A burguesia brasileira decidiu que é hora de retomar o governo diretamente. Não quer mais um governo terceirizado. A burguesia sempre prefere seu próprio governo. Por isso se viu, em 13/03, a Frente Única da burguesia convocando as manifestações. Todas as grandes empresas, as federações e confederações, todos os órgãos de imprensa burguesa organizando e convocando as manifestações, enfim, quase todas as forças da reação juntando forças e confluindo para forçar o governo a renunciar ou para a aprovação do Impeachment.
Como se chegou aqui?
Lula e Dilma, a direção do PT provocaram uma espantosamente rápida ruptura da base histórica e social do PT com o governo, que agora não tem mais que 10% de apoio. O PT e seu governo afundam num mar de lama poucas vezes visto na história.
A vingança da burguesia, que um dia tremeu frente ao PT, é terrível. A direção do PT e Lula acreditam tanto no capitalismo e na democracia burguesa bastarda que confiaram cegamente que podiam usar os mesmos métodos que a burguesia sempre usou impunemente. Afinal, a burguesia não sai praticamente incólume de toda a corrupção que sempre praticou? E que atingiu níveis sem precedentes com Collor e FHC, por exemplo?
Enquanto a direção do PT e Lula afundavam na podridão burguesa, nas políticas de enriquecimento e salvação dos capitalistas, tentando passar por “pares entre os pares”, a burguesia e seu Comitê Central, o aparelho de Estado, preparavam o dossiê criminal para perde-los.
A sanha burguesa que hora se vê nas manifestações da direita foi preparada pela covardia política da direção do PT e sua defesa das instituições, seus ataques à classe trabalhadora e à juventude.
No momento em que se desmoralizou frente às vanguardas operárias e juvenis preparou sua derrocada frente às massas. E a direita, então, insufla seus cachorros loucos e os piores traços da alta pequena burguesia de direita e desesperados de vários matizes, vem à tona.
A condução coercitiva absurda de Lula, a operação de divulgação do grampo telefônico da presidente do país, de Lula (inclusive de telefonemas pessoais familiares, e grampeando seu advogado, o que a lei proíbe) pelo juiz fora da lei, mas com partido, Sérgio Moro, e o anúncio da nomeação de Lula para a Casa Civil foram os fatos que precipitaram a crise política existente.
Mas, nas manifestações de direita não compareceram as massas que podem mudar para melhor esse país. Em 13/03, o perfil dos manifestantes era predominantemente da alta e média pequena-burguesia convocada pelo capital. Eles reuniram aí a “sua gente”, incluídos uma minoria de carecas, racistas em geral, apoiadores da ditadura, etc. O ponto de encontro e palanque foi a FIESP. E isso já diz tudo.
Mas, mesmo a maioria aí correu com os dirigentes da oposição de direita das manifestações. O sentimento que cresce é de que nem PT, nem PSDB, os representam. Por isso cresce a ideia de “Viva Sérgio Moro” o “Mãos Limpas”, do Brasil. Operação autoritária e despolitizada que na Itália acabou em Berlusconi.
O significado do dia 18 de março
As manifestações do dia 18 mostraram a disposição de luta que existe contra a direita, de luta contra arbitrariedades e contra os ataques às liberdades democráticas.
Se com as manifestações do dia 18 de março, Lula e a direção do PT pensam que "reconquistaram as massas" estão redondamente enganados. Já há algum tempo vivem no mundo da lua. Vivem o clima da noite do "Baile da Ilha Fiscal"!
O sentimento que reuniu a maioria no dia 18 foi quase o mesmo que reagrupou a maioria no 2º Turno contra Aécio: Barrar a direita, mesmo tendo que "usar" o voto em Dilma para isso.
Em 2014, e agora, Dilma e Lula traíram o sentimento popular. Em 2014, dando posse a um "Ministério Aécio" com Levy, Kátia Abreu, Monteiro e tutti quanti. Agora anunciando mais privatizações, sancionando a Lei Antiterrorismo e congelamento de salários, reforma da Previdência, etc., etc.
O que precisamos é de um governo que corte o financiamento público dos jornais burgueses, que casse a licença de serviço público que tem a Rede Globo, Band, Record, e todas as redes de TV e rádio Brasil a fora. Conceda TV e rádio para as organizações sindicais, populares, legalize todas as rádios comunitárias. Que estatize os bancos, faça a reforma agrária, anule as reformas da previdência, cancele o pagamento das Dívidas Interna e Externa. Esta são medidas de saneamento básico para começar a conversa!
Mas, estas manifestações também mostraram que o aparato do PT, da CUT, do MST, PCdoB, CTB, UNE, UBES, mostrou que ainda tem forças, particularmente os sindicatos e os movimentos sociais.
O que só ressalta e torna mais evidente seu caráter traidor ao se negar permanentemente a convocar as verdadeiras lutas para barrar o Ajuste Fiscal e todos os ataques contra conquistas e direitos. Ao contrário, estes dirigentes apoiam as medidas do governo como mostraram com o PPE, deixando passar em silêncio a entrega do Pré-Sal, o desmonte da Petrobrás, o PLS 555 que inicia a privatização de todas as Estatais, ou a sanção da Lei Antiterrorismo.
As massas reunidas no dia 18 gritavam majoritariamente contra a direita, contra o “golpe”, porque sentem que a fúria contra o governo, Lula e o PT é só a máscara burguesa para o ataque contra as liberdades democráticas, para o avanço em direção a um estado totalitário onde uma burocracia que não foi eleita governe de fato, através do judiciário e da polícia. Afinal, o juiz Sérgio Moro e os ministros do STF, Gilmar Mendes e Luiz Fux não decidiram quem pode ou não ser ministro?!
Também não há dúvidas que Lula e os dirigentes do PT sabem utilizar e manipular este sentimento clamando contra um “golpe que ameaça a democracia” como se estivesse em curso uma espécie de golpe militar ou totalitário. Quando o que se trata é de um processo de destruição das conquistas e das liberdades democráticas que está em curso com a ajuda e o aval do PT. Afinal, o que é a Lei Antiterrorismo, a repressão do então ministro da justiça José Eduardo Cardozo articulada com todos os governadores, o silencio e aval do governo e de Cardozo contra todas as arbitrariedades da PF?!
Como explicava Lenin em abril de 1917, “...a maioria dos chefes socialdemocratas, dos parlamentares socialdemocratas, dos jornais socialdemocratas – e são precisamente tais órgãos que influenciam as massas – a maioria deles traiu o socialismo, atraiçoou o socialismo e passou para o lado de sua burguesia nacional.
As massas estão confundidas, desorientadas e enganadas por estes chefes”. (Lenin, “As tarefas do proletariado na nossa revolução”).
Se trocarmos chefes socialdemocratas por dirigentes lulistas, parlamentares socialdemocratas por governantes petistas e jornais por internet, etc., etc. Não há diferença de hoje.
E como escreve o mesmo Lenin em seguida “Não importa que muitos operários interpretem honestamente a socialdemocracia. Já é tempo de aprenderem a distinguir o subjetivo do objetivo”.
Ao mesmo tempo em que fixa uma posição de princípio: “3. Nenhum apoio ao Governo Provisório, explicar a completa falsidade de todas as suas promessas, sobretudo a da renúncia às anexações. Desmascaramento, em vez da «exigência» inadmissível e semeadora de ilusões de que este governo, governo de capitalistas, deixe de ser imperialista. ”
Daí deriva uma tática precisa: “4. Reconhecer o facto de que, na maior parte dos Sovietes de deputados operários, o nosso partido está em minoria, e, de momento, numa minoria reduzida, diante do bloco de todos os elementos oportunistas pequeno-burgueses, sujeitos à influência da burguesia e que levam a sua influência para o seio do proletariado, desde os socialistas-populares e os socialistas-revolucionários até ao Comitê de Organização (Tchkheídze, Tseretéli, etc), Steklov, etc.”
...
“Enquanto estivermos em minoria, desenvolveremos um trabalho de crítica e esclarecimento dos erros, defendendo ao mesmo tempo a necessidade de que todo o poder de Estado passe para os Sovietes de deputados operários, a fim de que, sobre a base da experiência, as massas se libertem dos seus erros”.
O mesmo método de Lenin é o que deve ser utilizado hoje. É a mesma tática para realizar os objetivos dos marxistas na presente situação, onde a direita ameaça as liberdades democráticas e as instituições do capital afundam, e os dirigentes petistas anunciam luta contra um “golpe contra o mandato democrático conquistado nas urnas”. Mandato esse que é resultado da fraude política e do estelionato eleitoral em 2014. Nossa tarefa é explicar pacientemente qual a situação, que forças estão em luta, o que cada uma significa e qual a saída para a classe trabalhadora.
“... A Esquerda Marxista, ao mesmo tempo que não apoia o governo e combate sua política, não apoia nenhum impeachment e nem cassação. Nós preferimos que todas estas frações em luta nas cúpulas continuem se paralisando, se digladiando e se desmoralizando politicamente, enquanto os trabalhadores se recompõe do golpe dado pelo PT e obrigam os sindicatos e as organizações populares a se colocar na linha da unidade contra a política de ajuste e em ruptura com o capital, abrindo assim uma saída para a constituição de uma Assembleia Popular Nacional Constituinte, um Governo dos Trabalhadores e a tomada de todas as medidas revolucionárias necessárias contra os capitalistas nativos e internacionais”. (http://www.marxismo.org.br/content/crise-lula-lava-jato-e-impeachment-o-que-se-passa-e-qual-saida)
A tarefa dos marxistas é explicar que a base de fundo desta crise política é a crise econômica mundial, que a política de colaboração de classes de Lula conduziu à crise atual, o que pretende a burguesia com a Operação Lava Jato, que acoberta a guerra civil contra o proletariado iniciada pelo capital internacional e local, que a política traidora de Lula e do governo só vai piorar a situação e que é preciso barrar a direita organizando e mobilizando as forças do proletariado contra todos os ataques promovidos pelo governo Dilma, pelo Congresso e pelo Judiciário.
Repetimos: Só uma política independente, colocando bem alto as reivindicações e a necessidade de uma Assembleia Popular Nacional Constituinte, por um governo dos Trabalhadores pode abrir uma saída positiva para o povo trabalhador. Só uma revolução pode pôr fim a estas instituições podres e atender as reivindicações mais sentidas do povo. Só a mobilização e organização desta “terceira força” entrando decididamente na luta pode romper o ciclo desta falsa polarização entre PT e PSDB. A polarização que se vê é a luta de classes entre o proletariado e a burguesia e seus serviçais.
Dois Atos e um combate
Os Atos do dia 24/03, convocados pela Frente do Povo Sem Medo, dizem na convocatória “Por isso não temos disposição de ir às ruas em defesa deste governo. Mas também não ficaremos calados e acovardados ante as ameaças ao que temos de democracia no Brasil. O ataque não é somente contra o PT. É contra o que quer que seja de esquerda neste país. Querem aniquilar o movimento social. Querem impor um ambiente de intolerância e linchamento, onde não há espaço para o pensamento e a ação críticos. A solução que a direita brasileira propõe representa ainda o aprofundamento dos ataques a direitos sociais e trabalhistas”. (https://www.facebook.com/events/965261440232144/)
Apesar desta afirmação verdadeira, a convocatória escorrega em direção à uma política que não é a fundadora da FPSM (baseada na luta contra o ajuste) ao convocar “Em Defesa da Democracia” e para defender contra a “ameaça à nossa já frágil e limitada democracia”, como se estivéssemos frente a um golpe de fechamento do Congresso ou de um golpe militar, etc.
Isso é fruto direto das pressões das manifestações do dia 18, dos aparatos do PT e das ilusões em Lula, assim como do pânico frente à gritaria e ação da oposição de direita. No passado já vimos isso muitas vezes. Era a velha política do PCB e do PCdoB nos anos passados gritando “Fascismo! Fascismo! ”, para conduzir as massas a apoiar os “setores democráticos da burguesia”, os “progressistas”, a “Democracia”.
Com este deslize a convocatória apesar de condenar a Lava Jato afirma “Defendemos que a corrupção seja investigada até as últimas consequências. Mas para todos e com as garantias previstas na lei”. Que lei, companheiros?! Quais garantias previstas na lei?!
As que inocentaram Collor?! As que garantiram a Maluf uma vida de impunidade?! As que escondem FHC e seus consortes?! As que inocentaram Azeredo e condenou Zé Dirceu? Quais garantias?!
“Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a lei! ”
Sim, porque a lei tem classe social. É sempre de uma classe para garantir sua dominação sobre outra. A burguesia tenta governar pelo engano, a demagogia, as mentiras e promessas, quando não funciona mais ela usa a Lei. E se nem assim põe ordem na casa, então vem o general e o capitão com a espada na mão e olhos esbugalhados.
Só a estatização da economia e seu controle pelos trabalhadores pode investigar “todos” e terminar com a corrupção. Aliás, o Senado acaba de aprovar o PLS 555 que proíbe a eleição de sindicalistas para o Conselho das Estatais!
De toda forma, a convocatória também afirma corretamente que “É preciso também fazer uma diferenciação: uma coisa é enfrentar esta ofensiva antidemocrática, outra é defender este governo. Entendemos que as políticas assumidas pelo Governo Dilma são indefensáveis”. Depois diz “Além disso, os governos petistas chocaram o ovo da serpente”... e “Por isso não temos disposição de ir às ruas em defesa deste governo” ou “O ataque não é somente contra o PT. É contra o que quer que seja de esquerda neste país. Querem aniquilar o movimento social”.
A Esquerda Marxista, como membro da FPSM, estará nos Atos do dia 24/03, levantando alto as bandeiras independentes dos trabalhadores e a luta em defesa das liberdades democráticas, pelo socialismo.
Dia 31/03, duas políticas vão se chocar
A Marcha a Brasília que ocorrerá no dia 31/03, foi convocada de forma unitária pela Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular, sobre a base do combate contra toda a pauta reacionária do Congresso e do governo federal. Eis o que diz muito corretamente:
“Os eixos da mobilização unitária são os seguintes:
- CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA
- CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA PETROBRÁS
- EM DEFESA DO PRÉ-SAL
- NÃO A LEI ANTI-TERRORISMO
- CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
- NÃO AO AJUSTE FISCAL E AOS CORTES NOS INVESTIMENTOS SOCIAIS
- EM DEFESA DO EMPREGO E DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES
- FORA CUNHA!
- CONTRA O IMPEACHMENT
(http://cut.org.br/acao/31-03-dia-nacional-de-mobilizacao-f706/)
Mas, é evidente que duas políticas vão se chocar aí. Como podem os defensores do governo (PT, PCdoB, direção da CUT, CTB), se manifestar com estas bandeiras e mobilizar os trabalhadores com uma pauta que é um enfrentamento direto com Dilma?
E como podem os defensores desta pauta (o MTST, A Esquerda Marxista, MES, Insurgência, PCB, etc.) defender estas bandeiras da convocatória, e é o que vão fazer, sem enfrentar diretamente o governo?
São duas políticas inconciliáveis. É por isso que o aparato do PT estava, até o dia 18, convocando os dois Atos, dia 18 e dia 31/03, “Em defesa da Democracia”. Após o dia 18 sumiu a convocatória do dia 31/03 do site da CUT e do PT. Sumiu também do site do PCdoB. No site da CTB se sabe que “No dia 31 de março, marcha rumo a Brasília sairá em defesa da democracia e contra o impeachment” e as palavras de ordem são:
- Contra o impeachment
- Contra a Reforma da Previdência
- Não ao ajuste fiscal e aos cortes em investimentos sociais
- Em defesa do emprego e dos direitos dos trabalhadores
- Fora Cunha!
Ou seja, outra pauta.
A Esquerda Marxista orienta todos seus militantes, ativistas e apoiadores a se engajarem firmes na Marcha a Brasília do dia 31/03/2016, levantando bem alto as bandeiras da convocatória original da Marcha, assim como suas próprias bandeiras políticas, que abrem um caminho para derrotar a oposição de direita e todos seus objetivos, o Judiciário totalitário e o Governo do capital, agora dirigido por Dilma e Lula diretamente.
- Defesa da independência de classe! Em defesa das reivindicações, direitos e conquistas!
- Defesa das liberdades democráticas! Fora Sérgio Moro e a Lei Antiterrorismo!
- Organizar para mobilizar e varrer este Congresso de corruptos!
- Não pagamento da Dívida Interna e Externa! Abaixo os Cortes e as privatizações!
- Assembleia Popular Nacional Constituinte! Por um Governo dos Trabalhadores!