As manifestações de 15 de maio foram massivas, com forte participação da juventude e expressaram o ânimo e combatividade presente na base. Segundo a CNTE, cerca de 2 milhões de pessoas foram às ruas nessa data.
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Os atos que tomaram o país provocaram um salto na instabilidade política nacional, marca da conjuntura internacional, cuja raiz é a crise e decadência do sistema capitalista.
A economia brasileira está estagnada. Após o pífio crescimento de 1% em 2017, e 1,1% em 2018, o primeiro trimestre de 2019 deve fechar com queda de 0,68%, segundo a prévia do Banco Central. O dólar sobe e as ações caem. O desemprego segue crescendo, com mais de 13 milhões de pessoas em busca de trabalho.
Menos de cinco meses foram necessários para uma boa parte dos que votaram em Bolsonaro, acreditando que ele seria uma alternativa ao sistema, romperem as ilusões e constatarem a farsa de seu discurso. Antes mesmo das manifestações, o apoio popular ao governo já havia despencado para 32% (Datafolha).
A recente viagem de Bolsonaro aos EUA, com sua comitiva, assim como a primeira realizada em março, foi mais uma demonstração do caráter servil do governo ao imperialismo (bateu continência para a bandeira americana, elogiou os EUA como modelo, etc.). O Ministro da Economia, Paulo Guedes, aproveitou para anunciar a “fusão” (venda) do Banco do Brasil com o Bank of America. Dessa forma, nem mesmo o ritual de leilões fajutos, como os realizados para privatizar a Vale do Rio Doce, ou subsidiarias da Petrobras, vai ser cumprido. É a entrega pura e simples do Banco do Brasil para um banco dos EUA, de “livre” escolha do ministro!
A crise política se desenvolve velozmente e o presidente joga mais gasolina na situação. O fato de ter chamado milhões de manifestantes de “idiotas úteis”, “imbecis” e “massa de manobra” é um exemplo claro disso.
A burguesia, que já vinha impaciente com o novo governo, elevou o tom após as manifestações. No mesmo dia 15 a revista Veja publicou matéria divulgando ação do Ministério Público com suspeitas de lavagem de dinheiro por parte do filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro.
Em 19 de maio, o editorial do jornal O Estado de SP intitulado “O governo contra a economia” concluía: “Jair Bolsonaro confirmou mais uma vez, na sexta-feira, a capacidade do governo, especialmente de seu chefe, de causar confusão e prejudicar o País”. Prejudicar o país, obviamente, trata-se de prejudicar a aprovação dos interesses da classe dominante.
O episódio da sexta-feira a que se refere o jornal foi o artigo divulgado e recomendado por Bolsonaro em grupos de WhatsApp. O artigo diz que o Brasil é “ingovernável” fora dos “conchavos”, e apresenta o governo Bolsonaro como vítima das “corporações”. As “corporações” seriam os “políticos” (Congresso Nacional), os “sindicalistas de toga” (membros do STF e do judiciário), além dos “servidores-sindicalistas” e de “grupos empresariais bem posicionados nas teias de poder”.
Nos dias que se seguem Bolsonaro mantém a linha da carta e divulga pelas redes sociais o vídeo de um pastor obscuro, que declara que Bolsonaro foi o “ungido” de Deus para governar o país.
O que avança, de fato, é o conflito de Bolsonaro com o parlamento e o judiciário, buscando se colocar acima destes poderes, buscando reforçar o caráter bonapartista do governo. Sua tentativa de apelar às massas é própria dos regimes bonapartistas, onde o “Bonaparte” busca se apoiar diretamente nas massas para combater as outras instituições e poderes que restringem suas ações. O objetivo é impor um “governo da espada”, um governo mais forte, que ele dirija sem controle algum para seguir sua política de submissão ao capital financeiro e ao imperialismo, de ataque à classe trabalhadora.
Na tentativa de dar uma resposta às manifestações do dia 15, os apoiadores de Bolsonaro foram convocados para atos no próximo dia 26. Na chamada está o impeachment de Gilmar Mendes e Dias Toffoli, do STF, apoio à aprovação do projeto de lei anticrime de Moro, apoio à “Nova Previdência” e, é claro, apoio ao Jair. Entretanto, os apoiadores de Bolsonaro se dividiram sobre esse dia, o que tende, de um lado, a aumentar o caráter messiânico dos atos e, de outro, a esvaziá-los. Janaina Paschoal e Joice Hasselmann se colocam contra os atos. O MBL também “desconvocou” o ato. A divisão nas fileiras do bolsonarismo se torna evidente.
Estas manifestações podem reunir alguns milhares, mas não têm o mesmo potencial dos atos que reuniram uma massa pequeno-burguesa em 2015 e 2016, pelo impeachment de Dilma, que tinham a vantagem de ser convocados com apoio da Rede Globo e contra um governo que estava à frente do país em meio à recessão. Também devem ser menores do que os atos em apoio a Bolsonaro durante as eleições do ano passado, diante da perda de apoio do governo. Obviamente, alguns milhões ainda apoiam Bolsonaro, mas outra coisa são os que estão dispostos a ir à rua defender o governo. O certo é que serão quantitativamente e qualitativamente menores do que os atos de 15 de maio.
O que está em ascensão, por outro lado, é o “Fora Bolsonaro!”, que foi adotado por diferentes manifestações no dia 15. A Esquerda Marxista tem defendido esta palavra de ordem, apesar de dirigentes e organizações de esquerda que têm se colocado contra agitá-la. Haddad, Dilma e o PT colocaram-se contra dizendo ser necessário crime de responsabilidade para poder pedir o impeachment, mantendo sua política contrarrevolucionária de sustentação das instituições. Concretamente defendem o direito de Bolsonaro cumprir o mandato até o final. Por diferentes argumentos, outras tendências do PT (O Trabalho, CSD, etc.), o PCdoB, PSTU, PCB, a direção majoritária do PSOL (Unidade Socialista) e outras tendências do partido (Insurgência, MES, Resistência) se colocaram contra agitar a palavra de ordem Fora Bolsonaro.
O dia 15 foi uma lição para as organizações de esquerda que insistem que atravessamos uma “onda conservadora”, ou a existência de uma ascensão do “neofascismo”. O que existe, de fato, é ódio ao sistema e disposição de luta da base.
A burguesia se distancia do governo, mas ainda não está majoritariamente decidida a rifar Bolsonaro. Enquanto isso, o vice, Mourão, continua se apresentando como uma alternativa mais “sensata”. Outro que tenta se colocar como uma alternativa para garantir a paz social e reavivar a credibilidade das instituições burguesas é Lula, e esse é o sentido político fundamental de suas recentes entrevistas.
A EM defende o Fora Bolsonaro, levantamos essa palavra de ordem por compreender que esse combate tem o potencial de mobilizar politicamente jovens e trabalhadores. A queda de Bolsonaro seria uma vitória para o proletariado e uma derrota para a burguesia e o imperialismo. Um movimento desse tipo poderia abrir uma situação revolucionária no país. O movimento Fora Collor tinha esse sentido e só foi contido porque Lula e o PT legitimaram a posse do vice, Itamar Franco. Hoje, é bom lembrar, Lula e PT não têm a mesma moral e controle sobre o movimento operário que tinham em 1992.
Os desenvolvimentos da situação são imprevisíveis. O certo é que o que ocorreu no dia 15 de maio vai continuar se desenvolvendo.
A UNE, pressionada pelas mobilizações da base, convocou novas manifestações contra os cortes na educação para o próximo dia 30. A CUT e as centrais sindicais anunciaram no 1º de maio a Greve Geral contra a Reforma da Previdência para o distante 14 de junho. Apesar do bloqueio das direções, da falta de impulsão e mobilização da base pela UNE e pela CUT, as massas devem se expressar novamente nessas datas. A Esquerda Marxista convoca todos a se somarem aos atos do dia 30 e à Greve Geral de 14 de junho. É possível vencer, é possível derrubar Bolsonaro, é possível que uma situação revolucionária se abra neste país para avançar a luta pelo socialismo.
A Esquerda Marxista, seção brasileira da CMI, se coloca como uma tendência do movimento operário, embrião do partido revolucionário capaz de ajudar a classe trabalhadora a tomar o controle da sociedade. Grandes mobilizações e mesmo revoluções podem ser derrotadas se não é construída uma direção capaz de ganhar a confiança das massas. As Jornadas de Junho de 2013 foram dissipadas e desviadas pela ausência de uma direção revolucionária consequente. Esse partido é o que os revolucionários da atualidade têm o desafio urgente de construir. Junte-se a nós nesse combate!
- Abaixo a Reforma da Previdência!
- Educação pública e gratuita para todos! Contra os cortes na educação e na ciência!
- Não pagamento da dívida!
- Preparar a Greve Geral!
- Fora Bolsonaro!