O Brasil está batendo recordes da quantidade de mortes diárias por Covid-19 e hoje (4), o país ultrapassou os 260 mil mortos. Soma-se a isso o colapso do sistema de saúde do país, com a ocupação de leitos ultrapassando 80% da capacidade em pelo menos 16 estados e Distrito Federal e nove estados ultrapassando os 90% da capacidade. Ao falar sobre a gravidade da situação, a pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), disse que “teremos o março mais triste de nossas vidas”1. Diante desse quadro, Bolsonaro respondeu:“chega de frescura e mimimi. Vão ficar chorando até quando?”
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Os dados são alarmantes, o Brasil voltou a ultrapassar os Estados Unidos na média de novas mortes diárias por milhão de habitantes, chegando a 6,3. A lotação de UTIs anuncia o colapso total. Entre os estados com alto índice de lotação, “estão: Santa Catarina (99%), Rondônia (97%), Ceará (93%), Pernambuco (93%), Acre (92%), Amazonas (92%), Paraná (92%), Rio Grande do Norte (91%) e o Distrito Federal (91%).”2Nesses estados, não estão morrendo somente vítimas da Covid-19 que precisam de internação, mas também qualquer outro caso emergencial, como vítimas de acidente de carro etc.
Bolsonaro tentou mostrar alguma ação ao relatar os miseráveis números de compra de vacinas diante da imensidão de mortos. O que ele não fala é a quantidade de oportunidades que o Brasil já perdeu de adquirir novas doses. Em fevereiro, cidades como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Cuiabá e Curitiba suspenderam a vacinação por falta de doses, por exemplo. Recentemente, Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, afirmou à BBC Brasil3:
“O Brasil teria condições de ter uma oferta muito maior de vacina se nós tivéssemos feito o que outros países fizeram, como, por exemplo, o Chile. O Chile hoje tem três doses de vacina por habitante, só que ele começou a comprar vacina em setembro”
“Nós não começamos a comprar vacina cedo. O governo federal não fez nenhuma aposta.”
O fato é que Bolsonaro não passa de um demagogo quando afirma qualquer tipo de iniciativa real para adquirir novas doses. Em 2020, o governo Bolsonaro deixou de utilizar R$ 80 bilhões disponíveis para a contenção do avanço da pandemia no país. Quantas vacinas, UTIs, respiradores e até oxigênio teríamos disponíveis se esse dinheiro fosse utilizado? Ainda assim, as pequenas ações são fruto de uma pressão de baixo, daqueles que sofrem com a doença, com a perda de amigos e familiares e exigem uma resposta do governo, do outro lado, com medo de uma exploção uma parte da burguesia também pressiona por ações.
Mas por que Bolsonaro falou tudo o que falou hoje? Ele não se importa com a vida dos trabalhadores? O fato é que antes de pensar nos trabalhadores, Bolsonaro pensa em quem o financiou e age em defesa de sua própria classe: a burguesia. Essa declaração é uma resposta à maior exigência que surge nesse momento crítico do avanço da pandemia no país: a necessidade de um lockdown. O que impactará diretamente no lucro dos patrões.
Quando especialistas e jornalistas falam que o lockdown irá afetar a vida dos mais pobres, eles esquecem de dizer que é porque os patrões não irão arcar com os custos do fechamento da indústria e do comércio. A burguesia pressiona por “ações”, mas não aceitam o lockdown porque essa é uma ação que impacta o bolso dos patrões. Bolsonaro afirmou no mesmo discurso que “vamos combater o vírus, mas não de forma ignorante, burra, suicida”. O que ele fez na verdade, foi uma breve descrição da atuação do próprio governo durante a pandemia.
Governadores e prefeitos estão com Bolsonaro
Nos estados não faltam governadores falando em defesa da população. Podemos até ouvir frases como “defesa da vida” e críticas ao governo federal. No entanto, o que todos os governadores e prefeitos do país estão fazendo é seguir a cartilha do presidente da República. Não podemos nos iludir com João Doria (PSDB) e sua corja que decreta um “lockdown” que não fecha escolas, fábricas nem igrejas. Doria chegou ao absurdo de encaixar as igrejas nos serviços essenciais, deixando evidente que ele está comprometido não com aqueles que frequentam cultos e missas, mas com quem enriquece com essas atividades.
Em Santa Catarina, o governador Carlos Moisés (PSL), aprovou um decreto de “lockdown” aos finais de semana, motivo inclusive de chacota da população, pois nos dias úteis os ônibus e terminais seguem lotados contaminando trabalhadores e estudantes. As escolas estaduais e municipais de SC seguem abertas enquanto as UTIs das principais cidades já estão colapsando. Nem mesmo a exigência de que o transporte público fosse ampliado para que não houvesse aglomeração está no decreto, pelo contrário, a ordem é diminui a frota e deixa o trabalhador do lado de fora em filas intermináveis.
Em estados como Pernambuco, Mato Grosso, entre outros, se analisarmos com base nos decretos, aparentemente o vírus é perigoso apenas entre 21 e 5 horas, justo no horário em que quase ninguém circula nas ruas.
A traição das direções
A indignação crescente não respinga apenas nos atuais governantes e representantes da burguesia. Os partidos de “esquerda” também estão precisando se manifestar diante da situação que se agrava. No dia 1º de março, publicamos um artigo sobre a carta de diversos partidos, sindicatos e entidades de Santa Catarina que apresentava uma série de medidas para enfrentar a pandemia, porém que não trataram da responsabilidade das organizações que assinam o documento:
“em nenhum momento o conjunto destas organizações tratam do seu próprio papel na situação. Ignoram sua responsabilidade na luta de classes, vendendo ilusões nas ações que possam ser tomadas espontaneamente pelos governos a serviço do capital.”4
E apontamos:
“é obrigação e responsabilidade da CUT SC e sindicatos que se reivindicam da classe trabalhadora e do socialismo, organizar a paralisação e a greve geral em Santa Catarina”
A Executiva Nacional do PSOL se reuniu no dia 3 de março e publicou a nota “PSOL apresenta 6 propostas para barrar a tragédia no Brasil”5 que segue a mesma linha da nota de SC. Não há uma ação real das direções da classe trabalhadora para combater com os métodos da nossa classe a pandemia e preservar a vida de jovens e trabalhadores. Alguns sindicatos chegam ao ridículo de pedir no Ministério Público para que o Judiciário aceite o lockdown.
Isso porque a “esquerda” as posições apresentadas por Guilherme Boulos. Em sua coluna na Folha de S. Paulo, de 1º de março, Boulos afirmou que “É urgente reunião de lideranças e partidos do campo progressista”6e conclama um “espírito de salvação nacional”. Ele é quase sincero quando diz que é verdade que essa unidade “não resolverá todos os problemas”, mas o fato é que a tal da unidade desse campo não resolverá nenhum problema, pois se trata da proposta de unidade com frações da burguesia, que não quer resolver a situação da classe trabalhadora.
Boulos, no mesmo artigo, também tenta defender a “esquerda”:
“E a oposição? Bem, a oposição luta como pode. Atua no Parlamento e em governos locais para reduzir danos e salvar vidas. Entra na Justiça para frear ilegalidades. Faz barulho nas redes sociais para tentar despertar quem ainda dorme. Não pode, neste momento, convocar multidões às ruas de Pindorama, justamente pelas restrições sanitárias.”
O problema é que os trabalhadores não precisam de uma direção que atue para reduzir danos, que confia na Justiça burguesa ou que faça barulho nas redes sociais. Não precisam de dirigentes que se acovardam e que não convocam multidões às ruas por conta das restrições sanitárias. Não há restrição sanitária para quem enfrenta o transporte público, como pensa Guilherme Boulos. Não há restrição para quem está nas fábricas, nos restaurantes, nas escolas. As restrições sanitárias não são a realidade para milhares de trabalhadores que estão perdendo entes queridos. A única maneira de enfrentar a pandemia no país é com a entrada da classe trabalhadora em cena, parando o país em uma greve geral. São os trabalhadores que podem colocar em prática um verdadeiro lockdown. Não há outra solução.
Os reformistas que querem arrastar o governo Bolsonaro até 2022 para disputar nas urnas estão sujando as mãos com sangue dos milhares mortos todos os dias.
O Brasil pode se tornar um criadouro de novas variantes do coronavírus, mais contagiantes e letais, se continuar seguindo o caminho que seguimos até agora. Bolsonaro disse com todas as letras que está dispostoa seguir firme, “de peito aberto”, no caminho que já condenou 260 mil vidas e pode condenar milhares ou milhões ainda. Estamos falando de um governo que deve ser derrubado agora, não há mais o que esperar.
- Aulas presenciais só com vacina para todos!
- Greve geral em defesa da vida dos trabalhadores e da juventude!
- Abaixo o governo Bolsonaro, por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!
1 https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56250674
3 https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56160026
5 https://psol50.org.br/psol-apresenta-6-propostas-para-barrar-a-tragedia-no-brasil/