O 21º Congresso da Sinistra Classe Rivoluzione, seção italiana da Corrente Marxista Internacional (CMI), aconteceu de 5 a 7 de dezembro. As restrições devidas à pandemia nos obrigaram a mantê-lo online. Longe de impedir um grande número de participantes, estas condições possibilitaram uma afluência excepcional de 94 delegados e cerca de 200 convidados de mais de 40 cidades.
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No primeiro dia, Fred Weston, representando do Secretariado Internacional da CMI, apresentou a discussão sobre as perspectivas mundiais, que também contou com intervenções de 18 delegados, ao lado de uma intervenção em vídeo de Alan Woods, o principal teórico da CMI. Estamos enfrentando a crise mais séria da história do capitalismo, ainda mais profunda e ampla do que a dos anos 1930 (que muitos comparam com a situação atual). O capitalismo já penetrou em todos os cantos do planeta e está em um ponto onde, por não conseguir mais superar suas contradições, é sufocado por elas. O sistema já estava à beira do precipício antes de 2020, qualquer acidente poderia ter desencadeado esta crise tão profunda. O gatilho acabou sendo a pandemia do coronavírus, que hoje se torna cada vez mais um fator político de enorme importância. Este é um exemplo da necessidade sendo expressa por acidente.
Enquanto isso, continua o declínio relativo dos Estados Unidos. A China passou de um fator de estabilidade a um fator de instabilidade. Para continuar crescendo, sua economia explora as fragilidades de outros países capitalistas e se prepara para o surgimento de novos conflitos. O confronto entre a China e os Estados Unidos, conflito fundamental de nosso tempo, está longe de ser resolvido com a eleição de Joe Biden. Em vez disso, o confronto está destinado a se cristalizar sob o governo Biden, com repercussões decisivas na União Europeia: o primeiro candidato a uma coalizão anti-chinesa liderada pelos EUA.
A euforia com a realização do fundo de recuperação está temporariamente encobrindo as contradições que afetam a Europa (que, no entanto, já começam a aparecer por baixo das ilusões superficiais de um possível passo em frente na construção de uma política europeia comum). Os Estados intervêm maciçamente na economia, acumulando dívidas em todos os níveis. A ideia de poder saldar essas dívidas com um rápido crescimento após o fim da emergência revela-se pura utopia diante dos dados, que indicam um bloqueio substancial dos investimentos e um colapso gigantesco da produtividade. Outra bomba se prepara para explodir em torno da questão do Brexit, contra a qual a burguesia europeia bate a cabeça desde o fatídico referendo de junho de 2016. A perspectiva de se realizar sem nenhum acordo está longe de ser descartada, o que levanta a perspectiva de um desastre iminente.
Sistema em crise
A burguesia está perdendo o controle das ferramentas que usava para controlar o sistema. Seus partidos tradicionais no poder estão dando lugar a novos partidos e movimentos que romperam a crosta de estabilidade que deu asas à classe dominante para impor sua vontade durante décadas. Personagens como Trump, Bolsonaro e Boris Johnson, por um lado, e Jeremy Corbyn e Bernie Sanders por outro, alarmaram a burguesia em todo o mundo. A eleição de Biden e a tentativa de retomar o controle do Partido Trabalhista por meio da liderança de Keir Starmer permitem que respirem aliviados. Mas, na verdade, o período que se abre diante de nós é de luta de classes e levantes revolucionários! Já vimos isso antes da pandemia, com as lutas na Nigéria, as greves gigantescas na Índia, os movimentos de caráter insurrecional na América Latina e no Oriente Médio… Em meio à emergência sanitária, o inspirador movimento Black Lives Matter obrigou o presidente dos Estados Unidos a se refugiar em um bunker sob a Casa Branca. Os manifestantes atearam fogo a uma delegacia de polícia em Minneapolis, com a aprovação da maioria dos americanos. E, mais uma vez, as manifestações em massa na França nos últimos dias em reação à lei de segurança de Macron e ao espancamento brutal de um músico negro pela polícia, demonstram uma coisa fundamental: os episódios que sempre resultaram da barbárie deste sistema hoje emergem em um contexto diferente e geram uma resposta em massa diferente!
No segundo dia, o camarada Alessandro Giardiello abriu a sessão sobre a situação política italiana, da qual participaram 30 outros camaradas. O quadro traçado por Alessandro é o de um “país caindo na pobreza“. Ele descreveu milhões de pessoas vivendo de biscates, trabalhadores despedidos, famílias forçadas a gastar suas economias, renda em colapso e estresse acumulado. Com o fim do congelamento de demissões, veremos um “tsunami de desemprego“. Enquanto isso, a burguesia italiana revela seu caráter parasitário, pedindo tudo e ainda mais (empréstimos, garantias, investimentos não reembolsáveis) e respondendo à crise com uma maior centralização do capital industrial e bancário. Mais uma vez, vemos o processo descrito por Marx de “acumulação de riqueza em um polo e acumulação de miséria (..) no outro”.
A Confederação Geral da Indústria Italiana (Confindustria) elegeu Carlo Bonomi como seu presidente, por unanimidade, para lançar um forte ataque à classe trabalhadora. No entanto, a tentativa da burguesia italiana de cerrar fileiras está se mostrando ineficaz. As divisões dentro da classe dominante são, em última análise, o resultado do profundo medo de uma resposta massiva da classe trabalhadora. As lições das greves de março, que forçaram o governo a interromper a maior parte da produção não essencial, não são facilmente esquecidas. O governo encontra-se em situação de extrema precariedade e tenta consertar as relações com as burocracias sindicais. Mas os trabalhadores não acreditam mais neste governo e a crise de autoridade das burocracias sindicais está bem estabelecida. O clima de unidade nacional que reinou em março é coisa do passado.
Após a crise de 2008, o enorme acúmulo de raiva encontrou um canal no nível eleitoral: as esperanças de muitos foram colocadas no Movimento Cinco Estrelas. Hoje a situação é completamente diferente: as promessas e ilusões semeadas pelo Movimento foram quebradas no teste de governo. Já testemunhamos várias lutas importantes durante o outono (metalúrgicos, trabalhadores das indústrias culturais, trabalhadores de entregas) e novos setores estão começando a se mover: os trabalhadores jovens estão começando a se organizar. O principal ponto que surgiu da discussão é que uma grande retomada da luta de classes está sendo preparada em nosso país.
Falta, mais uma vez, um partido que represente a expressão organizada da classe trabalhadora italiana e que mantenha com ela relações autênticas. No entanto, isso também significa que não existe mais um partido reformista que possa conter a raiva dos trabalhadores e direcioná-la para “canais seguros”. A burguesia carece de tal partido, o que dificilmente lhe é tranquilizador.
Neste contexto, apelamos diretamente aos trabalhadores: em julho lançamos nossa plataforma alternativa “Giornate di marzo” (Dias de Março) dentro da CGIL, para organizar aquelas camadas de nossa classe que veem hoje a necessidade de uma batalha política em larga escala contra este sistema. O congresso incluiu uma comissão sindical, com a participação de dezenas de nossos militantes sindicais e trabalhadores, para fazer um balanço da luta de classes no país e se preparar para os conflitos futuros.
Ao mesmo tempo, vemos a radicalização crescendo também entre os estudantes. Este é um processo que começou nos últimos anos e tem se expressado fortemente no movimento Fridays for Future contra as alterações climáticas. Uma geração inteira de estudantes entende que este sistema não tem nada a oferecer. A total inépcia utilizada para fechar as escolas só confirma essa avaliação. Até o momento, a perspectiva de reabertura das escolas em janeiro ainda não foi confirmada. Mas uma coisa é certa: reabrirão nas mesmas condições em que foram fechadas, nada de substancial tendo sido feito para garantir um retorno seguro às aulas.
Nossos jovens camaradas construíram uma plataforma em torno do slogan “Alziamo la testa” (Elevando nossos pontos de vista) para dirigir esses alunos através de um programa definido de luta e de uma proposta para construir sindicatos/organizações estudantis em cada escola. Uma avaliação deste trabalho e a logística da nossa futura intervenção foram discutidas numa comissão especial de jovens do Congresso.
A CMI avança!
Nesse contexto excepcional, a Corrente Marxista Internacional viu um grande crescimento de sua base ativista. De abril a setembro, contamos com 550 novos camaradas em todo o mundo. Consideramos este desenvolvimento apenas o começo do enorme potencial aberto pela mudança de consciência que afeta a tantos jovens e trabalhadores. Este crescimento também foi registrado na seção italiana da CMI e é o resultado de um processo de despertar político, ao qual respondemos com uma perspectiva de organização e luta com base nos princípios atemporais do marxismo. Uma Internacional com nossas perspectivas e orientação, temos a convicção, saberá aproveitar as novas oportunidades e enfrentar os desafios do futuro. Numerosas secções da CMI enviaram vídeo-saudações ao nosso Congresso, que podem ser vistas aqui.
A construção da CMI foi o ponto central da agenda do terceiro dia do Congresso, onde fizeram uso da palavra 32 delegados. Conseguimos manter um alto nível de atividade política durante todos os meses da emergência sanitária, com ações regulares online que nos permitiram entrar em contato com muitas pessoas de áreas onde antes não tínhamos presença. Hoje, temos o início de uma presença organizada em novas regiões como a Toscana, Veneto e Puglia; bem como em uma província fortemente afetada pela Covid-19, Bérgamo, e no Cantão de Ticino. Um dos trabalhos que estamos realizando e que trará resultados cada vez maiores no futuro!
Em futuro próximo, nossa editora AC Editoriale lançará uma nova edição em italiano de Lenin e Trotsky: O que eles realmente defenderam, de Alan Woods e Ted Grant, que responde com efetividade a algumas das falsas concepções apresentadas pelos detratores dos dois grandes revolucionários russos, lançando luz sobre suas ideias e sua atividade revolucionária. Também homenagearemos o aniversário de 100 anos do nascimento do Partido Comunista da Itália. Em janeiro, realizaremos um seminário nacional, aproveitando a oportunidade para analisar as tradições revolucionárias dos trabalhadores de nosso país, os erros e traições das lideranças socialistas, o amadurecimento e depois o surgimento de uma corrente autenticamente comunista dentro do antigo partido reformista, até a formação do novo partido vinculado à Terceira Internacional.
Também organizaremos uma conferência nacional sobre a luta das mulheres, a ser realizada de 6 a 7 de março, em resposta à emergência de saúde e à devastadora crise econômica que afetou as mulheres de forma especialmente severa. Cuidar dos filhos, aumentar a carga de trabalho e perder empregos, apesar dos limites das dispensas, recaem principalmente sobre os ombros das mulheres trabalhadoras. Soma-se a isso o aumento da violência e do assassitato de mulheres, principalmente dentro do lar, devido à coexistência forçada imposta pelas medidas de bloqueio. E, novamente, acreditamos que é necessário responder de forma decisiva à campanha reacionária que vem sendo travada há anos contra a liberdade sexual das mulheres e seu direito de interromper a gravidez.
Este é um ótimo momento para ser um revolucionário. Setores cada vez maiores de jovens e trabalhadores estão buscando as ideias do marxismo, e nossa organização estará pronta para recebê-los. O que nos move é a fé em nossas ideias e nossa profunda confiança na classe trabalhadora: a única classe verdadeiramente revolucionária!