqueçamos, se ele usa a fraseologia antimarxista para sustentar essa intenção, o que está por trás é uma sinalização aos tubarões do ensino sobre sua intenção de redução de custos e de mais um mercado para explorarem.

Bolsonaro é fascista?

Desde 2013 a tese da chamada “onda conservadora” vem sendo desenvolvida pelo PT e outros que se proclamam socialistas no Brasil. Essa tese, por um lado, covardemente responsabiliza os trabalhadores pela eleição do “congresso mais reacionário da história”; pelo impeachment de Dilma e agora pela posição de Bolsonaro nas pesquisas, ou seja, o avanço do fascismo e das forças conservadoras. Por outro lado, busca exercer uma pressão sobre as organizações de esquerda em torno da defesa da política de colaboração de classes do PT e de Lula. Fomos contra o impeachment de Dilma e a prisão de Lula sem provas, mas não nos rendemos a essa tese.

Chamá-lo de fascista é uma qualificação incorreta no estágio atual; ele não dirige uma organização militarizada voltada para destruir, moral e fisicamente, a classe operária, não tem base organizada e incitada com esse fim; Se a burguesia tem incômodos com relação a Bolsonaro, o maior deles é exatamente a lembrança do que acometeu Collor, também eleito ao arrepio dos políticos tradicionais burgueses. Mais do que a “incompetência” ou “incoerência” de Bolsonaro, o que mais incomoda a burguesia é a lembrança do “Fora Collor”, com milhões nas ruas. Por isso a burguesia teme aderir a ele e setores importantes dela tendem a fazer campanha para o PT.

Para combater Bolsonaro precisamos chamá-lo pelo que ele é: um candidato de ataque aos trabalhadores, um defensor da tortura e um defensor das desigualdades criadas ou aprofundadas pelo capitalismo. Um demagogo de direita que se utiliza do sentimento antissistema do povo para reforçar as ilusões no próprio sistema. Chamá-lo de machista, racista e homofóbico (o que ele é) nada resolve (a maioria dos candidatos burgueses também o são). A facada em Bolsonaro só o deixou na posição de “coitadinho” e o afastou dos debates, impedindo que suas declarações antioperárias fossem mais disseminadas.

Para combatê-lo, temos que estar organizados antes e depois das eleições, fazendo a propaganda contra o capitalismo e pelo socialismo, trabalhando ativamente pela construção da direção revolucionária, que é a única chave para abrir as portas do reino da liberdade e jogar de vez tipos como Bolsonaro para a lata do lixo da história.

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